Tolstoi e o caso
do
suicida russo
Sempre que se
fala em
suicídio,
lembramo-nos de
um fato narrado
pelo Espírito
Leão Tolstoi,
registrado no
cap. II do livro
“Ressurreição e
Vida”,
psicografado
pela médium
Yvonne Pereira e
editado pela FEB,
no qual ele
relata seu
encontro, no
mundo
espiritual, com
um Espírito que
também fora
russo, em denso
sofrimento
causado por um
suicídio por
afogamento, com
consequências
terríveis para o
lado de lá.
Tolstoi inicia
um diálogo
fraterno com
aquele enfermo
espiritual e
aqui
apresentamos
alguns
fragmentos do
depoimento
ouvido:
Fui um revel,
que desertei da
vida apavorado
com as
peripécias que
me
surpreenderam...
Nasci e vivi em
Nijni-Novgorod e
aí também me
precipitei no
abismo de um
suicídio cuja
responsabilidade
foi minha,
unicamente
minha! Chamei-me
Dimitri
Semenovitchi, em
minha terra. E
quando me
reconheci vivo,
pensante,
inteligente,
individualizado
como dantes –
porventura ainda
mais
individualizado
do que antes do
suicídio –,
julguei-me presa
de uma loucura
insólita,
loucura que
desespera sem
apagar o
raciocínio! Eu
não aceitava o
homem dotado com
uma alma
imortal.
Repelia, desde a
juventude, a
dogmatização
ortodoxa da
nossa Igreja
russa, que
falava da
perpetuidade da
alma humana em
condições
ilógicas, e
terminara por
duvidar até
mesmo da
existência de um
Ser Supremo...
Inconsolável,
porém, ao
verificar,
depois, que as
águas do Volga
não foram
capazes de
protegerem o meu
crime, dando-me
o aniquilamento
desejado;
alucinado ante a
intensidade dos
desesperos e dos
opróbrios que
deparei aquém do
túmulo, através
dos canais do
suicídio;
desapontado
frente à
decepção de
compreender que
não lograra
encontrar senão
o fundo das
águas, em vez do
esquecimento
esperado, pois
ali permaneci
durante muito
tempo, atado ao
corpo, que se
consumia
devorado pelos
peixes;
enraivecido ante
o ludíbrio que
me atingira com
o suicídio;
desamparado pela
esperança e pela
fé em minhas
próprias
possibilidades...
Certa vez, não
sei como,
comecei a pensar
em minha mãe,
falecida bem
antes do meu
ato... Revi, em
pensamento,
oprimido de
saudades, seu
vulto grave e
doce, indo e
vindo entre os
afazeres de
nossa casa...
Revi o seu
semblante
pensativo, os
olhos sempre
baixos,
absorvidos de
preocupações, o
lenço de traços
coloridos à
cabeça...
Relembrei os
serões, junto da
lareira,
enquanto a
nevada assolava
as ruas
impedindo-nos
sair, as lições
repetidas, todas
as noites, sobre
o nascimento de
Jesus Cristo
numa caverna de
pastores,
exemplificando a
humildade, da
morte na cruz,
entre
malfeitores,
exemplificando o
amor e o perdão,
e ouvi-a
novamente dizer
para repetirmos:
- Pai nosso, que
estais nos
Céus... Ave
Maria, cheia de
graça,... Meu
anjo da guarda,
velai pelo nosso
sono...
E, nesse
momento, Tolstoi
vai narrando
várias passagens
do Evangelho
citadas pela mãe
daquele pobre
Espírito a ele
quando criança.
Ele narra que
vai revivendo
toda a sua
infância banhada
pelos
ensinamentos
sobre a vida de
Jesus. Ele diz
sentir, naquele
momento, sua
alma se render
Àquele manso e
meigo Pastor e
ouvir a voz de
sua mãe
repetindo
aquelas sublimes
lições aos seus
ouvidos, agora
em meio ao seu
sofrimento:
- “Vinde a mim,
vós que sofreis,
e eu vos
aliviarei...”.
- “Eu sou a luz
do mundo, o que
me segue não
anda em
trevas...”.
E ele,
emocionado,
afirma:
Então, meu
amigo, a formosa
luz da esperança
norteou minhas
forças
debandadas pela
descrença em
Deus,
fomentadora do
suicídio. As
frases de minha
mãe se
misturavam aos
estertores do
meu desespero,
insistiam,
perseveravam,
firmavam-se em
meu pensamento
com a força das
recordações,
ecoavam em meu
coração, em todo
o meu desgraçado
ser, dominando
ânsias e
aniquilando
revoltas para
conceder-me o
equilíbrio
necessário a
rumos novos...
Reequilibro-me
agora,
fortalecido para
novas tentativas
de progresso nas
paisagens
terrestres, as
quais desonrei
com uma vida
irregular, que
me precipitou no
suicídio.
Sim, meu caro
amigo! Fazei-me
o favor, quando
possível, de
dizer às
mulheres que são
mães, e que
vivem ainda
sobre a Terra,
que não descurem
de ensinar a
sublime moral do
Evangelho aos
seus filhos
pequeninos, no
aconchego suave
do lar. As
sementes por
elas lançadas
naqueles
corações
iniciantes
germinarão mais
tarde ou mais
cedo, revolvidas
pelos labores
ásperos do
infortúnio ou do
progresso, ainda
mesmo se
torturas
consequentes de
um suicídio os
assinalem no
mundo das Almas
sofredoras como
maus crentes que
necessitarão
repetir
experiência
dolorosa da vida
terrestre, a que
se desejaram
furtar pelos
engodos da
violência
suprema!