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Crônicas e Artigos

Ano 8 - N° 398 - 25 de Janeiro de 2015

CHRISTINA NUNES
cfqsda@yahoo.com.br
Rio de Janeiro, RJ (Brasil)

 
 
 


Lembrando o Natal


Com alguns dias de folga, no final de ano, foquei completamente na família, e, com meus dois filhos, corri para o shopping, como de praxe. A poucos dias do Natal não havia comprado quase nada das lembranças para pessoas queridas, e também queria ir ao cinema para algum lazer e escapismo, a fim de inaugurar oficialmente meus dois olhos novos, após duas cirurgias de catarata em 2014.

Poucas horas depois, cumprida nossa programação divertida e algo tumultuada, lá estávamos na extensa fila do táxi, quando se aproxima o homenzinho esquálido, caixa de bombons aberta na mão, com o discurso tantas outras vezes presenciado por todos nós em situação semelhante:

Por favor, é só uma ajuda. Quero ganhar um dinheiro honesto!...

E prosseguia, inutilmente, na sua cantilena, debaixo do sol escaldante do fim de tarde no Rio de Janeiro, diante da indiferença solene daquelas inúmeras pessoas que, feitas suas compras natalinas, não se mostravam muito dispostas a dar atenção ou, talvez, dar crédito ao rosário de lamúrias que o homenzinho de uma magreza doentia desfiava, narrando dificuldades e suplicando praticamente que o auxiliássemos com a compra de um bombom que fosse!

"Ensinar a pescar e não dar o peixe..." - Ocorria-me, ao mesmo tempo em que me consumia a agonia íntima com a situação precária daquele infeliz, o ditado "politicamente correto" para muitos, em total contraposição ao que me compelia a minha consciência!

Dane-se o "politicamente correto". Sua alma sua palma! Contrapus, sentenciando, por fim, a mim mesma, e experimentando imediato alívio. "O que motiva o homem é com ele! Não me interessa se vai de fato usar este dinheiro com a fome ou com a cachaça; interessa-me que, se for mesmo com a fome, para um miserável desse, o que ajuda é auxílio imediato, não elaboração filosófica que, antes, parece mais ter sido criada para justificar a usura de muitos, porque não  se pode engarrafar todas as situações  numa mesma forma!"

E, assim, chamei o homem, comprei a caixa inteira. E este não escondeu o alívio, desmanchando-se em gratidão:

Desde a manhã aqui, minha senhora!  Não vendo nada! Que Deus lhe abençoe!... 

E depois sumiu-se, enquanto de meu lado entrei com meus filhos no táxi, empunhando aquela caixa de bombons praticamente cozida, de horas e horas sob o calor infernal do verão carioca. Mal reparei, na mistura de indignação com alívio que sentia então, na continuidade da indiferença absoluta com que os circunstantes, sobraçando sacas e mais sacas de presentes de Natal, reagiram à cena insólita – muitos fazendo de conta que não se apercebiam do episódio reincidente nas ruas de tantas grandes cidades, sobretudo nesta época do ano.

Noutra frente, e noutro dia da semana, a pedinte parecia eu mesma!

Com uma casa em completa rebordosa em pleno final de ano, tendo que dar conta, sob cinquenta graus de calor, de arrumação, cozinha e limpeza, chegava a sonhar acordada com uma linda ilha com coqueiros, mar transparente, e brisa amena. Mas, de repente, chega meu marido após a semana de trabalho num estado de espírito incomum, dada a rotina profissional massacrante que normalmente o derruba em irremovível letargia; e, arregaçando as mangas, coloca sobre a pia um seca-pratos novo que eu, na minha correria, ainda não tivera tempo de trocar.

Disposto, e diante da minha admiração muda, me enxota, avisando: deixa que arrumo tudo! Pode ir tomar seu banho!

