Em carta publicada nesta
mesma edição, o leitor
Reinaldo Cantanhêde Lima
pergunta-nos:
Se as dificuldades por que
passamos podem ser em razão
de dívidas passadas, é
correto estarmos querendo e
fazendo por onde minorar
tais dificuldades?
Toda vez que examinamos o
tema provas e expiações
vêm-nos à lembrança dois
ensinamentos que colhemos na
obra de Allan Kardec:
1. Nem sempre a prova
constitui uma expiação, mas
toda expiação serve como
prova.
2. Diante dos sofrimentos e
das vicissitudes que
acometem uma pessoa, nem
sempre é possível saber se
se trata de prova ou de
expiação.
Tendo em mente as
informações acima, não
existe dúvida nenhuma na
resposta a ser dada à
pergunta formulada pelo
leitor: Sim, é correto
querer e buscar meios com
que nossas dificuldades
sejam amenizadas e vencidas.
É trabalhando com esse
objetivo que progredimos e
superamos as vicissitudes
que encontramos ao longo do
caminho.
Em mensagens constantes dos
itens 26 e 27 do cap. V d´O
Evangelho segundo o
Espiritismo, dois
benfeitores espirituais
reportaram-se ao assunto.
A primeira mensagem
inicia-se assim:
“Perguntais se é licito ao
homem abrandar suas próprias
provas. Essa questão
equivale a esta outra: É
lícito, àquele que se afoga,
cuidar de salvar-se? Aquele
em quem um espinho entrou,
retirá-lo? Ao que está
doente, chamar o médico?”
Respondendo às próprias
indagações, escreveu o amigo
espiritual:
“As provas têm por fim
exercitar a inteligência,
tanto quanto a paciência e a
resignação. Pode dar-se que
um homem nasça em posição
penosa e difícil,
precisamente para se ver
obrigado a procurar meios de
vencer as dificuldades. O
mérito consiste em sofrer,
sem murmurar, as
consequências dos males que
lhe não seja possível
evitar, em perseverar na
luta, em não se desesperar,
se não é bem-sucedido;
nunca, porém, numa
negligência que seria mais
preguiça do que virtude.”
(O Evangelho segundo o
Espiritismo, cap. V, item
26.)
A segunda mensagem trata das
provas enfrentadas pelo
próximo e dela extraímos um
ensinamento que corrobora o
que acima acabamos de ler:
“Pensam alguns que,
estando-se na Terra para
expiar, cumpre que as provas
sigam seu curso. Outros há,
mesmo, que vão até ao ponto
de julgar que, não só nada
devem fazer para as atenuar,
mas que, ao contrário, devem
contribuir para que elas
sejam mais proveitosas,
tornando-as mais vivas.
Grande erro. É certo que as
vossas provas têm de seguir
o curso que lhes traçou
Deus; dar-se-á, porém,
conheçais esse curso? Sabeis
até onde têm elas de ir e se
o vosso Pai misericordioso
não terá dito ao sofrimento
de tal ou tal dos vossos
irmãos: ‘Não irás mais
longe?’ Sabeis se a
Providência não vos
escolheu, não como
instrumento de suplício para
agravar os sofrimentos do
culpado, mas como o bálsamo
da consolação para fazer
cicatrizar as chagas que a
sua justiça abrira? Não
digais, pois, quando virdes
atingido um dos vossos
irmãos: ‘É a justiça de
Deus, importa que siga o seu
curso’. Dizei antes:
‘Vejamos que meios o Pai
misericordioso me pôs ao
alcance para suavizar o
sofrimento do meu irmão.
Vejamos se as minhas
consolações morais, o meu
amparo material ou meus
conselhos poderão ajudá-lo a
vencer essa prova com mais
energia, paciência e
resignação. Vejamos mesmo se
Deus não me pôs nas mãos os
meios de fazer que cesse
esse sofrimento; se não me
deu a mim, também como
prova, como expiação talvez,
deter o mal e substituí-lo
pela paz’.
Ajudai-vos, pois, sempre,
mutuamente, nas vossas
respectivas provações e
nunca vos considereis
instrumentos de tortura.
Contra essa ideia deve
revoltar-se todo homem de
coração, principalmente todo
espírita, porquanto este,
melhor do que qualquer
outro, deve compreender a
extensão infinita da bondade
de Deus. Deve o espírita
estar compenetrado de que a
sua vida toda tem de ser um
ato de amor e de
devotamento; que, faça ele o
que fizer para se opor às
decisões do Senhor, estas se
cumprirão. Pode, portanto,
sem receio, empregar todos
os esforços por atenuar o
amargor da expiação, certo,
porém, de que só a Deus cabe
detê-la ou prolongá-la,
conforme julgar
conveniente.” (Obra
citada, cap. V, item 27.)
Esperamos que, em face de
explicações tão claras, não
reste nenhuma dúvida com
relação ao assunto ora
tratado.
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