Em conclusão aos dois
artigos anteriores, que
tratam dos capítulos
d'O Evangelho segundo o
Espiritismo e suas
abordagens do Sermão
da Montanha,
trataremos a seguir dos
seus quatro últimos
capítulos, que
abordam diretamente o
assunto. São eles os
capítulos 21, 24, 25 e
27.
Capítulo 21
O capítulo 21 foi
intitulado por Allan
Kardec como Haverá
falsos Cristos e falsos
profetas. Esse
capítulo aborda, além do
contido em Mateus, 7:15
a 20 e 24:4, 5, 11 a 13,
23 e 24, também Lucas,
cap. 6:43 a 45 e Marcos,
13:5, 6, 21 e 22.
Vejamos o que está no
capítulo que encerra o
Sermão da Montanha:
Guardai-vos dos falsos
profetas que vêm ter
convosco cobertos de
peles de ovelha e que
por dentro são lobos
rapaces. Conhecê-los-eis
pelos seus frutos. Podem
colher-se uvas nos
espinheiros ou figos nas
sarças? Assim, toda
árvore boa produz bons
frutos e toda árvore má
não pode produzir frutos
bons. Toda árvore que
não produz bons frutos
será cortada e lançada
ao fogo. Conhecê-la-eis,
pois, pelos seus frutos.
(MATEUS, 7:15 a 20,
apud KARDEC, 2013,
p. 266, item 2.)
Também é de suma
importância para todos
nós, que nos
candidatamos a ser
verdadeiros cristãos,
observar o contido no
item 3 da obra
supracitada, na mesma
página: "Tende cuidado
para que alguém não vos
seduza; porque muitos
virão em meu nome,
dizendo: 'Eu sou o
Cristo', e seduzirão a
muitos".
Kardec ensina-nos que
são chamados profetas os
que possuem "o dom de
adivinhar o futuro".
Nesse caso, explica-nos
ele, "profecia e
predição" são palavras
sinônimas. Contudo,
pode-se ser chamada de
profeta aquela pessoa
que, mesmo sem predizer
o futuro, tem a missão
divina de "instruir os
homens e de lhes revelar
as coisas ocultas e os
mistérios da vida
espiritual" (idem).
Carl Gustave Jung, em
sua obra Memórias,
sonhos, reflexões,
diz-nos que "A aparição
dos ditadores e de toda
a miséria que eles
trouxeram provém de que
os homens foram
despojados de todo o
sentido do Além [...]".
Em geral, esses grandes
ditadores procuram ser
bastante populares e,
aproveitando-se da
ignorância do povo,
aliciam pessoas
ambiciosas pelo poder
para se apresentarem
como verdadeiros
profetas e imporem suas
ideologias desastrosas
para a humanidade.
Infelizmente, tais
falsos profetas sempre
existiram e continuarão
a existir, na Terra,
enquanto esta não se
tornar, exclusivamente,
morada dos bons. Nesse
meio tempo, precisamos
refletir nas palavras e
divulgar a mensagem do
Cristo, não somente por
nossos conhecimentos,
como também por nossas
ações.
Mas também pode ocorrer
de surgirem os falsos
profetas que, se
colocando no lugar de
grandes enviados de
Deus, podem levar muitas
pessoas a cometerem
verdadeiros absurdos,
como vemos, nos dias
atuais, ocorrer com os
fundamentalistas
muçulmanos, que assim se
intitulam à revelia dos
verdadeiros seguidores
do profeta Maomé. Estes
últimos têm vindo a
público afirmar que, no
Corão, não existe
qualquer incitação à
violência, muito menos
ao assassinato em nome
de Deus ou daquele
profeta. Infelizmente, a
própria mensagem
crística, durante
séculos, foi deturpada,
e mesmo o símbolo da
cruz foi tido como uma
espécie de amuleto para
exterminar os "infiéis".
No século passado,
ocorreu um dos mais
hediondos horrores de
que se tem notícia,
provocado por um
fanático psicopata. Em
sua comunidade agrícola
de Jonestown, no dia 18
de novembro de 1978,
após o assassinato de um
jornalista, um
congressista e outras
três pessoas, 918
pessoas foram forçadas
ao autocídio, por
envenenamento, nas
Guianas, pelo "pastor"
chamado Jim Jones, que
se suicidou, em seguida,
com um tiro na cabeça. E
esse homem se julgava
profeta, embora suas
ideias marxistas se
sobrepusessem ao
Evangelho de Jesus.
