Um leitor desta revista
enviou-nos esta pergunta: A
lei de destruição também se
aplica ao mundo espiritual?
Vejamos, inicialmente, o que
é ensinado na doutrina
espírita a respeito da lei
natural ou divina, tema esse
suscitado na questão 648 d´O
Livro dos Espíritos, que
adiante reproduzimos:
648. Que pensais da divisão
da lei natural em dez
partes, compreendendo as
leis de adoração, trabalho,
reprodução, conservação,
destruição, sociedade,
progresso, igualdade,
liberdade e, por fim, a de
justiça, amor e caridade?
“Essa divisão da lei de Deus
em dez partes é a de Moisés
e de natureza a abranger
todas as circunstâncias da
vida, o que é essencial.
Podes, pois, adotá-la, sem
que, por isso, tenha
qualquer coisa de absoluta,
como não o tem nenhum dos
outros sistemas de
classificação, que todos
dependem do prisma pelo qual
se considere o que quer que
seja. A última lei é a mais
importante, por ser a que
faculta ao homem adiantar-se
mais na vida espiritual,
visto que resume todas as
outras.”
A lei de destruição é
examinada nas questões 728 e
seguintes da mesma obra.
Sobre os objetivos e a
importância dessa lei, os
instrutores espirituais
afirmam que é preciso que
tudo se destrua para
renascer e se regenerar.
Contudo, o que chamamos
destruição não passa de uma
transformação, que tem por
fim a renovação e melhoria
dos seres vivos. Para se
alimentarem os seres vivos
reciprocamente se destroem,
destruição essa que obedece
a um duplo fim: manutenção
do equilíbrio na reprodução,
que poderia tomar-se
excessiva, e utilização dos
despojos do invólucro
exterior que sofre a
destruição. Mas esse
invólucro é simples
acessório e não a parte
essencial do ser pensante,
que é o princípio
inteligente, que não se
destrói e se elabora nas
metamorfoses diversas por
que passa.
No caso de nós, seres
humanos, assistimos em cada
existência ao processo de
degradação e morte do nosso
próprio corpo, que se esvai,
sem afetar a alma, que se
apropria do conhecimento e
das virtudes que adquiriu
valendo-se desse instrumento
admirável que nos permite
participar, em nosso plano,
da obra da Criação.
É evidente que a necessidade
de destruição se modifica
com a evolução dos mundos e
das pessoas que neles vivem.
É o que a doutrina espírita
nos ensina nas questões
adiante reproduzidas:
618. São as mesmas, para
todos os mundos, as leis
divinas?
“A razão está a dizer que
devem ser apropriadas à
natureza de cada mundo e
adequadas ao grau de
progresso dos seres que os
habitam.”
732. Será idêntica, em todos
os mundos, a necessidade de
destruição?
“Guarda proporções com o
estado mais ou menos
material dos mundos. Cessa,
quando o físico e o moral se
acham mais depurados. Muito
diversas são as condições de
existência nos mundos mais
adiantados do que o vosso.”
Não existe, pois, motivo
para entender que a lei de
destruição não seja
aplicável – dentro de certos
limites - ao plano
espiritual, onde as cidades,
as casas, os objetos e o
próprio corpo espiritual são
formados igualmente de
matéria, conquanto diversa
daquilo que entendemos por
matéria no plano em que
vivemos.
A título de exemplo,
lembramos aqui a experiência
relatada por André Luiz no
capítulo 10 de seu livro
Obreiros da Vida Eterna,
obra psicografada pelo
médium Francisco Cândido
Xavier, publicada em 1946
pela editora da Federação
Espírita Brasileira. Nele, o
autor descreve a utilização
de uma série de providências
– o chamado fogo renovador –
ocorridas na área que era
então atendida pela Casa
Transitória de Fabiano.
Eis um breve relato do que
foi narrado por André Luiz:
Todos os servos do bem em
trânsito na Casa Transitória
foram chamados a cooperar na
vigilância. O instituto
socorrista deveria partir
dentro de quatro horas e
nesse tempo seria grande o
número de infortunados que
buscariam abrigo. Em
seguida, novo trovão
ribombou nas alturas. O fogo
riscou em diversas direções,
muito longe ainda, mas André
teve a nítida impressão de
que a descarga elétrica não
se detivera na superfície.
"Penetrara a substância sob
nossos pés, porque espantoso
rumor se fez sentir nas
profundezas", observou André
Luiz, que parecia
intranquilo diante daquele
fenômeno. Jerônimo procurou
tranquilizá-lo explicando
que o trabalho dos
desintegradores etéricos,
invisíveis aos seus olhos,
tal a densidade ambiente,
evitava o aparecimento das
tempestades magnéticas "que
surgem, sempre, quando os
resíduos inferiores de
matéria mental se amontoam
excessivamente no plano".
Enquanto isso, aparelhos de
comunicação funcionavam em
ritmo acelerado, anunciando
o fato, em direções várias,
avisando peregrinos da
espiritualidade superior, a
fim de não se aproximarem da
zona sob regime de limpeza.
Sucederam-se outros ribombos
ameaçadores, despejando fogo
na superfície e energias
revolventes no interior do
solo. Ondas maciças de
sofredores aterrados
começaram, então, a alcançar
as defesas. Era dolorosa a
contemplação da turba
amedrontada que clamava por
socorro. O quadro exterior
tornava-se ainda mais
dramático, porque fogueiras
enormes dilatavam-se em
direções diversas e raios
fulgurantes eram
metodicamente despejados do
céu, exigindo vasta dose de
paciência de todos para
conter a multidão furiosa.
(Obreiros da Vida Eterna,
cap. 10.)
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