CHRISTINA NUNES
cfqsda@yahoo.com.br
Rio de Janeiro,
RJ (Brasil)
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Lembrando o
Natal
Com alguns dias
de folga, no
final de ano,
foquei
completamente na
família, e, com
meus dois
filhos, corri
para o shopping,
como de praxe. A
poucos dias do
Natal não havia
comprado quase
nada das
lembranças para
pessoas
queridas, e
também queria ir
ao cinema para
algum lazer e
escapismo, a fim
de inaugurar
oficialmente
meus dois olhos
novos, após duas
cirurgias de
catarata em
2014.
Poucas horas
depois, cumprida
nossa
programação
divertida e algo
tumultuada, lá
estávamos na
extensa fila do
táxi, quando se
aproxima o
homenzinho
esquálido, caixa
de bombons
aberta na mão,
com o discurso
tantas outras
vezes
presenciado por
todos nós em
situação
semelhante:
- Por favor,
é só uma ajuda.
Quero ganhar um
dinheiro
honesto!...
E prosseguia,
inutilmente, na
sua cantilena,
debaixo do sol
escaldante do
fim de tarde no
Rio de Janeiro,
diante da
indiferença
solene daquelas
inúmeras pessoas
que, feitas suas
compras
natalinas, não
se mostravam
muito dispostas
a dar atenção
ou, talvez, dar
crédito ao
rosário de
lamúrias que o
homenzinho de
uma magreza
doentia
desfiava,
narrando
dificuldades e
suplicando
praticamente que
o auxiliássemos
com a compra de
um bombom que
fosse!
"Ensinar a
pescar e não dar
o peixe..." -
Ocorria-me, ao
mesmo tempo em
que me consumia
a agonia íntima
com a situação
precária daquele
infeliz, o
ditado
"politicamente
correto" para
muitos, em total
contraposição ao
que me compelia
a minha
consciência!
Dane-se o
"politicamente
correto". Sua
alma sua palma!
Contrapus,
sentenciando,
por fim, a mim
mesma, e
experimentando
imediato alívio.
"O que motiva o
homem é com ele!
Não me interessa
se vai de fato
usar este
dinheiro com a
fome ou com a
cachaça;
interessa-me
que, se for
mesmo com a
fome, para um
miserável desse,
o que ajuda é
auxílio
imediato, não
elaboração
filosófica que,
antes, parece
mais ter sido
criada para
justificar a
usura de muitos,
porque não
se pode
engarrafar todas
as situações
numa mesma
forma!"
E, assim, chamei
o homem, comprei
a caixa inteira.
E este não
escondeu o
alívio,
desmanchando-se
em gratidão:
- Desde a
manhã aqui,
minha senhora!
Não vendo nada!
Que Deus lhe
abençoe!...
E depois
sumiu-se,
enquanto de meu
lado entrei com
meus filhos no
táxi, empunhando
aquela caixa de
bombons
praticamente
cozida, de horas
e horas sob o
calor infernal
do verão
carioca. Mal
reparei, na
mistura de
indignação com
alívio que
sentia então, na
continuidade da
indiferença
absoluta com que
os
circunstantes,
sobraçando sacas
e mais sacas de
presentes de
Natal, reagiram
à cena insólita
– muitos fazendo
de conta que não
se apercebiam do
episódio
reincidente nas
ruas de tantas
grandes cidades,
sobretudo nesta
época do ano.
Noutra frente, e
noutro dia da
semana, a
pedinte parecia
eu mesma!
Com uma casa em
completa
rebordosa em
pleno final de
ano, tendo que
dar conta, sob
cinquenta graus
de calor, de
arrumação,
cozinha e
limpeza, chegava
a sonhar
acordada com uma
linda ilha com
coqueiros, mar
transparente, e
brisa amena.
Mas, de repente,
chega meu marido
após a semana de
trabalho num
estado de
espírito
incomum, dada a
rotina
profissional
massacrante que
normalmente o
derruba em
irremovível
letargia; e,
arregaçando as
mangas, coloca
sobre a pia um
seca-pratos novo
que eu, na minha
correria, ainda
não tivera tempo
de trocar.
Disposto, e
diante da minha
admiração muda,
me enxota,
avisando: deixa
que arrumo tudo!
Pode ir tomar
seu banho!
Tomo meu banho,
meio abobada; um
banho demorado,
digno de um
calor de mais de
cinquenta graus!