Diz-se ainda que sua
seita era regrada a
drogas e violências
sexuais, além de coações
e ameaças de morte a
quem desobedecesse a seu
líder ou o denunciasse.
E, por continuarem
existindo falsos cristos
e falsos profetas é que
a mensagem do Cristo
permanece viva, como
alerta à humanidade, e
seus exemplos de vida
também. Em sua
presciência, Jesus
complementou sua
pregação do Sermão do
Monte com estas
palavras, reproduzidas
por Kardec n'O
Evangelho segundo o
Espiritismo: “Tende
cuidado para que alguém
não vos seduza; porque
muitos virão em meu
nome, dizendo: 'Eu sou o
Cristo', e seduzirão a
muitos [...]".
Em complemento à sua
predição futura, nosso
Mestre nos alerta:
"Então, se alguém vos
disser: 'O Cristo está
aqui, ou está ali', não
acrediteis
absolutamente; porquanto
falsos cristos e
falsos profetas se
levantarão e farão
grandes prodígios e
coisas de espantar, ao
ponto de seduzirem, se
fosse possível, os
próprios escolhidos
(MATEUS, 24:4-24, apud
KARDEC, cap. 21, it. 3).
No final do cap. 21, nos
itens 8 a 11, os
Espíritos Luís,
Erasto (discípulo de
Paulo) e Luiz
transmitem-nos
belíssimos
esclarecimentos em suas
mensagens intituladas,
respectivamente, Os
falsos profetas;
Caracteres do verdadeiro
profeta; Os
falsos profetas da
erraticidade; e
Jeremias e os falsos
profetas, que
convidamos o leitor
amigo a ler e refletir,
para que não sejamos
enganados e saibamos
distinguir o falso do
verdadeiro. Para nossa
reflexão sobre este
assunto, extraímos a
frase do Espírito
Erasto, contida no item
9: "[...] os verdadeiros
profetas se revelam por
seus atos, são
adivinhados, ao passo
que os falsos profetas
se dão, eles próprios,
como enviados de Deus. O
primeiro é humilde e
modesto; o segundo,
orgulhoso e cheio de si
[...]".
Capítulo 24
Vejamos, agora, o
contido no Evangelho de
Mateus, 5:15 e sua
relação com o cap.
24 d'O Evangelho
segundo o Espiritismo:
Não ponhais a candeia
debaixo do alqueire.
Lemos em Mateus:
"Ninguém acende uma
candeia para pô-la
debaixo do alqueire;
põe-na, ao contrário,
sobre o candeeiro, a fim
de que ilumine a todos
os que estão na casa".
(5:15, apud
KARDEC, 2013, p. 291.)
No item 4 do cap. 24,
Kardec diz que Jesus
explicou o sentido
oculto sob o "véu da
alegoria" de suas
palavras, quando disse
que falava por parábolas
ao povo, porque nem
todos estavam em
condições de entendê-lo,
mas aos discípulos
falava abertamente, pois
a eles foi dado
compreender suas
palavras. Em seguida a
essa informação, o
codificador da Doutrina
Espírita pondera que se
"a Providência só
gradualmente revela as
verdades, é claro que as
desvenda à proporção que
a Humanidade se vai
mostrando amadurecida
para as receber".
Entretanto, mesmo com os
apóstolos, conservou-se
impreciso acerca de
muitos pontos, cuja
completa inteligência
ficava reservada a
ulteriores tempos. Foram
esses pontos que deram
ensejo a tão diversas
interpretações, até que
a Ciência, de um lado, e
o Espiritismo, de outro,
revelassem as novas Leis
da Natureza, que lhes
tornaram perceptível o
verdadeiro sentido
(KARDEC, op. cit.).
Capítulo 25
O cap. 25 d'O
Evangelho segundo o
Espiritismo,
intitulado Buscai e
achareis, diz
respeito ao contido no
capítulo final do
Sermão da Montanha:
"Pedi e dar-se-vos-á;
buscai e achareis; batei
e abrir-se-vos-á; porque
aquele que pede recebe;
e o que busca encontra;
e ao que bate, se abre"
(Mateus, 7:7, 8).
