“O
Amor por princípio e a
Ordem por base; o
Progresso por fim.”
―
Auguste Comte.
Segundo Auguste Comte,
nos primórdios da
humanidade, há milhares
de anos, o homem
manifestava seu temor a
Deus por intermédio do
chamado fetichismo, que
era a adoração a seres
sobrenaturais, que
atuavam na natureza. Daí
surgiu a crença no
politeísmo, ou seja, a
existência de vários
deuses.
Outros teóricos, como
Taylor, propõem a
evolução do pensamento
religioso com início no
animismo (crença na
presença da alma em
todos os seres da
natureza, animados e
inanimados); seguido do
manismo (crença nos
fantasmas); depois, do
fetichismo (culto de
objetos materiais,
considerados encarnação
de um espírito ou em
ligação com ele), em
seguida, no politeísmo
(crença em vários
deuses) e, por fim,
monoteísmo (crença no
Deus único). Foi com
Moisés que a ideia do
Deus único teve início,
entre os hebreus, e se
propagou pelo mundo.
Estava inaugurada,
segundo o Cristianismo,
a primeira revelação
divina há cerca de 4.000
anos.
Dessa época para cá,
surgiram as chamadas
grandes religiões:
Confucionismo,
Hinduísmo, Budismo,
Islamismo, Judaísmo e
Cristianismo, no qual,
afirma Kardec, estão
presentes as três
revelações de Deus,
desdobradas na mensagem
revelada a Moisés, em
seguida, confirmada por
Jesus e, por fim,
completada pelo
Espiritismo, de acordo
com a promessa do Cristo
de nos enviar o
Consolador, conforme
lemos em João, cap.
14:15-17:
Se me amais, guardai os
meus mandamentos. E eu
rogarei ao Pai, e Ele
vos dará outro
Consolador, a fim de que
fique eternamente
convosco: o Espírito
de Verdade, que o
mundo não pode receber,
porque o não vê e
absolutamente o não
conhece. Mas quanto a
vós, conhecê-lo-eis,
porque ficará convosco e
estará em vós [...].
(Apud Kardec, 2013a, p.
105- 106.)
Moisés foi o profeta
escolhido por Deus para
revelar aos hebreus Sua
existência e Suas leis,
sintetizadas nos Dez
Mandamentos, que lhe
foram transmitidos
mediunicamente no monte
Sinai. Essa é
considerada a primeira
revelação divina da
tríplice revelação. É
sobre estes mandamentos
que continuaremos nossas
reflexões:
1º Mandamento: não fazer
imagens de outros
deuses, pois há um só
Deus.
A primeira pergunta de
Allan Kardec, n’O
Livro dos Espíritos,
é “Que é Deus?”,
respondida sem correção:
“Deus é a Inteligência
Suprema, Causa Primeira
de todas as coisas”. Ou
seja, Deus não tem a
forma humana, e isso foi
confirmado por Jesus à
samaritana, quando lhe
afirmou: “Deus é
Espírito, e importa que
seja adorado em Espírito
e em Verdade.” (João,
4:24).
Afirma-nos o Espírito
Emmanuel, pela
psicografia de Chico
Xavier, que
Antes de todos os
programas de Moisés, das
revelações dos Profetas
e de suas próprias
bênçãos redentoras no
Evangelho, o Mestre
coloca uma declaração
enérgica de princípios,
conclamando todos os
espíritos ao plano da
unidade substancial.
Alicerçando o serviço
salvador que Ele mesmo
trazia das esferas mais
altas, proclama o Cristo
à Humanidade que só
existe um Senhor
Todo-Poderoso – o Pai de
infinita Misericórdia.
(XAVIER, 2012, p. 223)
2º Mandamento: não falar
o nome de Deus em vão.
O respeito e o amor a
Deus, nosso Pai, exigem
de nós uma postura de
humildade em todos os
momentos de nossa vida
eterna, pois, sendo
Espírito Puro, Ele nos
criou para a perfeição
espiritual. O ser humano
tem, pois, duas
naturezas, como nos
dizem os Espíritos
superiores: a animal,
presente no corpo
físico; e a espiritual,
contida na alma, que é o
Espírito encarnado
(questão 605 d’O
Livro dos Espíritos).
Criados para a
perfeição, precisamos,
desse modo, fazer
prevalecer, em nós, a
natureza espiritual, com
a qual nos aproximamos
dos bons Espíritos e,
consequentemente, de
Deus.
Fala o nome de Deus em
vão quem prega em seu
nome e não pratica as
boas ações que recomenda
a outrem.