Tomo meu banho, meio abobada; um banho demorado, digno de um calor de mais de cinquenta graus! E, para meu encanto, quando saio do banheiro, mal consigo reconhecer minha cozinha, ousando admitir que eu mesma, naquele momento de fadiga, em especial, não conseguiria arrumá-la tão bem!

De quebra, ainda tive trocadas todas as lâmpadas que havia dias se viam queimadas, e vi um novo garrafão com água fresca, trocado a tempo, no nosso bebedor eletrônico!

Encantada de tanta disposição em hora tão oportuna, não poupei agradecimentos, comentando a mais:

Puxa! A maior parte das pessoas não faz ideia de quanto é importante este auxílio, com coisas aparentemente bobas, tão pequenas!...

- Ótimo! Então esqueça a cozinha hoje, e vamos almoçar fora e andar por aí! - foi a resposta, para arremate a um dia que, de fato, se iniciou e findou perfeito, feliz! E saímos todos para desanuviar as mentes e os corpos, após um período extenso e particularmente estressante do ano!

Há um vídeo rolando na internet que considero um dos mais lindos sobre Jesus e o espírito de Natal, porque ilustra, com perfeição, este estado de alma descrito acima que, se prevalecesse em cada um de nós, transmutando a data natalina em Natal diário, teria o condão de também transformar o mundo em paraíso, em apenas alguns poucos dias: o vídeo que exibe um Jesus próximo a um sem-número de pessoas simples nas suas atividades, dramas e alegrias cotidianas - incentivando, consolando, emprestando forças quando necessário!

À faxineira humilde de um estabelecimento de ensino; a alguém que perde um ente querido no hospital; aos garis no seu trabalho desgastante do dia a dia... Sempre um Jesus presente e amigo, ajudando a aliviar fardos, a insistir no ânimo pela vida! Porque é exato este Jesus que deveria ser entendido como real, e imitado, na simplicidade grandiosa do Seu exemplo de Amor para o mundo!

Presente nas nossas vidas e nos acontecimentos diários; fiel, leal, constante!... Disposto a fazer deste mundo um lugar de pessoas solidárias, fraternas, livres da hostilidade tão patente no atual sistema competitivo cego que, via de regra, atira seres humanos uns contra os outros, por razões mais ou menos pueris; mas todas elas, sem sombras de dúvidas, permeadas pelo pano de fundo do egoísmo, mal fatal que corrói os melhores esforços individuais para a realização de uma sociedade mais leve, mais feliz e melhor!

Como seria então se simplificássemos o Natal? Retomar sua essência? Recapturar este espírito legítimo da passagem de Jesus pela Terra, para aí, e de fato, celebrar-se um Natal mais autêntico, não apenas no dia 25, mas durante todos os dias de nossa curta estadia neste mundo?

Como, realmente, Jesus apreciaria ver cultivada e comemorada esta data tão importante, não somente para a cristandade, mas para que toda a humanidade encontre, enfim, o caminho reto, definitivo, para a realização da felicidade, num planeta melhor?

Não há meio de simplificar e de resgatar a essência e o significado do que representa Jesus, complicando-se, a cada ano que passa, uma data cujo espírito verdadeiro é o da singeleza do Amor, nas suas expressões mais cotidianas! Assim, amigos, venho tentando simplificar a minha ceia. Meus enfeites de Natal, minhas atitudes.

Como eu faria para receber Jesus em casa? O que lhe contaria? Como me prepararia?

Lembrei-me, de repente, esta manhã, outra vez, que a casa estava precisando de certos cuidados de limpeza. Tomei da vassoura, do pano, percorri todos os cômodos, e fiz o melhor possível – lembrando-me de que Jesus sabe bem que a perfeição ainda não é deste mundo, e de que, sempre amoroso, amigo e compreensivo, perdoou, até mesmo, os seus piores algozes, na hora solene do seu maior sacrifício!

Que o espírito de Natal seja uma constante nas vidas de cada um de nós! 



 


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O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita