MARCUS VINICIUS
DE AZEVEDO BRAGA
acervobraga@gmail.com
Rio de Janeiro,
RJ (Brasil)
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Narciso
decepcionado
Chegamos ao
final de um ano
agitado, com
eleições, Copa
do mundo, crises
econômicas,
falta de água,
desastres
aéreos,
manifestações
populares e
alterações
climáticas. A
conversa
cotidiana é
tomada de
extremismos, em
um acaloramento
nas relações
presenciais e
virtuais, que
tem marcado o
nosso tempo, com
diálogos
manifestos de
ódio,
materializados
em situações
deprimentes, de
agressões e
xingamentos, que
por vezes
transbordam para
ações
criminosas.
Muito desse ódio
atribuo,
empiricamente,
pela observação,
a um ser humano
inundado de
informação e que
se defronta
consigo mesmo,
suas
imperfeições e
fragilidades e,
diante desse
quadro
dantesco..., se
decepciona.
Sim, isso mesmo,
somos narcisos
decepcionados.
Decepcionados
com a nossa
natureza
traduzida em
atitudes, com a
constatação mais
patente de que
não podemos
terceirizar para
monstros, vilões
e demônios as
nossas mazelas.
Somos nós, causa
primária dos
problemas de
nosso planeta,
como o sal da
Terra falado por
Jesus.
Ingenuamente,
cremos em um
mundo
praticamente já
regenerado,
aguardando
apenas o carimbo
divino, e, ao
abrirmos o
jornal no
ensolarado
domingo,
observamos,
estupefatos, a
selva que a vida
moderna nos
apresenta, com o
mesmo Espírito
encarnado que
exaltamos, à
frente de crimes
e protagonizando
cenas
lamentáveis. A
mão que faz o
samba faz a
bomba! Essa
contradição nos
choca...
Confundimos
novidades
mercadológicas e
avanços
tecnológicos com
o aprimoramento
moral. Em termos
espirituais,
ainda temos uma
longa estrada a
percorrer. Ah,
temos que
registrar, é
claro, que
deixamos de
lado, pelo menos
no discurso,
mazelas como a
escravidão de
nossos irmãos e
tantas outras
práticas
deploráveis e,
ainda que
distantes do
homem de bem
pretendido,
precisamos
enxergar os
avanços obtidos
e, mais que
tudo, o caminho
a ser trilhado.
O desafio da
regeneração nos
demanda
esperança e
dedicação
cotidiana. A
decepção, fruto
da expectativa,
só tem utilidade
se nos trouxer a
reflexão e, em
excesso, pode
ser fonte de
grande
estagnação. É
preciso fé na
vida, fé no ser
humano, no seu
destino para o
bem! Mas essa fé
não nos exime de
conhecer a nós
mesmos, nossas
chagas morais,
como diagnóstico
necessário à
cura.
O ódio não é
educativo. O
ódio é um amor
doente.
Educativo é o
diálogo. Ainda
que achemos, no
discurso, que ao
mundo está
faltando mais
reprimenda,
vemos que o que
nos falta é o
amor como força
poderosa a
revolucionar a
humanidade. A
decepção com o
mundo, refletida
no ser humano,
nos conduz à
depressão e ao
suicídio. O
trabalho, o
amor, a
reflexão, esses
nos conduzem à
libertação.
A mensagem
espírita é de
renovação. Um
olhar para o
espelho que não
visa à
admiração, nem à
comparação. Um
olhar para si
mesmo com vistas
ao
aprimoramento,
no trabalho
artesanal do
cotidiano. O
desafio é este,
e a vida – essa
é eterna!
As fraquezas do
Espírito
encarnado não
são de agora...
veem-se, de
fato, mais
valorizadas,
pela velocidade
de um mundo
globalizado e
conectado. Somos
nós mais uma vez
figurando nos
palcos do mundo,
com o nosso
atraso do
Espírito
encarnado de
todos já
conhecido,
colecionando
pequenos avanços
e pagando preços
geracionais pela
nossa leniência,
na dura romagem
da evolução, a
passos de
formiga.
Importa o
balanço desses
avanços, seu
reconhecimento,
e beber dessa
fonte olhando
para frente,
como comunidade
de Espíritos
encarnados, e,
ainda que não
vejamos um mundo
regenerado,
penso que já
temos lampejos
do caminho a ser
trilhado.
Contra a
decepção e o
pessimismo: a fé
e a esperança.
Em relação aos
desafios: a
força do
trabalho e a
orientação do
estudo. Essa
adolescência da
humanidade em
que vivemos,
meio revoltados,
meio
deslumbrados, é
a chave atual
para nosso
amadurecimento
como
coletividade
encarnada. E,
para isso, temos
que transcender
o olhar no
espelho, saindo
de nós mesmos e
olhando o outro,
ao nosso redor.