De: Maria Lezi de Freitas (Porto Alegre, RS)
Segunda-feira, 4 de maio de 2015 às 23:57:44
Reflexões.
Este texto não tem a intenção de estudar nem uma obra particularmente neste momento e sim oferecer algumas reflexões sobre o ainda não pensado ou que não foi pensado desta maneira, deste ponto de vista.
Diante da proximidade da data de 13 de maio (1888), dia da abolição da escravidão negra no Brasil, é oportuno que façamos profundas reflexões:
1) Sobre a própria lei abolicionista, lei de um único artigo que determinava a extinção do regime escravagista sem nem uma outra providência;
2) Entendemos que a ausência de proteção a partir da abolição fez prosseguir os mesmos desmandos e originou toda sorte de preconceitos e mitos vigentes até hoje em nossa sociedade;
3) A ausência de estudos sérios e respeitosos sobre a cultura africana e as relações étnico-raciais nas escolas, universidades (formação de professores), nas sociedades religiosas como um todo e na doutrina espírita, que não progrediu absolutamente nada nesta questão; é mesmo assustador o tipo de raciocínio utilizado pelos confrades. Em nenhum momento pararam para COMPREENDER e seguem repetindo "somos todos iguais, somos todos irmãos". Admitem que os negros foram escolhidos por Jesus para dar o exemplo da humildade; para isto precisavam ser humilhados; que história mal contada é esta? é sem dúvida absurdo no grau supremo. Pois se uns fossem escolhidos para sofrer, outros seriam escolhidos para serem os algozes, mas como foi Jesus quem escolheu, então os algozes estão corretos, porque apenas cumpriram e cumprem as ordens do Cristo. Mãos lavadas, bela zona de conforto que fazem a perturbação social e a dor individual.
4) Importante que aqueles que se sentem na zona de conforto passem a estudar a si mesmos, se dispam de negações, medos, orgulho, vaidades, arrogâncias...
5) Que a reencarnação não seja vista apenas de forma teórica, só pelo intelecto, mas seja trazida à consciência, sentimento, coração.
6) Não briguem com Deus, querendo que predomine no Brasil uma única raça, isto é ridículo; mestiços já somos, somos extremamente miscigenados tanto na pele como na cultura, embora muitos continuem querendo que a cultura negra seja engolfada pela cultura de origem europeia; ledo engano. Todos sabemos que para se tornar negro ou branco bastam 3 gerações (para onde pender aquela descendência, é assim que vai ficar).
7) As uniões matrimoniais inter-raciais vão continuar acontecendo; é natural. Não sejamos hipócritas a ponto de esconder os negros da família e nem racistas, e dizer que não pode ou não deve haver estas uniões; bem ou mal convivemos, então é natural que aconteça. Porém sempre existirão negros. Tenhamos tranquilidade
8) Nosso dever é sermos universalistas, uma vez que Deus e Jesus o são; como poderíamos ser reducionistas dos bens e das oportunidades que vêm do CRIADOR. Deus expande e não segrega, a própria natureza nos dá o exemplo.
9) Há livros ditados por espíritos que são eminentemente racistas, querem perpetuar este estado de coisas. Não sei por engano ou com qual intenção dizem que no Brasil o preconceito não foi escrito nas leis; foi sim, há documentos datados do pós-abolição que transcrevem tais proibições como: negro não pode ser caixeiro (balconista), não pode andar nas ruas após 21 horas, não podem ser sepultados em cemitério de brancos, não pode entrar na igreja (católica) etc. Por que estes espíritos querem esconder isto? foi engano? foi erro de quem ditou ou de quem escreveu?
10) Acredito que cabe agora tomarmos coragem e lançarmos outro olhar sobre esta questão; isto é, se quisermos uma sociedade mais justa e mais harmônica. Segundo historiadores brasileiros as pesquisas mais reveladoras estão sendo feitas a partir de Portugal, porque no Brasil não há documentação suficiente, documentos foram queimados pelo pensamento mágico e ilusório de que assim se extinguiria "a vergonha da escravidão", apagando todos os sentimentos relacionados.
11) Tudo o que dizem sobre o sofrimento dos escravos não pode ser entendido como medida de suas almas, pois que eram impedidos do direito sagrado do livre-arbítrio. Os próprios espíritos vêm contar, nas casas espíritas os desencarnados e nas regressões terapêuticas os encarnados, de onde procedem suas dores, traumas, manias. Torturas recebidas em tempos muito distante repercutem ainda hoje, assim também impedimentos, cerceamentos de liberdade, etc. A própria psicologia profunda estudada hoje pelos espíritas explicita que não precisamos da dor para aprender, quanto mais a dor imposta por tirania.
12) A questão da servidão na África era completamente diferente da imposta pelos europeus e nem Jesus precisaria se valer de tal expediente: escravizar um povo pelos erros de apenas alguns; a mesma doutrina onde escuta estes absurdos também se acredita que Ele disse a cada um de acordo com suas obra, e não consta que tenha dito tu agora vais pagar pelo que o teu irmão fez.
13) Para que possamos dar conta de tantas contradições, é necessário estudar com verdade, vamos abrir os livros de papel sem medo compreendendo que o que se disse até agora foram apenas tentativas de justificar a escravidão. Mas além disso vamos abrir também as páginas da nossa alma; na obra de Deus há lugar para todos, ninguém precisa temer ficar sem o seu, porque outros se habilitaram. As regras de convivência devem levar em conta a alteridade.
O que escrevi é resultante de experiências próprias, leituras, observações, trabalhos realizados. Honestamente até bem pouco tempo não tinha pensado em escrever para publicar; não me importava de guardar nome de livros nem páginas das citações, apenas assimilava o conteúdo de acordo com meu íntimo e fazia as elucubrações que achava pertinentes. Agora vejo que devo ser mais atenta, mais cuidadosa. Diante do que tenho encontrado escrito, do que tenho ouvido em palestras, passei a sentir como necessário fazer algumas intervenções.
Maria Lezi
Resposta do Editor:
Publicamos na íntegra a carta acima em que a leitora expressou com toda a liberdade o que pensa sobre racismo, escravidão e abolição da escravatura. No tocante, porém, ao que escreveu sobre o equívoco dos textos espíritas a respeito do tema, entendemos que ela não leu, ou não compreendeu, as obras espíritas e os textos publicados nesta revista sobre os aludidos temas.
Jesus não exerceu papel algum no advento do regime de escravidão no Brasil, como a leitora equivocadamente afirma. E em nenhum momento se pretendeu nesta revista justificar o lamentável sistema escravagista que tanto sofrimento causou a gerações inúmeras oriundas dos povos africanos.
Seria interessante para a autora da carta, e todos que se interessam pelo tema, ler a entrevista que sobre o mesmo assunto nos foi concedida pelo conhecido professor, orador e médium J. Raul Teixeira, na qual ele analisa diversas questões que aparecem no texto acima, permitindo-nos compreender melhor esse triste período da história do nosso país. Eis o link que remete à entrevista – http://www.oconsolador.com.br/5/entrevista.html
Outros textos que focalizaram nesta revista o tema em questão são estes:
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