São
muitos assim...
Descarregam primorosa
mensagem nas assembleias,
exortando o povo à
compaixão, bordam
conceitos e citações, a
fim de que a brandura
seja lembrada;
entretanto, no instituto
doméstico, são carrascos
de sorriso na boca.
Traçam páginas de subido
valor, em honra da
virtude, comovendo
multidões; mas não
gravam a mínima
gentileza nos corações
que os cercam entre as
paredes familiares.
Promovem subscrições de
auxílio público, em
socorro das vítimas de
calamidades ocorridas em
outros continentes,
transformando-se em
titulares da grande
benemerência; contudo,
negam simples olhar de
carinho ao servidor que
lhes põe a mesa.
Incitam a comunidade aos
rasgos de heroísmo
econômico, no
levantamento de
albergues e hospitais,
disputando créditos
publicitários em torno
do próprio nome;
entretanto, não hesitam
exportar, no rumo do
asilo, o avô menos feliz
que a provação expõe à
caducidade.
Não
seremos nós quem lhes vá
censurar semelhante
procedimento.
Toda
migalha de amor está
registrada na lei, em
favor de quem a emite.
Mais
vale fazer bem aos que
vivem longe, que não
fazer bem algum.
Ajudemos, sim, ajudemos
aos outros, quanto nos
seja possível;
entretanto, sejamos
igualmente bons para com
aqueles que respiram em
nosso hálito.
Devedores de muitos
séculos, temos em casa,
no trabalho, no caminho,
no ideal ou na
parentela, as nossas
principais testemunhas
de quitação.
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