Diz Allan Kardec que
essa máxima é semelhante
a esta: "Ajuda-te
[...] que o céu te
ajudará. É o
princípio da lei do
trabalho e, por
conseguinte, da lei
do progresso,
porquanto o progresso é
filho do trabalho, visto
que este põe em ação as
forças da inteligência".
(idem)
Em suas primeiras
encarnações, o homem
buscava satisfazer seus
instintos físicos: o
sexo, a fome, a sede e o
sono, ou seja, estava
mais preocupado com sua
sobrevivência e
reprodução. Porém, o
desejo do progresso
incessante o distingue
dos animais, como
informa Kardec. E é a
vontade de melhorar que
impulsiona o homem à
pesquisa, descobertas e
inventos. "Pelas suas
pesquisas, a
inteligência se lhe
engrandece, o moral se
lhe depura. Às
necessidades do corpo,
sucedem-se as do
espírito [...]." Desse
modo, surge a
civilização. Entretanto,
explica o codificador
que, sem a preexistência
e a reencarnação, o
progresso não se
realizaria.
Esclarece-nos, ainda,
Kardec que, sob o
aspecto moral, as
palavras de Jesus
simbolizam o seguinte:
"Pedi à luz que vos
clareie o caminho e ela
vos será dada; pedi
forças para resistirdes
ao mal e as tereis; pedi
a assistência dos bons
Espíritos e eles virão
acompanhar-vos [...];
pedi bons conselhos e
eles não vos serão
jamais recusados [...]"
Em seguida, completa:
"Mas pedi sinceramente,
com fé, confiança e
fervor; apresentai-vos
com humildade, e não com
arrogância, sem o que
sereis abandonados às
vossas próprias forças e
as quedas que derdes
serão o castigo do vosso
orgulho" (op. cit., it.
5).
Capítulo 27
Semelhante ao contido no
cap. 25, no cap. 27
d'O Evangelho segundo o
Espiritismo, Kardec
cita Mateus sobre as
condições de pedirmos
para obter. Agora,
porém, ambos os
evangelhos se referem à
qualidade da prece.
No Evangelho de Mateus,
6:5 a 8, está escrito:
E, quando orardes, não
sejais como os
hipócritas; pois se
comprazem em orar em pé
nas sinagogas, e às
esquinas das ruas para
serem vistos pelos
homens. Em verdade, vos
digo que já receberam o
seu galardão. Mas vós,
quando orardes, entrai
no vosso aposento e,
fechando a porta, orai a
vosso Pai que está em
oculto; e vosso Pai, que
vê secretamente, vos
recompensará. E orando,
não useis de vãs
repetições, como os
gentios, que pensam que,
por muito falarem, serão
ouvidos. Não vos
assemelheis, pois, a
eles, porque vosso Pai
sabe o que vos é
necessário, antes de vós
lho pedirdes.
Esse capítulo precede o
último capítulo d'O
Evangelho segundo o
Espiritismo, que é o
cap. 28 – Coletânea
de preces espíritas.
No cap. 27, intitulado
Pedi e obtereis,
Kardec esclarece-nos de
que não são válidas as
preces decoradas, como
será dito no cap.
seguinte. O importante,
diz o codificador do
Espiritismo, é orar com
humildade, "como o
publicano, e não com
orgulho, como o fariseu"
(KARDEC, cap. 27, it.
4).
Atualmente, diversas
pesquisas vêm
confirmando a eficácia
da prece. Porém, como
diz Kardec, Deus sabe o
que é melhor para nós e,
o mais importante, em
nossa oração, é
pedir-Lhe "coragem,
paciência, resignação".
Desse modo, como foi
explicado no cap. 25 d'O
Evangelho segundo o
Espiritismo, o
mérito da ajuda Divina
decorrerá, sempre, do
nosso esforço e,
consequentemente,
merecimento. Por isso
informamos, no início da
abordagem deste capítulo
27, sua analogia com o
cap. 25, no que se
refere ao "pedi e
obtereis", cujo sentido
oculto é "Ajuda-te, que
o céu te ajudará". Não
existem privilégios na
Lei de Deus, pois, como
disse Jesus: "a cada um
será dado segundo as
suas obras" (Mateus,
16:27).
Isso não significa,
porém, que seja inútil
orar. No item 9 do cap.
