ANSELMO FERREIRA
VASCONCELOS
afv@uol.com.br
São Paulo, SP
(Brasil)
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Bebês de três
pais e os
desafios éticos
A recente
aprovação de
transplantes
mitocondriais
pelo parlamento
inglês
estabelece um
novo divisor de
águas para a
humanidade,
especialmente
para casais que
aspiram gerar
bebês saudáveis.
Inicialmente
cumpre recordar
que a técnica
autorizada prevê
a substituição –
por meio de
fertilização
in vitro –
do DNA
mitocondrial
doente oriundo
da mãe biológica
por outro
saudável
pertencente a
uma doadora. É
importante
destacar que a
técnica proposta
viabiliza a
transferência
genética entre
as duas mulheres
antes da
geração do
zigoto, isto
é, a célula com
núcleo único
produzida no ato
da fecundação do
óvulo pelo
espermatozoide.
Portanto,
trata-se de um
processo no qual
a manipulação
genética se dá
em células ainda
não fecundadas,
ou seja, sem o
embrião da vida.
Posto isto, os
embriões gerados
por meio desse
complexo
processo estão
sendo
denominados de
“bebês de três
pais”. No
entanto, é
forçoso
reconhecer que o
DNA mitocondrial
da doadora não
fornece
absolutamente
nenhuma
característica
genética ao
feto. Na
verdade, a
herança
genética,
propriamente
dita, é
atribuição do
DNA nuclear.
Este último,
aliás, é
responsável por
99,98% do código
genético humano.
Nessa condição,
o DNA nuclear é,
por assim dizer,
o agente
determinante
para o
estabelecimento
da cor dos
nossos olhos, da
nossa estatura,
da nossa
eventual
propensão para
engordar ou de
vir a sofrer
determinadas
doenças ao longo
da vida. Vale
frisar que na
implantação do
transplante
mitocondrial, o
DNA nuclear é
integralmente
preservado.
Desse modo, os
cientistas
eliminam
qualquer
possibilidade de
que um óvulo,
que tenha tido
seu DNA
mitocondrial
alterado,
apresente
qualquer
semelhança com a
doadora.
Assuntos como o
ora discutido
tendem a gerar
intenso debate e
polêmica. Certos
setores
religiosos e da
imprensa
vislumbram em
tais descobertas
e possibilidades
o perigo do
homem querer
“brincar de
Deus” ou de
criar uma raça
supostamente
perfeita, como
foi outrora
cogitado em
relação à
ariana. Há, sem
dúvida alguma,
justificada
preocupação com
tudo o que diz
respeito à
manipulação
genética. Há
também aí uma
linha muito
tênue entre o
que é eticamente
aceitável e as
experiências/iniciativas
científicas
abjetas.
Mas é, por outro
lado, também
perfeitamente
compreensível
que pais se
empenhem em
gerar uma prole
saudável e apta
a se sobressair
positivamente no
mundo. Afinal,
pode-se indagar
que tipos de
pais, em sã
consciência,
ficariam felizes
pelo fato de
procriar filhos
potencialmente
portadores de
certas
moléstias?
Convenhamos que
tal hipótese
chega a beirar o
absurdo. É
igualmente
aceitável que a
ciência trabalhe
para uma melhor
adaptação e/ou
evolução da raça
humana seja por
meio da
supressão da
manifestação de
certas doenças e
anomalias
físicas, seja
pela exploração
de alternativas
que pelo menos
mitiguem tais
efeitos.
É, enfim,
difícil não
querer afastar –
especialmente
quando os pais
têm recursos
para tal – a
possibilidade de
ter um filho com
propensão a
nascer com algum
tipo de doença
incubada como o
câncer de seio,
ou doença de
Alzheimer, Mal
de Parkinson ou
outras anomalias
genéticas. Posto
isto, como lidar
com questões tão
complexas de
forma
apropriada? É
pertinente
lembrar que
manipulação
genética é algo
que, segundo os
especialistas em
ufologia, vem
permeando a raça
humana desde
tempos
imemoriais.
Nesse sentido,
os argumentos
por eles
apresentados são
no mínimo
intrigantes.
Seja como for, o
plano espiritual
não poderia
deixar, por sua
vez, de analisar
tão complexa
problemática. E
o Espírito
Joanna de
Ângelis tece
interessantes
considerações,
na obra Dias
Gloriosos
(psicografia de
Divaldo Franco),
sobre o assunto
que valem a pena
resgatar. A
benfeitora
esclarece que
“Ao lado dessa
busca
respeitável, sem
dúvida, mas que
foge ao programa
da reencarnação
de muitos
Espíritos
endividados que,
se liberados da
injunção
aflitiva,
incidirão em
outros
mecanismos
depuradores...”
