DENISE LINO
deniselinoaraujo@gmail.com
João Pessoa, PB
(Brasil)
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Intolerância &
preconceito
Saltam aos olhos
preconceitos dos
vários lados,
alimentados pela
intolerância
O atentado
terrorista à
sede do jornal
satírico
Charlie Hebdo,
no último 7 de
janeiro, exige
de nós, os
espíritas,
sérias reflexões
à luz do
Evangelho e da
Doutrina
Espírita. Creio
que precisamos
analisar com
isenção o que
significa o lema
- Je suis
Charlie -
repetido por
multidões mundo
afora, antes de
sair repetindo-o
ingenuamente.
Informados pela
imprensa
ocidental,
portanto uma
imprensa de modo
geral
comprometida com
grandes
conglomerados
econômicos e
políticos, com
interesses bem
claros em
exaltar que nós,
os ocidentais,
somos melhores e
evoluídos, o que
a maioria de nós
sabe é que os
mulçumanos são
beligerantes,
radicais e
impiedosos. Há
uma imagem comum
que homens de
turbante e
vestindo túnicas
são
potencialmente
terroristas e
que mulheres que
usam a hijab
são submissas.
Todavia, o mundo
islâmico é um
mosaico, tal
como o mundo
cristão. Entre
nós há os
católicos
romanos,
ortodoxos, os
protestantes das
várias
ramificações,
nós, os
espíritas, entre
outros... Entre
eles também
diversas
ramificações,
inclusive os
terroristas.
Também do nosso
lado há os que
em nome da fé
cometem e
cometeram crimes
hediondos. Mal
comparando, é
como se de nossa
parte todos os
de lá fossem
terroristas e
eles achassem
que do lado de
cá todos fossem
pedófilos, dada
a divulgação de
crimes dessa
natureza
cometidos por
clérigos.
Posto esse
mosaico, vemos
que nele há uma
peça mal
encaixada: o
terrorismo
praticado por
radicais
extremistas,
ligados ao
Estado Islâmico
– um califado
autoproclamado
governo de toda
a fé islâmica,
sem limites
geográficos e
que age na base
da força bruta e
de métodos
espúrios como a
degolação de
infiéis, leia-se
de estrangeiros
ou dissidentes.
Por enquanto,
esse governo se
espalha por uma
faixa de terra
que vai do
Iraque à Síria,
com ramificações
em todo o mundo
através da
presença de
mulçumanos
dispostos ao
combate, porque
os radicais
desconhecem as
leis dos países
onde cresceram
ou se refugiaram
e querem que
suas leis
religiosas
prevaleçam sobre
as leis civis
desses países.
Em caso
contrário, estão
dispostos a
matar e morrer
em nome do
profeta Maomé,
numa
interpretação
que não encontra
sustentação
teológica nem
diplomática.
O terrorismo é
ação sórdida que
conspira contra
todas as
conquistas de
paz, diplomacia
e de civilidade
já assimiladas
pela humanidade.
Não há como
dizer que não é
grave ou não lhe
dar atenção
através de
mecanismos de
inteligência
policial que o
coíbam. Joanna
de Ângelis, no
livro Triunfo
Pessoal,
define-o como
“distúrbio
coletivo”
que só se
estrutura porque
conta com a
cooperação de
indivíduos que
“mantêm-se
agarrados a
instintos
primários,
desprovidos de
sentimentos
nobres,
portadores de
estruturas
esquizofrênicas
que os fazem
liberar forças
hediondas do
primitivismo que
se impõe pela
tirania,
abraçando o
fanatismo que o
caracteriza como
um indivíduo
primário, que em
função da sua
estrutura
psicológica
mórbida possui
graves desvios
da libido,
invariavelmente
atormentado nas
suas
manifestações,
com severos
distúrbios das
funções sexuais,
ocultando o
vazio
existencial na
exorbitância dos
instintos
agressivos
[1]
nos quais se
compraz.” E
prossegue: “frio
emocionalmente,
perverso, porque
insano, não
possuindo
qualquer amor à
vida, faz-se
odiar, porque se
sente incapaz de
despertar
qualquer
sentimento de
amor,
desencadeando a
erupção
da selvageria
interna, que o
promove a uma
situação de
destaque, na
qual tramita
rapidamente,
porque detesta a
vida e todas as
suas
conquistas....
