MARCUS VINICIUS
DE AZEVEDO BRAGA
acervobraga@gmail.com
Rio de Janeiro,
RJ (Brasil)
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Pães e peixes
Em uma das mais
belas passagens
evangélicas, na
minha opinião, o
chamado milagre
da multiplicação
dos pães e dos
peixes, Jesus
alimenta uma
multidão
esfaimada a
partir de uma
singela porção
de pães e
peixes. Para
além da
discussão
fenomenológica
dessa passagem
evangélica, essa
ideia dadivosa e
multiplicativa
que se apresenta
nessa mensagem
do nazareno se
faz presente
também em outras
passagens, na
sentença do
“pedi e
obtereis”, ou
ainda, na
Parábola dos
talentos, das
moedas que se
convertem em
riqueza, quando
não escondidas.
As lições
citadas trazem
uma mensagem
central,
frequentemente
ignorada, de que
a vida é um
celeiro de
oportunidades e
bênçãos, que nos
brinda com
tesouros, a
partir de
pequenos
investimentos
que oferecemos.
Um naco de
peixe, uma côdea
de pão, algumas
moedas, módicos
sacrifícios que
a vida nos
remunera com
realizações,
conquistas e
vitórias. E
nesse mar de
oportunidades,
temos
dificuldades de
identificar os
caminhos, os
chamados e as
melhores opções
de aplicação de
nossos humildes,
mas
indispensáveis
recursos.
O leitor pode
achar que se
trata de um
excesso de
otimismo, mas se
olharmos as
bênçãos
recebidas, os
acréscimos de
misericórdia e
tudo mais que a
vida nos
oferece, verá
que não se trata
de exagero e sim
de realidade,
como Jesus já
nos alertava.
Obviamente, não
falamos de
conquistas
materiais, mas
de avanços mais
amplos, que
saciam a fome da
multidão,
sequiosa do pão
da vida, que
sustenta o
espírito
imortal.
Essa abundância
da existência,
como
oportunidade de
crescimento, de
colheita, nos
faz refletir
sobre o que
pedimos e para
onde
direcionamos
nosso arado
nessa semeadura.
Cuidado com o
que pedimos,
podemos
conseguir! Por
vezes, carreamos
anos de nossa
encarnação em
projetos
mirabolantes e
colhemos destes
o que plantamos.
Mas por vezes
esse produto não
nos sacia a fome
maior.
A introdução da
obra “Cartas e
Crônicas”,
psicografia de
Chico Xavier,
pelo Espírito
Irmão X, lá em
1966, passados
quase cinquenta
anos, indica
bela história
atribuída ao
poeta indiano
Rabindranath
Tagore, na qual
um lavrador, a
caminho de casa,
com a colheita
do dia, notou
que, em sentido
contrário, vinha
suntuosa
carruagem,
revestida de
estrelas.
Reconheceu,
conduzindo
aquele veículo,
o Senhor do
Mundo, que saiu
dela e
estendeu-lhe a
mão a pedir-lhe
esmolas. Apesar
do espanto,
mergulhou a mão
no alforje de
trigo que trazia
e entregou ao
Divino pedinte
apenas um grão
da preciosa
carga. Após a
partida do
Todo-poderoso, o
pobre homem do
campo observou
que curiosa
claridade vinha
do seu alforje
poeirento e
percebeu que o
grânulo de
trigo, do qual
fizera sua
dádiva, tornara
à sacola,
transformado em
pepita de ouro
luminescente.
Como o homem da
história,
retemos nossos
tesouros e os
aplicamos mal,
sem perceber as
pequenas
solicitações
divinas, a nos
recompensar com
a chamada parte
boa. Voltando ao
saber
evangélico,
esquecemos que
Jesus nos
alertou que a
colheita era
livre, mas que a
semeadura era
obrigatória.
Reforçou essa
visão quando
indicou que onde
está o nosso
coração, aí está
nosso tesouro. O
Mestre, na
atualidade de
suas lições, nos
deixa a
lembrança que
diante de uma
empreitada
importa saber o
que queremos
colher, e ainda,
se esse banquete
realmente
saciará a nossa
fome do
espírito, para
além dos lírios
do campo.
Diante da
multidão faminta
que o seguia,
fez do pouco o
muito e todos
comeram até
ficarem
saciados. Das
diversas
necessidades
humanas
–
psicológicas,
materiais,
espirituais
–, nós,
que também
avançamos na
multidão que O
segue, temos que
ficar atentos ao
pão e ao peixe
que buscamos,
para que essas
bênçãos não se
tornem
maldições,
fardos que
arrastamos ao
longo de
encarnações,
dominados pela
ânsia da posse e
pela visão
imediatista da
fome do mundo.
Assim, seguimos
nossa caminhada
rumo à luz, com
um pão, um
peixe, uma
moeda. De tudo a
vida conspirará
para o nosso
avanço, com o
suor do trabalho
e a esperança da
fé. Mas importa
saber para onde
seguimos, em que
direção e
sentido, o que
buscamos e em
que prisma de
existência.
Caminhar por
caminhar pode
significar rumar
em círculos,
marcando passo
na reencarnação,
perdidas as
oportunidades,
que podem não
voltar em
condições tão
ideais como a
atual.