Fala em vão o nome de
Deus a pessoa que faz da
religião uma forma de
exploração da fé alheia,
com venda de
“passaportes no céu” e
outros comércios
ignominiosos, o que fez
o Cristo expulsar os
“vendilhões do templo”
com rigor e com estas
inesquecíveis palavras:
“Está escrito: a minha
casa será chamada casa
de oração, mas vós a
tendes convertido em
covil de ladrões”.
(Mateus, 21:12- 13;
Lucas, 19:45- 46.)
Fala em vão o nome de
Deus quem zomba de sua
existência ou se revolta
contra Ele quando é
submetido a provas e
expiações.
Também fala em vão o
nome de Deus as pessoas
que fingem sua crença
por pura conveniência,
por desejo de projeção
pessoal e domínio das
consciências alheias.
Tais pessoas traem-se
por suas atitudes
contraditórias e
emanações fluídicas
deletérias. Desse modo,
elas não se sustentam na
falsa crença, durante
muito tempo, perante os
que as observam
atentamente. Tais
pessoas, afirmou Jesus,
são como sepulcros
caiados por fora, mas
cheios de podridão por
dentro (Mateus, 23:27).
Enfim, fala em vão o
nome de Deus aquele que
comercializa seus dons
mediúnicos, contrariando
o que disse Jesus: “dai
de graça o que de graça
recebestes”. Segundo
Comte (Frases, 2015),
“Viver para os outros
não é somente a lei do
dever, mas também a da
felicidade”.
Somente amando e
servindo ao nosso irmão,
com desinteresse e em
silêncio, orando e
vigiando, deixaremos de
falar em vão o nome do
nosso Pai, tenha aquele
ou não uma crença e
independente de sua
posição social e de
quaisquer outros
preconceitos.
3º Mandamento:
santificar o dia de
sábado.
Simbolicamente, esse
mandamento representa a
necessidade que todos
temos de não exceder o
limite da força alheia e
o da nossa força nos
trabalhos que executamos
ou fazemos alguém
executar. Também
simboliza o dever de, ao
menos um dia por semana,
nos dedicarmos a Deus,
pela elevação dos
pensamentos
proporcionada pela prece
e reflexão em torno de
leituras e palestras
elevadas, visitar os
enfermos, socorrer os
necessitados, orar pelos
amigos e parentes, bem
como pelos que nos
“perseguem e caluniam”
(Mateus, 5:44),
consoante recomendação
de Jesus.
4º Mandamento: honrar
pai e mãe.
O respeito e o amor que
todos devemos ter para
com nossos pais
demonstra nossa gratidão
a quem nos proporcionou
nova existência física e
cuidou de nós com zelo
amoroso e mesmo com
sacrifício de suas horas
de sono e da própria
saúde. Devemos,
portanto, honrá-los,
buscando ser-lhes
obedientes e
prestativos. E, ainda
que suas atitudes sejam
condenáveis, não temos o
direito de criticá-los
publicamente, mesmo não
as tendo como
referências de
comportamento.
5º Mandamento: não
matar.
A vida é dom de Deus
concedido a todos nós, e
não nos cabe decidir, em
seu nome, quem deve
viver e quem deve
morrer. Responderemos
por cada vida que nos
foi confiada, ainda
mesmo a dos nossos
irmãos menores, os
animais.
Considero uma hipocrisia
tratar cães e gatos
melhor do que muitas
crianças e idosos
necessitados e
alimentar-se com a carne
bovina e a de outros
animais. O dia em que
aprendermos a nos
alimentar sem o
sacrifício animal
teremos dado um grande
passo em direção à nossa
espiritualização.
Isso, entretanto, não
significa que eu apoie o
maltrato aos animais ou
mesmo o seu desprezo,
deixando-os sofrer as
intempéries do tempo ou
morrer de fome. Mas nada
justifica tratá-los com
mais amor do que o
faríamos a um ser
humano, a quem Jesus
recomendou-nos amar
tanto quanto a nós
mesmos.
Há ainda outras formas
de matar, que ocorrem,
por exemplo, quando
“matamos” as esperanças
de alguém, não lhe dando
chances para alcançar
seus objetivos pessoais
e profissionais, ou
quando extinguimos a
confiança de outrem com
nossas palavras e atos.
O bem maior a ser
preservado, de cada um
de nós, sempre será a
vida física. Por isso, o
alerta de Jesus continua
atualíssimo: “Quem matar
pela espada, pela
espada morrerá.”
(Mateus, 26:52)
6º Mandamento: não
adulterar.
