MARCUS VINICIUS
DE AZEVEDO BRAGA
acervobraga@gmail.com
Rio de Janeiro,
RJ (Brasil)
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Obsessão: nem
tudo que
reluz é
ouro
O Canal de TV
por assinatura
“Viva” estreou
recentemente a
série “Meu amigo
encosto”, uma
comédia que
explora a
cultura popular
de se associar
problemas
pessoais a ações
de Espíritos,
aproveitando-se
dessa vertente
espiritualista
latente na nossa
terra.
A despeito da
adesão pelo
tema, estampada
nas diversas
explorações
comerciais da
temática,
tratada na série
televisiva por
um especialista,
o “encostologista”,
a Doutrina
espírita, ainda
que muitos
pensem de forma
diversa, não
comunga dessa
visão
“encostologista”
da ação dos
Espíritos ditos
obsessores.
Para o
Espiritismo, as
nossas agruras
têm a sua origem
em causas
presentes e
passadas, e a
atuação do
Espírito é mera
consequência,
sem esquecer a
memorável lição
do codificador
de que os
Espíritos são,
nada mais, nada
menos, do que as
almas dos
homens, em outro
plano de
existência.
Nesse sentido, O
Evangelho
segundo o
Espiritismo, no
seu Capítulo
XII, assevera de
forma límpida:
“Antigamente,
para apaziguar
os deuses
infernais,
depois chamados
demônios, mas
que não passavam
de Espíritos
maus,
sacrificavam-se
animais e até
pessoas. O
Espiritismo vem
provar que esses
demônios são
apenas almas de
homens perversos
que ainda não se
livraram dos
instintos
materiais, e que
somente se pode
pacificá-los
sacrificando-se
o ódio que
possuem, por
meio da
caridade; que a
caridade não tem
apenas o efeito
de impedi-los de
fazer o mal, mas
também de
conduzi-los ao
caminho do bem e
contribuir para
sua salvação. É
assim que o
ensinamento de
Jesus ‘Amai os
vossos inimigos’
não está
unicamente
limitado ao
Planeta Terra e
à vida presente,
mas inclui
também a grande
lei de
solidariedade e
fraternidade
universais”.
Assim, não faz
sentido essa
visão
persecutória em
relação aos
Espíritos
desencarnados,
convertida,
muitas vezes, em
paranoias,
alimentadas pelo
pânico e que
conduzem a
criatura, por
vezes, a ser
vítima da
extorsão, da
exploração de
seus receios e
medos, por
serviços de
eliminação ou
banimento desses
pretensos
Espíritos
malignos, à
feição de
tratamentos
dados a
parasitas.
No Espiritismo,
a visão é do
“Espírito
sofredor”, filho
de Deus como
nós, e essas
abordagens
coisificadoras
desses Espíritos
merecem de nós
uma profunda
reflexão em
relação ao
próximo, a lei
de causa e
efeito e o
primado do amor
contido em nossa
doutrina.
O assunto da
Obsessão é
tratado,
inicialmente, na
obra
kardequiana, n’
O Livro dos
Médiuns e n’ A
Gênese, definida
como a “ação
persistente de
um Espírito
sobre o outro”,
dividida pelo
codificador em
três tipos:
Obsessão
simples,
fascinação e
subjugação, não
se tratando, nem
de longe, de uma
exclusividade
espírita, dado
que a história é
farta de
processos dessa
natureza.
Trata-se de uma
relação entre
Espíritos –
construída e
desconstruída –
em processos
gradativos,
alimentados pela
invigilância e
pautados no
ódio, na
vingança e na
inimizade,
forças
poderosas. Para
a sua extinção,
cabe a letra
evangélica do
amor aos
inimigos, da
outra face e
ainda, do amor
que cobre a
multidão de
pecados e do
perdão que
liberta as
almas, pelas
vias da
reparação.
Relações
complexas que
não se resolvem
de forma
simples, com
fórmulas mágicas
ou soluções
imediatistas. Só
o contato que
cicatriza as
feridas pode
trazer avanços,
no exercício do
amor, na
reconstrução de
relações.
Coisificar,
expulsar,
amarrar o
Espírito são
visões
paliativas de um
problema que não
tem a sua sede
na mediunidade e
sim nas relações
e nos
sentimentos.
Obviamente, a
casa espírita
pode ajudar
nesse processo,
na chamada
profilaxia da
obsessão.
Entretanto,
ainda que essa
ofereça os
passes que
reequilibram, a
prece, a
palestra e as
reuniões de
atendimento,
faz-se
necessário focar
no encarnado, na
sua renovação
íntima que
convença a nuvem
de testemunhas
da mudança
daquele
Espírito, na
visão de que as
palavras
convencem, mas
os exemplos
arrastam.
Da mesma forma,
no trato da
obsessão,
devemos ter zelo
na sua
associação à
doença mental,
não dispensando
a atuação médica
em hipótese
nenhuma, sem
descuidar do
poderoso aliado
contido na
terapêutica
espírita.
Como visto,
adensando-se no
paradigma
espírita,
fundamentado na
codificação
kardequiana e
nas obras
complementares
que tratam com
seriedade essa
questão, no que
tange à
obsessão, “nem
tudo que reluz é
ouro”, em
discurso no qual
nos enganamos
entre vítimas e
algozes,
querendo
ressuscitar o
“céu e o
inferno” ou
“anjos e
demônios”,
esquecendo-nos
que nas aulas da
vida, pautadas
pela Lei de
causa e efeito,
não temos
inocentes, temos
apenas causas
anteriores e
presentes, e que
o importante é a
percepção que a
hora é agora de
diminuir os
débitos e de
resgatar
dívidas.
Não existe
mágica! O
Espírito
sofredor que
supostamente nos
persegue está
ligado por
forças
poderosas, laços
afetivos de
vidas passadas,
de feridas que
não fecharam e
que nos conduzem
à reparação nos
bancos escolares
da reencarnação.
Como na alegoria
do evangelho, do
pastor que sai
para buscar uma
única ovelha,
tenhamos em
mente que Deus
se preocupa
conosco e com
ele também.
Aquele que
chamamos de
perseguidor,
inimigo
invisível,
obsessor, e que
pedimos
contritos que
seja afastado
pelos amigos
espirituais,
Deus vê apenas
como mais um de
seus filhos,
afastado da luz.