(ênfase nossa).
Diante do quadro
atual, é pouco
provável que a
comunidade
científica –
que, de modo
geral, tem pouca
afinidade com as
coisas da
religião, embora
esteja havendo
algum progresso
no
estabelecimento
de tal ligação –
venha
deliberadamente
a frear tais
esforços.
Eventuais
aberrações
científicas,
conforme aventa
a benfeitora,
como o trabalho
para alterar,
por exemplo,
“... o sexo do
zigoto, ou mais
tarde do feto,
mesmo que se
encontre em
processo de
formação
física”, devem
ser
veementemente
condenadas. Tais
experimentos são
absolutamente
cruéis e
desumanos.
Cientistas que
se envolvem em
tão nefasta
linha de
pesquisa
desrespeitam
sagrados limites
éticos e morais,
e certamente
pagarão muito
caro perante as
leis divinas por
tamanha
hediondez.
Joanna de
Ângelis alerta,
aliás, nesse
particular, que
“... ao abuso
do conhecimento
em qualquer área
sempre
correspondem
danos
equivalentes”
(novamente,
ênfase nossa).
De modo a
esclarecer ainda
mais certos
pontos capitais,
a nobre mentora
enfatiza que
“Parece a esses
investigadores
dos emaranhados
segredos da
existência
planetária, que
lhes é facultado
brincar de
Deus,
alterando os
códigos
genéticos e
criando
aberrações para
atendimento do
seu luxo
criativo [...]”.
No entanto, como
a maioria não
envereda pelas
sábias veredas
estribadas na
epistemologia
espiritual
tem-se a
configuração de
um quadro no
qual “O
desconhecimento
causal ou
proposital do
Espírito, por
esses
investigadores,
e o seu alto
índice de
presunção
intelectual
fazem que,
desatentos às
causalidades
divinas, se
arvorem em
criadores de
outros homens
que deixariam de
acompanhar o
processo da
Natureza,
exclusivamente
direcionados
pelas suas
paixões...”.
Por isso tudo,
adverte a sábia
mentora que
“Cabe, porém, ao
cientista,
curvar-se ante a
grandeza do
Cosmo e
interrogar-se
até onde têm
lugar os
direitos que se
atribui,
especialmente no
que diz respeito
ao que pretende
corrigir
no conjunto
ou em parte, a
Lei natural”. E
aqui é imperioso
que o(a)
candidato(a) a
descobridor do
conhecimento se
empenhe em
conquistar um
patrimônio moral
e espiritual
considerável em
paralelo ao
técnico-científico,
de tal maneira
que as suas
contribuições e
trabalho estejam
sempre alinhados
com o bem.
Joanna de
Ângelis pondera
que “A
engenharia
genética será,
naturalmente, um
instrumento para
dignificação do
ser humano e
entendimento da
vida nas suas
mais profundas
expressões,
jamais recurso
para submetê-lo
às paixões e
desmandos de
outros que dela
planejam
utilizar-se para
tais nefandos
fins”.
E, por fim,
lembra também
Joanna de
Ângelis que “O
corpo, sob
qualquer
condição que se
expresse, é
resultado da
conduta anterior
do Espírito, que
programa as suas
necessidades na
forma, a fim de
crescer e
evoluir,
transformando
conflitos em
paz, débitos em
créditos,
mazelas em
esperanças”.
Diante do
exposto, podemos
concluir que o
Espírito é e
será sempre
caudatário do
seu passado. Se
na trajetória
milenar
prevaleceram
experiências
perturbadoras ou
dissociadas dos
ideais divinos,
é da lei
universal que o
infrator por
meio de
apropriados
determinismos se
reajuste. A
encarnação, em
consequência,
lhe facultará de
uma forma ou de
outra os
elementos
indispensáveis à
reparação.
Quanto a esse
mecanismo
universal de
acerto nada
poderá a ciência
fazer. As
inteligências
brilhantes podem
e devem fazer
todo o possível
para tornar a
experiência
humana nesse
mundo menos
áspera. O seu
conhecimento e
conquistas nessa
direção sublime
são certamente
esperados pelos
maiorais da
espiritualidade.
Nesse sentido,
elas sempre
ocorrerão sob os
beneplácitos do
Criador.