Maioridade penal sem
hipocrisias
Como a proposta é
discutir o assunto sem
hipocrisias, permitam-me
dar um exemplo marcante
de hipocrisia atual, em
minha opinião: uma
pessoa menor de dezoito
anos empunha uma arma de
fogo ou arma branca,
tira uma vida, ou
estupra, ou age com
violência contra um
velho, uma mulher, um
homem, e recebe uma pena
de recolhimento de no
máximo três anos em
centro de correção! Eu
disse de até três anos,
sendo que, na maioria
das vezes, é muito menor
do que isso. Pois bem,
no dia seguinte, ao
completar dezoito anos,
a lei torna-se rígida e
o criminoso é condenado
a prazos muito maiores.
Ou seja, um dia antes,
com dezessete anos, onze
meses e vinte e nove
dias, a pena é tão
inexistente em face da
brutalidade do crime
cometido, que o chamado
“menor de idade” debocha
dessa mesma lei quando é
detido e posto
rapidamente em
liberdade. Isso, em
minha opinião, é uma
hipocrisia gritante. O
prazo de vinte e quatro
horas separa a
praticamente impunidade
da real punição.
Nós espíritas, na
discussão da maioridade
penal, não podemos e nem
devemos perder de vista
a realidade que a
própria Doutrina nos
ensina: em um corpo
físico conceituado como
“menor de idade”,
estagia um Espírito
milenar com suas
virtudes e imperfeições.
No caso dos conceituados
“menores de idade” que
são capazes de matar, de
estuprar, de agredir
velhos, homens e
mulheres, está um
Espírito com violência
suficiente para agredir
toda uma sociedade.
Se você está pensando
que defendo a diminuição
da maioridade penal,
está interpretando mal
onde quero chegar.
Modificar essa
maioridade para menos e
misturar com adultos
criminosos seria o mesmo
que propor juntar
gasolina com fogo. Nem a
proposta que transita
nos meios políticos quer
isso, porque prevê a
detenção dos menores de
dezoito anos em locais
diferentes do sistema
presidiário atual. Mas
retornemos ao assunto
como espíritas.
Tomemos como exemplo o
fato concreto ocorrido
no Estado do Piauí onde
um maior de idade
acompanhado por mais
quatro menores
emboscaram quatro
meninas que estavam em
um local tirando fotos.
Estupraram durante duas
horas essas meninas,
apedrejaram-nas e depois
as atiraram do alto de
um morro na tentativa de
matá-las, “queimando
arquivos”.
Diga-me sinceramente,
sem hipocrisias: a coisa
pode continuar assim? E
se essas meninas fossem
nossas filhas? Já
imaginaram o terror que
passaram durante essas
duas longas horas que
para elas pareceram uma
eternidade? Você acha
que os denominados
“menores de idade”
recebem um estímulo
negativo ou positivo
para continuar nessa
conduta com a
fragilidade da lei que
os pune (pune?) com no
máximo (veja bem: no
máximo!) três anos numa
Fundação Casa?
É indiscutível que o
ideal, embora utópico
para a atual realidade
da sociedade, seria mais
educação, trabalho digno
para todos, mais justiça
social, pais que
realmente educassem,
escolas para todos etc.
Mas na impossibilidade
para o momento dessas
medidas ideais, devemos
deixar as coisas como
estão? Por exemplo: o
ideal é que se previna a
doença, mas se a doença
surgir ela precisa ser
tratada o mais
urgentemente possível. A
própria Justiça Divina
não age assim banindo
para planetas inferiores
aqueles que recalcitram
contra o bem? Será que
aos olhos dessa Justiça
perfeita o Espírito que
está em um corpo
conceituado como “menor
de idade” não comete
crime quando mata,
estupra, agride com
brutalidade um homem,
mulher ou idoso?
Enquanto a solução ideal
não vem, é preciso algo
fazer e com urgência em
nome das viúvas, dos
órfãos, das vítimas
desses Espíritos que se
ocultam em corpos de
“menores de idade” e que
agridem praticamente
impunemente às pessoas
inocentes, pais de
família, mulheres,
idosos e tudo o mais que
resolvam agredir.
Volto a deixar bem
claro: não estou
defendendo a diminuição
da maioridade penal, mas
deixando bem evidente,
sem hipocrisias, que a
punição de até três anos
no máximo para quem é
capaz de empunhar uma
arma e tirar uma vida,
ou estuprar, ou
assaltar, ou cometer
outras violências
lamentáveis ocultando-se
nessa conceituação de
“menor de idade”, não
pode e não deve
continuar. A não ser que
a opção continue sendo
pela hipocrisia e não
por se fazer realmente
justiça. Inclusive pelo
próprio bem daqueles que
agridem,
interrompendo-lhes as
facilidades e a
impunidade, estímulos
fortíssimos para
continuarem nesse
caminho de endividamento
moral.