Idosos e
reconhecimento
Nem tudo que diz
respeito ao país é
negativo, especialmente
nesse momento delicado
em que as máscaras caem
e as individualidades se
revelam por inteiro.
Felizmente, há também
fatos alvissareiros que
merecem ser destacados.
Um deles trata da emenda
constitucional que eleva
o limite de idade – de
70 para 75 anos - para
aposentadoria
obrigatória dos membros
do Supremo Tribunal
Federal. Embora tal
mudança possa parecer
apenas uma pequena
extensão na carreira dos
juízes ali alojados, ela
também pode ensejar
alterações similares em
outras áreas do
funcionalismo público.
Com efeito,
destituir um
cidadão do seu
cargo só porque
ele tenha
atingido certo
limite etário é
algo que agride
o bom senso,
especialmente se
considerarmos a
sua capacitação,
o aumento da
longevidade
humana e o
crescimento da
taxa de
envelhecimento
da população
(ver, a
propósito, outro
texto relativo a
essa temática de
nossa lavra em:
http://www.oconsolador.com.br/ano8/391/anselmo_vasconcelos.html).
Nesse sentido,
as normas e leis
devem ser mais
flexíveis, de
modo a abrigar
as acentuadas
mudanças
demográficas ora
em curso.
Um cidadão mais
velho,
desfrutando de
boa forma física
e mental, tem
ainda muito a
contribuir para
a sociedade. A
sua experiência,
conhecimento e
sabedoria podem
ser extremamente
úteis no
enfrentamento de
certos problemas
e dilemas, bem
como na
orientação aos
mais jovens
(particularmente
como mentores).
Aliás, as
pesquisas
científicas
indicam, no
geral, que o
indivíduo mais
velho perde com
os anos certa
dosagem de
inteligência
fluída (que
envolve a
capacidade de
aprendizagem,
compreensão,
abstração e
solução de
problemas),
memória de curto
prazo e
velocidade de
cognição; em
contrapartida o
raciocínio
lógico e a
expertise
profissional
provavelmente
aumentam.
Basicamente, o
cidadão mais
longevo tende a
ser portador de
considerável
inteligência
cristalina,
isto é, de
capital humano
geral, de
know-how, de
habilidades
linguísticas e
ortográficas, de
estratégias de
pensamento, de
inteligência
prática, de
competência
social e de
habilidade de
ambivalência.
Grosso modo, a
inteligência
cristalina (que
é fortemente
estribada no
capital humano
geral e
conhecimento)
estabelece a
fundação da
sabedoria.
Portanto, é
louvável e
inteligente dar
espaço para a
cooperação/colaboração
de membros desse
grupo. Afinal,
eles têm muito
ainda a
oferecer.
No entanto, a
sociedade
brasileira não
costuma dar
demonstrações
eloquentes de
apreço e
consideração
para esses,
digamos,
talentos
maduros. Por
exemplo, um dos
maiores bancos
do país, o Itaú,
tem enfrentado
problemas para
achar um
substituto para
o seu
presidente, que
está chegando ao
limite
estabelecido
para o cargo de
apenas 60 anos.
Ou seja, no
mundo do
trabalho
contemporâneo,
um profissional
nessa faixa
etária já está
sujeito a ser
alijado em
termos de
oportunidades e
reconhecimento.
Outro exemplo
chocante dessa
realidade é dado
pelas
estatísticas das
150 melhores
empresas para
trabalhar no
país. A
percentagem de
empregados com
idade superior a
40 anos
trabalhando para
essas destacadas
empresas
privadas não
ultrapassa
sequer os 23,4%.
Tal resultado
denota
simplesmente que
o indivíduo mais
maduro não
encontra campo
suficiente para
mostrar as suas
qualidades.
Cumpre lembrar
ainda que o
valor pago pelo
Estado para
aposentadorias
são extremamente
irrisórios
diante do
altíssimo custo
de vida. Por
conseguinte,
poucos conseguem
ter condição de
desfrutar de uma
velhice digna e
verdadeiramente
compatível com
as suas
necessidades
básicas.
Não é por outra
razão que se
observa muitos
idosos nas
grandes
metrópoles ainda
trabalhando em
atividades de
baixíssima
remuneração tais
como entregar
panfletos ou
vender doces,
salgados e
bebidas em
cruzamentos de
avenidas e ruas,
entre outras
ocupações
modestas. N’
O livro dos
Espíritos
(questão 685)
encontramos
interessante
apontamento
sobre essa
problemática
social que vale
a pena mencionar
– ou seja:
“Não basta se
diga ao homem
que lhe corre o
dever de
trabalhar. É
preciso que
aquele que tem
de prover à sua
existência por
meio do trabalho
encontre em
que se ocupar, o
que nem sempre
acontece.
Quando se
generaliza, a
suspensão do
trabalho assume
as proporções de
um flagelo, qual
a miséria. A
ciência
econômica
procura remédio
para isso no
equilíbrio entre
a produção e o
consumo. Mas,
esse equilíbrio,
dado seja
possível
estabelecer-se,
sofrerá sempre
intermitências,
durante as quais
não deixa o
trabalhador de
ter que viver.
Há um elemento,
que se não
costuma fazer
pesar na balança
e sem o qual a
ciência
econômica não
passa de simples
teoria. Esse
elemento é a
educação, não a
educação
intelectual, mas
a educação
moral. [...].
Quando essa arte
for conhecida,
compreendida e
praticada, o
homem terá no
mundo hábitos de
ordem e de
previdência para
consigo mesmo
e para com os
seus, de
respeito a tudo
o que é
respeitável,
hábitos que lhe
permitirão
atravessar menos
penosamente os
maus dias
inevitáveis.
A desordem e a
imprevidência
são duas chagas
que só uma
educação bem
entendida pode
curar. Esse o
ponto de
partida, o
elemento real do
bem-estar, o
penhor da
segurança de
todos” (ênfase
nossa).
Seja como for, o
passo dado
significa um
preâmbulo de
mudança de
mentalidade que
pode ser
disseminada para
todas as
instituições. No
final, o capital
humano mais
maduro poderá
ser mais
valorizado e
reconhecido.