Incapaz de amar,
porque se sente
ancestralmente
odiado,
desenvolve
perturbação do
discernimento,
por meio de cuja
ótica as demais
pessoas são
todas
adversários que
devem
desaparecer,
quando ele
também
sucumbirá.”
Lendo a
descrição acima
é fácil entender
a intrínseca e
conflituosa
relação entre
desejo de poder
e intolerância
propagada pelo
terrorismo e
pelos
terroristas,
para os quais
evidentemente a
mensagem de
Jesus se mostra
como único
caminho de
soerguimento, o
que sabemos
dar-se-á depois.
Todavia, o caso
em pauta não tem
apenas um lado.
Há vários... Há,
por exemplo, o
lado da
provocação
promovida sob o
manto da
liberdade de
expressão pelo
jornal francês.
Para entender a
questão, cabe
informar que se
trata de um
jornal satírico,
ou seja, uma
publicação cuja
pauta se
caracteriza(va)
pela perspectiva
mordaz, picante,
ridiculizando a
tudo e a todos e
não raro dando a
toda e qualquer
notícia uma
conotação sexual
desviante. Para
efeito de
comparação, era
para a França
mais ou menos o
que o Pasquim
foi para o
Brasil na época
da ditadura,
porém com muito
mais escracho.
Uma publicação
que se tornou
conhecida depois
que republicou
charges
ofensivas ao
profeta Maomé
originalmente
publicadas num
jornal
dinamarquês. Daí
para frente, a
temática
muçulmana passou
a ser rotina na
pauta, porque
foi aquela que
deu “ibope”.
Ou seja,
qualquer
coincidência
entre viabilizar
financeiramente
o jornal e
usá-lo como meio
de propaganda
ideológica a
favor de
preconceitos não
foi mera
coincidência. E
viabilizou-se
porque tinha
leitores. Assim
como o
terrorismo se
viabiliza porque
há gente
disposta a
levá-lo adiante.
Esse parece ter
sido o estopim
que levou ao
fato:
preconceitos
constantemente
alimentados e
reforçados
através de ações
sociais. Sabemos
através da
imprensa, do
cinema e da
literatura
engajada a
dificuldade que
estrangeiros têm
de se inserirem
no tecido social
francês e no
europeu de modo
geral. É
histórico o
preconceito
contra
estrangeiros,
notadamente
negros, latinos
americanos e
muçulmanos
pobres. Os
jornalistas
franceses do
Charlie
sabiam, sim, que
suas charges
eram ofensivas.
Tanto que a
publicação se
autointitula(va)
“jornal
irresponsável[2]”
e muitos jornais
do mundo inteiro
que têm
mulçumanos entre
seus leitores
não as
republicavam em
respeito a eles.
Durante a
cobertura do
atentado, vários
informaram isso
em seus
editoriais.
Feita uma
análise do caso
à luz da Lei de
Liberdade[3],
verificamos que
a ação dos
jornalistas
franceses não
encontra amparo
em nenhuma das
questões. A
título de
exemplificação
transcrevemos
aqui a questão
826 de O
Livro dos
Espíritos.
Kardec perguntou
aos mentores:
em que
condições
poderia o homem
gozar de
absoluta
liberdade? “Nas
do eremita no
deserto.
Desde que juntos
estejam dois
homens, há entre
eles direitos
recíprocos que
lhes cumpre
respeitar; não
mais, portanto,
qualquer deles
goza de
liberdade
absoluta.”
Ou seja, é
preciso lembrar
que a sociedade
se organiza em
função de
direitos
recíprocos. Além
dessa, também a
questão 839, na
qual o
questionamento
é: será
repreensível
aquele que
escandalize com
a sua crença um
outro que não
pensa como ele?
E a
resposta: “isso
é faltar com a
caridade e
atentar contra a
liberdade de
pensamento.”
Logo, vemos que
no caso em pauta
escasseia a
caridade e há,
senão vários,
pelo menos um
escândalo, qual
seja o de
representar em
desenhos o
profeta Maomé,
ato considerado
inadmissível
entre os
mulçumanos.
