EUGÊNIA PICKINA
eugeniapickina@gmail.com
Indaiatuba, SP
(Brasil)
|
|
Infância coisa
nenhuma!
Foi o caso de
Antônio, um
menino bem
magro, cujas
notas vermelhas
no boletim
revelaram não um
transtorno, mas
um testemunho
audível da
monotonia do
currículo
escolar que
fazia seu corpo
triste, porém
seu olhar e
perguntas
ruidosos em
demasia.
Francamente por
ele e por certos
golpes do
destino contra
os quais é
fecundo lutar,
ainda que haja
uma conspiração
em andamento,
continuo a
insistir no
tema, procurando
favorecer
perguntas
contra o uso do
metilfenidato
sobre o cérebro
em formação das
crianças e que
no País não para
de crescer,
sobretudo em
algumas regiões.
Não são apenas
os professores
(escola), os
pais também,
infelizmente,
passaram a
cobrar
diagnóstico de
TDAH (Transtorno
de Déficit de
Atenção e
Hiperatividade)
e medicamento (Ritalina/Concerta)
para “resolver”
os conflitos na
escola e
estimular a
quietude no
espaço
doméstico.
Primeira
pergunta: por
que é difícil
escutar o que
uma criança está
dizendo com seu
comportamento?
Muitos pais
intolerantes (e
quiçá
ignorantes)
andam utilizando
o diagnóstico da
hiperatividade
como “licença”
para entulhar
seus filhos de
remédio e
mantê-los
tranquilamente
“adestrados”.
E deixando de
lado as coisas
de criança,
confissão de
intenção: creio
que isso dá aos
pais/cuidadores
as
justificativas
que lhes furtam
o desafio de uma
realidade dura:
ter filhos gera
trabalho
cotidiano e
impor limites,
por sua vez,
exige paciência,
atenção e muita
dedicação.
Segunda
pergunta: o que
é uma criança
hiperativa?
Terceira
pergunta: a
resposta da
pergunta
anterior é
inquestionável?
Caso as pessoas
investiguem o
caminho que leva
ao diagnóstico
de TDHA
(Transtorno de
Déficit de
Atenção e
Hiperatividade)
temos na maioria
das situações
nacionais duas
opções: a) entre
as
crianças
clientes do
sistema privado
de ensino, e
que leva ao
resultado da
prescrição da
droga da
obediência, o
caminho se
perfaz do
seguinte modo: a
escola encaminha
a criança ao
psicólogo
e este ao
neuropediatra –
ou diretamente
ao neuropediatra
–, que prescreve
o medicamento
para que a
grande
transformação
aconteça
e, em
consequência, a
criança, sem
desejos, passe a
ser
produtiva;
b) já no caso
das crianças
usuárias
da rede pública
de ensino, o
roteiro que tem
como alvo a
prescrição do
metilfenidato
obedece a esses
passos: a escola
encaminha a
criança
indisciplinada/desatenta
ao
médico,
quem prescreve a
droga da
obediência,
ou aciona o
conselho
tutelar. Mas, no
final, a criança
está no geral
sujeita ao uso
da droga legal.
Quarta
pergunta:
não é a droga da
obediência
uma reedição da
pedagogia negra?
As crianças,
gente de carne e
osso, gostam de
se deleitar nas
coisas simples
e, sem
embaraços,
brincar e
perguntar,
gravitando nos
seus mundos de
faz de conta,
provando os
ritmos da
vigília, pois
tudo é novo, os
enigmas das
cidades e da
natureza –
pedras, bichos,
árvores, lagos,
a chuva que cai
da nuvem, o sol,
as estrelas, o
desejo bom por
elas invocado.
Também por isso,
pelo desconcerto
da infância,
seus enigmas e
inocência,
considero que há
muitos modos de
viver um vida.
Os pais, em
consequência,
podem sim
distinguir a
diferença entre
fórmulas
repetitivas, as
quais do mesmo
jeito que
outrora, nas
escolas
antigas,
regulam o
argumento da
produção, cuja
moralidade,
aparentemente
neutra, costuma
reduzir crianças
a cacos, elas
que insistem em
se engajar no
mundo (agora) de
novas maneiras.
Não sei, mas
creio que Rubem
Alves estava
certo quando
dizia que
“também a morte
ama o saber”:
metilfenidato
(algo similar à
corrida
armamentista)...
Droga da
obediência, que
mata na criança
a licença para
usufruir da
infância, tempo
que não é
mágico, nem
fácil, mas deve
ser apoiado como
um período
destinado ao
desenvolvimento
do corpo de
carne, mas
também da alma
acesa.
Quinta pergunta:
o que ocorrerá
com essa geração
legalmente
drogada no
futuro?
Sexta pergunta:
e o que tudo
isso explica
sobre nós, os
adultos? Será
que os pais/cuidadores
que aceitam
submeter (suas)
crianças à droga
da obediência
serão mais tarde
compreendidos
apenas pelo
dever a serviço
de um “seguro”
crescimento, ou
(auto)condenados
pelo desamor ao
prelúdio da
vida?
Parece coisa
absurda, mas
como um perigo
facilmente
evitado, na
sociedade
pós-industrial,
em pleno século
XXI, não
estaria, para
crianças ricas e
pobres, o
caminho que leva
à prescrição da
droga da
obediência
inspirado pela
madrasta da
Branca de Neve?
Cariños.
*Visite, quando
puder,
www.corujasabida.com