O passarinho
Marina nasceu na África
e veio para o Brasil na
época da chamada guerra
colonial. Aqui reiniciou
a sua vida. A família,
já com três netinhos,
que são seu “ai,
Jesus!”, mora fora do
Brasil. Assim, Marina
mora sozinha com todo
conforto numa linda
casinha branca com
flores vermelhas nas
janelas. Durante algum
tempo quase enlouqueceu
com a solidão e o
silêncio, mas, como tudo
na vida é um
aprendizado, aprendeu
que é no silêncio que se
escuta a voz de Deus!
A casa de Marina tem uma
sala de vidro que é a
continuação da cozinha,
e abre para uma piscina,
emoldurada por um jardim
lindo. Cada planta, cada
árvore, é tratada com
carinho, desvelo,
respeito. Um dia, ao
preparar sua refeição,
ela ouviu uma pancada no
vidro. Olhou,
procurando, e no chão um
passarinho estrebuchava.
Batera no vidro
transparente e a pancada
fora muito forte. Ele
agonizava.
Marina correu e pegou a
avezinha e segurou-a na
palma da mão. Os
olhinhos do passarinho
rolavam nas órbitas sem
controle, um filete de
sangue escorria pelo
biquinho entreaberto, as
patinhas se fechavam
fortemente. Marina
cobriu o passarinho com
a outra mão, e soprou
levemente – o sopro de
Vida – e sentiu a força
da energia passando pelo
seu corpo e se
concentrando na
avezinha, e pedia:
“Deus, Pai, é um ser tão
pequenino, tão frágil,
puro, permite que ele
continue voando por aí”.
E lágrimas escorriam
pelo seu rosto. Abriu as
mãos e o passarinho
estava ali aninhado,
agora já calmo.
Segurou-o em cima de seu
coração por alguns
minutos.
Olhou a avezinha e com a
ponta do dedo acariciou
sua plumagem
acinzentada, abriu suas
patinhas. E ali ficaram
os dois se olhando, um
amor puro e intenso
fluindo entre os dois,
ela dizendo mentalmente:
“Eu te amo! Agora, está
na hora de você voar de
novo”. Ergueu a mão e
deu um ligeiro arremesso
e o passarinho voou para
cima de uma palmeira
imperial e ali ficou.
Marina entrou em casa.
Porém, preocupada, foi
olhar várias vezes para
ver se o passarinho
ainda estava no mesmo
lugar, e lá estava ele.
Até que foi olhar de
novo, e ele havia
sumido. Ela procurou
embaixo da palmeira, nos
canteiros, para ver se
ele havia caído por ali,
não fosse o gato preto
da vizinha pular o muro,
e comê-lo. Não encontrou
o passarinho. Em
pensamento lhe desejou
boa sorte: “Voa, voa,
meu querido. Queria
poder voar como tu e ver
a Terra lá de cima. Só a
vejo quando sonho que
estou voando pelo
Universo, mas poder
fazê-lo sempre deve ser
maravilhoso”.
No dia seguinte, bem
cedo, Marina estava
preparando o seu café,
como sempre, quando
ouviu um chilrear na
sala de vidro. Olhou e,
para seu espanto, ali
estava o passarinho,
chilreando, saltitando
no chão, como que
chamando sua atenção. E,
pasmem..., do lado, um
outro passarinho bem
novinho, quase que
recém-saído do ninho.
Quieto, pequenino, ali
do lado como que
observando tudo.
Ela se aproximou e falou
feliz, como que revendo
um parente, um amigo
querido, um filho, um
neto: “Passarinho, é
você? Você voltou? Estou
feliz por ver você”. E
nem a avezinha e nem o
filhotinho mostravam
qualquer sinal de medo.
E aí ela percebeu todo o
encanto daquele momento
divino. O passarinho
havia trazido o
filhotinho como que para
agradecer, ou mostrar
aquela mulher, meio
desajeitada, de
expressivos olhos
azuis... e ela chorou, e
a sua solidão pareceu um
pouco menor.
O passarinho cantando
alegremente levantou
voo, acompanhado do
pequenote atrás, fizeram
um semicírculo rasante
em cima das roseiras, e
voaram para longe na
direção do sol.
Ao olharmos e
convivermos com os
animais, com as aves,
saibamos dentro de nós
que há mais do que
podemos imaginar nestes
seres divinos.
Aprendamos com eles o
que há de bom, de puro,
de amor, de
solidariedade, de
lealdade. Mais e mais
lemos hoje relatos de
animais ferozes, que se
aproximam amorosamente
de outros animais, antes
considerados inimigos, o
predador aceitando o
perseguido amorosamente,
cuidando dele,
aproximando-se até de
seres humanos!
Aprendamos com eles.
Lembre-se sempre,
caro(a) leitor(a), de
que o AMOR flui e é
único, não existe em
compartimentos
estanques, selados,
diferenciados. É AMOR!
Se nós humanos estamos
em processo de evolução,
acreditemos que os
animais também o estão.
Eles não falam, mas
dizem mais do que muitos
seres humanos que
conhecemos. Respeite e
ame os animais, eles o
merecem! Ah... já ia me
esquecendo: Não se
considere superior a
eles, porque, se prestar
atenção, se olhar para
eles com “olhos de ver”,
vai aprender muito com
eles, pode crer!