Versos do Natal
Cármen Cinira
Enquanto a glória do
Natal se expande
Na alegria que explode e
tumultua,
Lembra o Divino Amigo,
além, na rua...
E repara a miséria
escura e grande.
Aqui, reina o Palácio do
Capricho
Que a louvores e júbilos
se entrega,
Onde a prece ao Senhor é
surda e cega
E onde o pão apodrece
sobre o lixo.
Ali, ergue-se a Casa da
Ventura,
Que guarda a fé por
fúlgido tesouro,
Onde a imagem do Cristo,
em prata e ouro,
Dorme trancada em
cárceres de usura.
Além, é o Ninho da
Felicidade
Que recorda Belém,
cantando à mesa,
Mas, de portas cerradas
à tristeza
Dos que choram de dor e
de saudade.
Mais além clamam sinos
com voz pura:
- “Jesus nasceu!” – É o
Templo dos Felizes
Que não se voltam para
as cicatrizes...
Dos que gemem nas chagas
de amargura...
Adiante, o Presépio
erguido em trono
Louva o Rei Pequenino e
Solitário,
Olvidando os herdeiros
do Calvário
Sobre as cinzas dos
catres de abandono.
De quando em quando, o
Mestre, em companhia
Daqueles que padecem
sede e fome,
Bate ao portal que lhe
relembra o nome,
Mas em respostas
encontra a noite fria.
E quem contemple a Terra
que se ufana,
Ante o doce esplendor do
Eterno Amigo,
Divisará, de novo, o
quadro antigo:
- Cristo esmolando asilo
na alma humana.
Natal!... O mundo é todo
um lar festivo!...
Claros guizos no ar
vibram em bando...
E Jesus continua
procurando
A humildade manjedoura
do amor vivo.
Natal! Eis a Divina
Redenção!...
Regozija-te e canta
renovação,
Mas não negues ao Mestre
desprezado
A estalagem do próprio
coração.
Do livro Antologia
Mediúnica do Natal,
obra psicografada pelo
médium Francisco Cândido
Xavier.
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