Outra leitura sobre a
resposta do papa à
criança
Foi amplamente noticiada
nas redes sociais a
resposta ou a falta de
resposta do papa
Francisco a uma criança
em sua visita às
Filipinas. Comentou-se
bastante a fala do Sumo
Pontífice, não faltando
elogios à sua
sensibilidade e carinho
em relação à menina.
Pelo seu estilo direto,
arrojado e algumas vezes
carinhoso, dependendo da
situação, este papa, ao
contrário de seu
antecessor, vem
surpreendendo aos
católicos e, também, aos
adeptos de outras
denominações religiosas.
Observa-se, portanto,
uma expectativa positiva
sobre suas ações no
mundo, não apenas sobre
as questões de
religiosidade, mas,
também, sobre questões
políticas mais
delicadas,
principalmente em favor
do diálogo entre as
nações e dos direitos
humanos daqueles a quem
se nega o acesso a uma
vida minimamente
decente. Entretanto, é
exatamente sobre as
questões religiosas ou
filosófico-religiosas
onde, como seu
antecessor, o papa
Francisco parece
encontrar maiores
dificuldades. O papa
Bento, em seu
pontificado,
deparando-se com as
barbaridades cometidas
pelo nazismo e diante de
interlocutores que
esperavam dele algo
construtivo, inquiriu, à
guisa de resposta, o que
parecia indicar mais
fragilidade na fé do que
confiança: - Onde estava
Deus, ao permitir
tamanho absurdo?
A pergunta/resposta soou
estranha, pois afinal,
segundo a doutrina
católica, o papa é
representante de Deus na
Terra. Logo ele deveria
saber onde Deus estava
ou, em outras palavras,
por que permitira tais
acontecimentos. Essa
mesma incerteza é
utilizada por aqueles
que não creem na
existência divina e
pretendem fazer
proselitismo,
engrossando as fileiras
do ateísmo. Agora, em um
quesito semelhante,
quanto de uma suposta
permissão de Deus ao
sofrimento, o papa
Francisco opta por dizer
que não sabe responder a
pergunta da garotinha.
Qual foi a pergunta? Por
que é uma pergunta
difícil de ser
respondida?
"Hay muchos niños
rechazados por sus
padres, hay muchos que
se convierten en
víctimas y les pasan
muchas cosas horribles,
como la droga o la
prostitución. ¿Por qué
Dios permite que pasen
estas cosas, aunque no
sea culpa de los niños?
Y, ¿por qué hay tan
pocas personas que nos
ayuden?", le preguntó
Gljzelle Palomar, de 12
años, al papa.
Esta foi a pergunta,
mantida na língua em que
foi traduzida ao papa
para preservar o
contexto, quando de sua
visita a Manilha.
Observe o leitor que a
fala da menina contém
uma afirmação de caráter
irrefutável, porque
baseada na observação
pública, e duas
perguntas. Segue-se,
então, a resposta do
sumo pontífice.
“Não sei responder à sua
pergunta, não existe uma
resposta: somente quando
formos capazes de chorar
sobre as coisas que você
disse, seremos capazes
de responder a esta
pergunta: por que as
crianças sofrem?”
Esta foi a resposta que
o papa
teria dado.
Sensibilizar-se com o
sofrimento dos jovens e
crianças, expressar amor
e empatia, conclamar
todas as pessoas para
cerrar fileiras em
benefício de uma
infância saudável e
esperançosa, exigir dos
governos que todas as
crianças sejam
respeitadas,
alimentadas, protegidas
e educadas, longe dos
artefatos bélicos, mesmo
os de brinquedos e,
ainda, que ninguém negue
a elas o direito a ter
respostas para as suas
dúvidas e aspirações de
conhecimento, são
tarefas impostas a todos
os adultos.
Aquela criança, e todas
as crianças que desejam
saber o porquê do
destino e da dor, têm o
direito a esse
conhecimento. Que se
ponham os sábios e os
líderes religiosos em
assembleia a conversar
sobre a questão. No
entanto, o problema que
a criança traz é simples
e, salvo engano, possui
apenas quatro
alternativas mais
prováveis de respostas,
de acordo com o
conhecimento produzido
no mundo: (a) Deus não
existe e essa ideia de
um Criador é uma ilusão
para manter as pessoas
submissas e dominadas;
(b) Deus existe, mas não
se importa com esses
acontecimentos, por isso
os permite; (c) Deus
existe e se importa com
o sofrimento das
crianças, porém deu ao
homem o livre-arbítrio
e, por isso, só pode
agir no futuro, no dia
do julgamento, quando
fará a separação entre
os bons e os maus e,
certamente, abrirá para
as crianças as portas do
paraíso; (d) Deus envia
Espíritos evoluídos com
a tarefa de ensinar a
humanidade a compreender
o porquê da dor e
alcançar a felicidade,
porém essa é uma
aquisição resultante de
esforço de cada um em
muitas reencarnações,
até que ocorra uma
transformação mais ampla
e, então, os homens se
sentirão responsáveis
por todas as crianças.
Obviamente, independente
da alternativa
escolhida, aquele que
responde a essa questão
deveria apresentá-la de
maneira didática e
delicada à criança. É
possível supor que o
papa saiba a resposta
para o problema do ser,
do destino e da dor,
trazido pela menina, mas
evitou uma resposta
direta para não abordar
questões teológicas
relacionadas ao dogma da
vida única, aceito pela
Igreja. A criança
expressou a dúvida de
centenas de milhares de
crianças no mundo todo:
como conciliar a
presença de Deus com
esses sofrimentos? Todos
os educadores
espiritualistas (e o
papa é um deles) devem
assegurar às crianças
que Deus, nosso Pai, e
Jesus, nosso irmão, não
são os responsáveis
pelos sofrimentos delas.
O sofrimento é resultado
direto da condição de
inferioridade espiritual
que ainda vivemos e,
quando tivermos avançado
na edificação do “Reino
de Deus”, como Jesus um
dia nos asseverou,
estaremos vivendo as
bem-aventuranças
prometidas.
Contudo, as
bem-aventuranças não são
gratuitas. Elas são
condicionais a várias
aquisições espirituais
como, por exemplo,
mansidão, amor à
justiça, coragem diante
da perseguição etc. O
Reino de Deus está
dentro de nós e não o
veremos (edificaremos)
se não nascermos
(reencarnarmos)
novamente (João 3:1/15).
Situações semelhantes a
que viveu o papa Bento
ou perguntas, como as
que foram feitas pela
menina de Manilha ao
papa Francisco,
continuarão causando
embaraços, enquanto
persistir a doutrina de
uma vida única.