VINICIUS LIMA
LOUSADA
vlousada@hotmail.com
Bento Gonçalves,
RS (Brasil)
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Sobre o futuro
do Espiritismo
“O Espiritismo é
o grande
nivelador que
avança para
aplainar todas
as heresias. Ele
é conduzido pela
simpatia; ele é
seguido pela
concórdia, pelo
amor e pela
fraternidade;
ele avança sem
abalos e sem
revolução; ele
nada vem
destruir, nada
derrubar na
organização
social; ele vem
a tudo renovar.”
– Um filósofo do
outro mundo.
Que será do
Espiritismo
nesses dias de
pós-modernidade
desvairada, de
afetos líquidos,
de certezas nada
certas, de
fidelidades
transitórias à
epistemologia
espírita? Como
se portará essa
filosofia diante
de escassez de
sabedoria no
copo
transbordante de
tanta informação
veiculada, não
raramente,
superficial?
Como lidará a
Doutrina dos
Espíritos, no
século XXI, com
tamanha mídia a
seu serviço nem
sempre
apresentando o
pensamento
lúcido de Allan
Kardec, forjando
um caráter de
religião
nacionalista –
que o
Espiritismo com
Kardec nunca
teve –, com
pregações,
cânticos e rezas
que parecem
configurar um
novo
evangelismo,
pouco
identificado com
a tradição
filosófica em
que o mestre
inseriu a
Doutrina, desde
O Evangelho
segundo o
Espiritismo,
ao apresentar
como seus
precursores
Sócrates e
Platão?
Que serão dos
colóquios
naturais com os
desencarnados em
tempos que um
novo moisaísmo
parece ecoar nas
mentes e
proibir, sem
chancela alguma
do ensino
coletivo dos
Espíritos, a
arte de dialogar
com os supostos
mortos, apesar
das instruções
de Kardec sobre
as evocações?
As pessoas
solitárias não
poderão chamar
seus amados,
domiciliados no
além, para um
abraço a mais,
uma conversa a
mais, uma
elucidação sobre
as leis da vida
e suas
consequências?
Não poderá o
coração em
dúvida rogar ao
seu benfeitor
espiritual
aconselhamentos
enobrecedores?
Até quando
indagar os
Espíritos sobre
temas sérios, a
despeito do
ensino
kardequiano, vai
ser algo visto
como coisa
permitida
somente para
gente de nível
evolutivo
inencontrável na
Terra?
E os médiuns
terão de
esquecer que o
são e recalcarão
as suas
potencialidades
psíquicas para
se ajustarem ao
adestramento
conduzido por
alguns agentes
que ignoram a
pedagogia da
mediunidade
proposta por
Kardec ou não
guardam na alma
qualquer
vivência mais
profunda com o
fenômeno
espírita?
Como se
comportará a
filosofia
composta pelos
Espíritos e
Kardec diante da
negação do
diálogo e do
debate que se
coloca para dar
lugar aos
discursos
“iluminados” que
não suportam a
dúvida e a
inquietação
filosófica?
O Espiritismo
suportará
aqueles que se
creem com
credenciais
maiores que as
de Kardec ao
ponto de
ignorarem a sua
obra para
criarem sistemas
de ideias
particulares e
exóticas?
Mesmo que a
arrogância não
ouça o
pensamento
crítico, se faça
excludente com
os que se
dedicam a pensar
filosoficamente
e venha a se
dedicar a um
discurso
obscurantista –
que promova a
ignorância como
virtude e
achincalhe a
inteligência em
nome da fé cega,
estigmatizando-a
de vaidade –, o
Espiritismo
prosseguirá no
ar, fazendo
vibrar as fibras
íntimas dos que
se sentiram
tocados no
coração por sua
filosofia,
adotando-a como
referência
existencial.
O Espiritismo
independe dos
homens e das
mulheres ou das
instituições. É
mensagem dos
Espíritos à
humanidade
domiciliada na
carne e, mesmo
que o seu ensino
seja proibido –
algo que seus
adversários
desistiram, faz
tempo –, ele
ainda existirá.
O Espiritismo
está na
Natureza, está
no Espírito, nas
leis que a vida
encerra e revela
em sua
majestade,
delineando uma
ideia, a nós
outros, acerca
da Inteligência
Suprema e de
nossa própria
pequenez ante a
Sapiência
Divina.
Será uma lástima
se o saber
espírita, com
todo o seu
potencial
transdisciplinar,
como ciência
do infinito
em permanente
diálogo criativo
com as leis
naturais, seja
encarcerado nas
nossas
referências
religiosas do
passado.
O futuro, diz o
adágio popular,
a Deus pertence.
Mas quero crer
que os
limitantes
impostos ao
Espiritismo pela
falta de lucidez
em voga se
dissiparão ante
o ensino
progressivo e
coletivo dos
Espíritos que se
apresentam
diuturnamente à
grande família
humana,
independente de
credo, partido,
questões
étnicas,
religião,
condições
econômicas ou
posições
ocupadas na
sociedade.
O Espiritismo,
com Kardec,
prossegue. E o
seu futuro? O
mesmo dos
grandes ideais:
como uma fênix
mitológica
ressurgirá
sempre das
cinzas a que
fora reduzido
para, em novas
possibilidades,
renovar tudo à
sua volta.
Queiram as
mentes estreitas
ou não, o
Espiritismo
prosseguirá em
sua tarefa de
renovação,
apesar delas,
sendo que os
Espíritos são os
seus maiores
propagadores,
como um dia
ensinou Allan
Kardec.
Construamos,
enfim, uma
convicção
espírita na base
sólida da fé
raciocinada e
estudemos
Kardec, na fonte
e em
profundidade,
para que através
de nós o
Espiritismo seja
Espiritismo, com
os seus
princípios,
desdobramentos e
a lucidez que o
caracteriza
desde as bases
kardequianas.