E, para meu
encanto, quando
saio do
banheiro, mal
consigo
reconhecer minha
cozinha, ousando
admitir que eu
mesma, naquele
momento de
fadiga, em
especial, não
conseguiria
arrumá-la tão
bem!
De quebra, ainda
tive trocadas
todas as
lâmpadas que
havia dias se
viam queimadas,
e vi um novo
garrafão com
água fresca,
trocado a tempo,
no nosso bebedor
eletrônico!
Encantada de
tanta disposição
em hora tão
oportuna, não
poupei
agradecimentos,
comentando a
mais:
- Puxa! A
maior parte das
pessoas não faz
ideia de quanto
é importante
este auxílio,
com coisas
aparentemente
bobas, tão
pequenas!...
- Ótimo! Então
esqueça a
cozinha hoje, e
vamos almoçar
fora e andar por
aí! -
foi
a resposta, para
arremate a um
dia que, de
fato, se iniciou
e findou
perfeito, feliz!
E saímos todos
para desanuviar
as mentes e os
corpos, após um
período extenso
e
particularmente
estressante do
ano!
Há um vídeo
rolando na
internet que
considero um dos
mais lindos
sobre Jesus e o
espírito de
Natal, porque
ilustra, com
perfeição, este
estado de alma
descrito acima
que, se
prevalecesse em
cada um de nós,
transmutando a
data natalina em
Natal diário,
teria o condão
de também
transformar o
mundo em
paraíso, em
apenas alguns
poucos dias: o
vídeo que exibe
um Jesus próximo
a um sem-número
de pessoas
simples nas suas
atividades,
dramas e
alegrias
cotidianas -
incentivando,
consolando,
emprestando
forças quando
necessário!
À faxineira
humilde de um
estabelecimento
de ensino; a
alguém que perde
um ente querido
no hospital; aos
garis no seu
trabalho
desgastante do
dia a dia...
Sempre um Jesus
presente e
amigo, ajudando
a aliviar
fardos, a
insistir no
ânimo pela vida!
Porque é exato
este Jesus que
deveria ser
entendido como
real, e imitado,
na simplicidade
grandiosa do Seu
exemplo de Amor
para o mundo!
Presente nas
nossas vidas e
nos
acontecimentos
diários; fiel,
leal,
constante!...
Disposto a fazer
deste mundo um
lugar de pessoas
solidárias,
fraternas,
livres da
hostilidade tão
patente no atual
sistema
competitivo cego
que, via de
regra, atira
seres humanos
uns contra os
outros, por
razões mais ou
menos pueris;
mas todas elas,
sem sombras de
dúvidas,
permeadas pelo
pano de fundo do
egoísmo, mal
fatal que corrói
os melhores
esforços
individuais para
a realização de
uma sociedade
mais leve, mais
feliz e melhor!
Como seria então
se
simplificássemos
o Natal? Retomar
sua essência?
Recapturar este
espírito
legítimo da
passagem de
Jesus pela
Terra, para aí,
e de fato,
celebrar-se um
Natal mais
autêntico, não
apenas no dia
25, mas durante
todos os dias de
nossa curta
estadia neste
mundo?
Como, realmente,
Jesus apreciaria
ver cultivada e
comemorada esta
data tão
importante, não
somente para a
cristandade, mas
para que toda a
humanidade
encontre, enfim,
o caminho reto,
definitivo, para
a realização da
felicidade, num
planeta melhor?
Não há meio de
simplificar e de
resgatar a
essência e o
significado do
que representa
Jesus,
complicando-se,
a cada ano que
passa, uma data
cujo espírito
verdadeiro é o
da singeleza do
Amor, nas suas
expressões mais
cotidianas!
Assim, amigos,
venho tentando
simplificar a
minha ceia. Meus
enfeites de
Natal, minhas
atitudes.
Como eu faria
para receber
Jesus em casa? O
que lhe
contaria? Como
me prepararia?
Lembrei-me, de
repente, esta
manhã, outra
vez, que a casa
estava
precisando de
certos cuidados
de limpeza.
Tomei da
vassoura, do
pano, percorri
todos os
cômodos, e fiz o
melhor possível
– lembrando-me
de que Jesus
sabe bem que a
perfeição ainda
não é deste
mundo, e de que,
sempre amoroso,
amigo e
compreensivo,
perdoou, até
mesmo, os seus
piores algozes,
na hora solene
do seu maior
sacrifício!
Que o espírito
de Natal seja
uma constante
nas vidas de
cada um de nós!