27 d'O Evangelho
segundo o Espiritismo,
Kardec explica-nos que
“a prece pode ser feita
com nossa intenção de
pedir, agradecer ou
louvar; assim como
podemos orar por nós
mesmos ou por outrem,
pelos vivos ou pelos
mortos". Deus nos atende
por intermédio dos
"Espíritos incumbidos da
execução de suas
vontades"; e nada ocorre
sem o Seu consentimento.
Mas de que modo somos
atendidos? Esclarece-nos
Kardec que os bons
Espíritos dão-nos "a
força moral necessária a
vencer as dificuldades e
a volver ao caminho
reto", se nos afastamos
deste. Podem ainda
desviar de nós os males
que nossas faltas
atrairiam. Em vista
disso, lembramos a
recomendação dada por um
Espírito superior a
Allan Kardec, no cap.
IX, item 13 d'O Livro
dos Médiuns: "Sede
sempre bons e somente
bons Espíritos tereis
junto de vós".
Diz o Espírito Monod, no
capítulo 27 em análise,
item 22, primeiro
parágrafo, que "O dever
primordial de toda
criatura humana, o
primeiro ato que deve
assinalar a sua volta à
vida ativa de cada dia,
é a prece". No segundo
parágrafo, faz Monod
esta exortação sobre o
que devemos fazer, tão
logo acordemos,
diariamente:
A prece do cristão, do
espírita, seja qual for
o culto, deve ele
dizê-la logo que o
Espírito haja retomado o
jugo da carne: deve
elevar-se aos pés da
majestade divina com
humildade, com
profundeza, num ímpeto
de reconhecimento por
todos os benefícios
recebidos até aquele
dia; pela noite
transcorrida e durante a
qual lhe foi permitido,
ainda que sem
consciência disso, ir
ter com os seus amigos,
com os seus guias, para
haurir, no contato com
eles, mais força e
perseverança. Deve ela
subir humilde aos pés do
Senhor, para lhe
recomendar a vossa
fraqueza, para lhe
suplicar amparo,
indulgência e
misericórdia. Deve ser
profunda, porquanto é a
vossa alma que tem de
elevar-se para o
Criador, de
transfigurar-se, como
Jesus no Tabor, a fim de
lá chegar nívea e
radiosa de esperança e
de amor.
Em seguida,
esclarece-nos o Espírito
Monod que não se deve
pedir ao Senhor nos
abreviar as provas e nos
conceder riqueza e, sim,
que nos dê paciência,
resignação e fé. Enfim,
que nos fortifique nos
propósitos de sermos
cada vez melhores.
Em seguida, lemos, na
mensagem final do
capítulo, item 23, a
frase que citamos
abaixo, de Santo
Agostinho:
Avançai, avançai pelas
veredas da prece e
ouvireis as vozes dos
anjos. Que harmonia! Já
não são o ruído confuso
e os sons estrídulos da
Terra; são as liras dos
arcanjos; são as vozes
brandas e suaves dos
serafins, mais delicadas
do que as brisas
matinais, quando brincam
nas folhagens dos vossos
bosques. Por entre que
delícias não
caminhareis! A vossa
linguagem não poderá
exprimir essa ventura,
tão rápida entra ela por
todos os vossos poros,
tão vivo e refrigerante
é o manancial em que,
orando se bebe.
Dulçurosas vozes,
inebriantes perfumes,
que a alma ouve e
aspira, quando se lança
a essas esferas
desconhecidas e
habitadas pela prece!
E assim concluímos esse
maravilhoso estudo sobre
as Bem-aventuranças do
Sermão do Monte, que
tantas bênçãos nos
trazem às existências,
quando, em companhia dos
bons Espíritos,
encarnados e
desencarnados,
aprendemos a
Orar e vigiar
(jlo)
Jesus recomendou-nos
vigiar
E orar constantemente em
sã guarida,
Porque somos tentados
sem cessar
Pelos que têm sua alma
entorpecida.
Ao ver Judas chegar para
o beijar,
Não condenou sua alma
adormecida
E logo após seu grupo o
abandonar,
Jesus, por todos nós dá
sua vida.
Ora e vigia, disse-nos o
Cristo,
Pois é preciso ter muita
cautela
Para vencer o mundo como
eu fiz.
Guarda no peito e em tua
mente isto:
Mesmo que em meio à
força da procela,
Por Deus não passa nada
sem ser visto.