Minha avó
avisava que
quando uma
mulher se
sentisse triste
a melhor coisa
que podia fazer
era atravessar
um bosque
habitado por
velhas árvores,
e para lhes
transmitir,
durante o
trajeto, esse
estado emocional
sombrio.
Ademais, dizia,
durante a noite,
enquanto as
pessoas
repousam, essa
matéria escura,
que foi de
maneira gentil
pelas árvores
absorvidas,
adentrará
finalmente a
terra para lhe
servir de
generoso adubo.
Mas no caso de
ausência de
bosque, deveria
ter cuidado a
mulher para que
a tristeza não
se apossasse de
sua cabeça,
porque iria
impregnar sem
piedade as suas
ideias ou mesmo
escorregar para
a boca,
intoxicar suas
palavras,
tornando feio ou
denso o seu
discurso
cotidiano.
Mas pior ainda
se a tristeza
migrasse para
suas mãos, pois
sem vergonha
atingiria a
comida,
deixando-a pobre
ou, por
descuido,
insossa e
indigesta.
Grave também
seria se a
tristeza,
perante uma
mulher
desprevenida,
permitisse que
tempo suficiente
lhe fosse
arranjado para
se alojar no
campo fecundo do
coração,
furtando-lhe
para sempre o
sal de cada
dia.
Melhor seria,
ela dizia, na
hipótese de uma
tristeza densa,
se a mulher
pudesse cultivar
um jardim:
“Quando você
ficar
reiteradamente
triste,
decida-se por
cultivar com
muito cuidado e
atenção o seu
jardim.
Diariamente, por
uns instantes,
caminhe entre as
plantas,
observe-as com
delicadeza,
sinta o cheiro
das benditas
flores. Respire
sem pressa,
contemple a
matéria
invisível do
vento, pois ele,
por si só, sem
modéstia,
arrastará para
longe essa
descabida
tristeza, cuja
natureza fria,
que destoa do
destino de um
jardim, faz o
coração
estalante e
seco, a vida
insincera e
vazia“.
Hoje em dia,
quando percebo
mulheres
tristes,
mulheres que
vivem nas
grandes cidades,
o mistério tão
esquecido,
distantes dos
bosques e das
velhas árvores,
pressinto que
elas podem se
apoiar em
árvores
crescidas nas
ruas, nas
praças, ou, na
falta disso,
modestamente
escolher
cultivar, com
amor e coragem,
flores na
varanda do
apartamento.
Tenho uma amiga
que mora em São
Paulo. Contou-me
que nos últimos
tempos se sentia
invadida por uma
tristeza
resiliente, que
a fitava, o
indiferente
olhar de um
moribundo, e
começou a intuir
uma casa com
cheiro de mato.
Não teve
dúvidas, correu
atrás e se
decidiu por um
mini jardim
vertical, cheio
de liberdade
para ervas e
temperos. Ao
terminar sozinha
o projeto,
queria ainda a
todo custo uma
árvore que tanto
amava desde a
infância:
socorreu-se em
uma miniatura e
hoje, o vaso com
romãzeira,
dá uma flor
linda,
revigorando de
encanto e
alegria, bem no
fundo, os
habitantes da
casa.
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puder,
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