Trazendo, então,
o lamentável
episódio para um
exame à luz da
mensagem de
Jesus, vemos
muitos outros
aspectos
complicadores
que
não isentam
nenhum dos lados
pelos excessos
cometidos.
Lembramo-nos
particularmente
da sentença:
Pois a quem tem,
mais será dado,
e terá em grande
quantidade. Mas
a quem não tem,
até o que tem
lhe será tirado
(Mateus 25:29),
quando trazemos
à mente os
jornalistas
mortos. Todos
eles famosos e
bem instalados
no conforto do
tecido social
que os acolheu,
todavia levaram
às últimas
consequências a
sua condição de
representantes
da liberdade de
expressão.
Lembramo-nos
também da
sentença: ai
do mundo, por
causa dos
escândalos;
porque é
necessário que
venham
escândalos, mas
ai daquele homem
por quem o
escândalo venha!
(Mateus
18:7)
quando nos
lembramos dos
terroristas que
têm uma causa
política a
defender, que é
a da opressão
internacional a
que seu povo,
sua história e
sua religião são
submetidos, mas
nada disso
legitima tamanho
escândalo, cujas
consequências
pessoais e sociais
serão por eles
assumidas,
porque a Lei de
Evolução não tem
cotas.
Profundamente
consternada com
o episódio,
verificamos nele
uma raiz
perniciosa que
também tem suas
sementes na
nossa sociedade
e que somente as
almas lúcidas
não a plantam: o
preconceito e a
intolerância. Em
ambos os lados
da questão em
apreço há a
presença
demasiada desses
filhos do
orgulho e do
egoísmo. Sobre o
preconceito,
Joanna de
Ângelis afirma,
no livro
Fonte de Luz,
que este é
“(...) chaga
moral que ainda
se demora no
organismo social
e deve ser
combatido
tenazmente.
Gerador de
conflitos, nos
quais predomina
a impiedade,
responde pelas
guerras
destruidoras,
nas quais povos
e nações se
atiram uns
contra os outros
devorados pela
volúpia da
alucinação.
Dividindo as
pessoas e
classificando-as
sob padrões que
as chancelam, a
umas
engrandecendo e
a outras
estigmatizando
indevidamente, o
preconceito
racial,
político,
social,
religioso, tem
levado gerações
volumosas à
miséria, ao
degredo e à
morte infamante.
Qualquer tipo de
preconceito
traduz atraso
ético e
espiritual.”
Aplicando essa
definição ao
caso, saltam aos
olhos
preconceitos dos
vários lados,
alimentados pela
intolerância e
pelo desrespeito
ao outro e à sua
forma de
expressão. Os
atentados ao
jornal e ao
mercado judeu
traduzem
compreensões
fanáticas de
mundo e de vida.
Mas as charges
também. Ambos
devem ser
rejeitados
veementemente,
porém,
pacificamente. O
fanatismo, seja
ele religioso ou
de qualquer
natureza, revela
incapacidade de
perceber,
dialogar e de
conviver com o
diferente.
Jesus foi alvo
de inúmeras
expressões de
preconceito, a
começar pelo
fato de que as
pessoas se
perguntavam o
que bom poderia
vir de Jerusalém
(Jo., 1:40–46).
Como Governador
da Terra venceu
todas elas e
legou à
humanidade o
paradigma do
amor ao próximo
e até aos
inimigos,
portanto, um
paradigma de
Amor e de
inclusão.
Nesta hora de
dor da
humanidade, não
conseguimos
dizer como a
multidão que sou
Charlie,
pois esta
palavra ainda
está carregada
de forte
conteúdo
ideológico, mas
conseguimos
dizer aos vários
lados envolvidos
na questão que
Jesus é o
caminho, a
verdade e a vida
(João
14:6).
E também a
Liberdade! Sem
Ele,
nenhuma causa se
legitima.
[2]
Confira
imagens
na
internet.
[3]
Recomendamos
a
análise
de toda
a Lei,
pois
várias
questões
trazem
importantes
esclarecimentos
sobre o
tema.