Adulterar não é somente
trair sexualmente seu
cônjuge. É faltar com a
verdade, inúmeras vezes,
ao longo da existência
física, visando não se
comprometer com alguém.
É deixar de cumprir com
nossas obrigações de
cidadãos, seja em
sociedade, no lar ou no
trabalho. É ser desleal
com o nosso próximo
quando este mais precisa
de nosso apoio. É
prometer, enfim,
esforçar-se no bem e
permanecer no mal. Há
quem afirme jamais ter
adulterado, mas se
esquece de que, quando
aluno, adulterava a
prova para obter menção
mais alta, por meio da
chamada “cola”; no
serviço, descumpre suas
obrigações e adultera o
horário de expediente,
chegando atrasado e
escondendo isso de seu
chefe; no comércio,
frauda seu cliente com a
alteração do peso do
produto, pela balança
descalibrada; no
trânsito, adultera o
limite de velocidade,
ultrapassando-o,
inúmeras vezes, ou
avança o sinal vermelho,
se percebe não haver
fiscalização por perto.
Quem de nós estiver sem
pecado, atire a primeira
pedra...
Vamos tentar, de ora em
diante não mais
adulterar? Estejamos
atentos, vigiemos e
oremos para que, em
nossas mínimas ações,
sejamos conhecidos como
filhos fiéis de Deus,
porque Ele, já sabemos
que é fiel de todo o
sempre. Com certeza, os
anjos do céu cantarão
hosanas e nos apoiarão
tais propósitos com
imensa alegria.
7º Mandamento: não
roubar.
Há pessoas que preferem
subtrair de outrem o que
pertence a este do que
trabalhar. Julgam-se
injustiçadas
socialmente, mas nada
fazem para estudarem, na
preparação de seu futuro
profissional melhor, ou
serem honestas, quando
contratadas para um
serviço qualquer.
Acomodam-se na preguiça,
mesmo quando convidadas
a trabalhar e, desse
modo, lesam a si
próprias. Mas também há
outras pessoas que nos
roubam o tempo, com
conversas fúteis, sem
qualquer proveito.
Existem ainda as que
furtam a boa imagem
alheia com a
maledicência, outras que
roubam as esperanças de
outrem com julgamentos
cruéis, e igualmente há
as que fraudam concursos
em benefício próprio ou
de seus protegidos... A
essas pessoas também se
aplica o sétimo
mandamento, assim como a
todos os que lesam o seu
semelhante nas mínimas
coisas.
8º Mandamento: não
prestar testemunho falso
contra o próximo.
Presta testemunho falso
não somente quem acusa
sem provas e mente para
prejudicar alguém, mas
também quem tem por
hábito mentir. Quem não
é coerente entre o que
fala e o que faz.
Infelizmente,
encontramos muita gente
assim entre os próprios
irmãos de crença. São os
tíbios de caráter, cujas
consciências jamais
enganam. No centro
espírita, ou na igreja,
têm uma cara, na
sociedade, e mesmo no
próprio lar, assumem
outra máscara,
reveladora do que
realmente são:
hipócritas e
falaciosos.
9º Mandamento: não
desejar a mulher do
próximo.
Esse mandamento, nos
dias atuais, precisa ser
muito refletido e
praticado, não somente
pelos homens, mas também
pelas mulheres, em
função dos avanços das
conquistas femininas, o
que as torna credoras
dos mesmos direitos que
os homens, como também
devedoras das mesmas
obrigações. Bom seria se
todos nos amássemos e
respeitássemos com a
pureza e a singeleza
pregadas por Jesus e os
bons Espíritos, sem que
as paixões nos
arrastassem a denegrir a
própria alma. Cumpre-nos
exercitar o amor puro,
fraternal, que nos
refreia as más
inclinações e nos
recomenda fazer aos
outros todo o bem que
também gostaríamos de
receber, conforme a
regra áurea recomendada
por Jesus: “Portanto,
tudo o que vós quereis
que os homens vos façam,
fazei-lhes também vós,
porque essa é a lei e os
profetas” (Mateus,
7:12).
10º Mandamento: não
cobiçar coisa alguma de
outrem.
Afirma Kardec que “É de
todos os tempos e de
todos os países essa lei
e tem, por isso mesmo,
caráter divino”. Quando
perguntado qual era o
maior dos mandamentos,
Jesus respondeu: “Amarás
a Deus de todo o teu
coração, de toda a tua
alma e de todo o teu
entendimento; e o
segundo, semelhante a
esse, é este: amarás o
teu próximo como a ti
mesmo” (Mateus, 22: 37-
40).
Quem cobiça os bens
alheios ainda não
aprendeu, com Jesus, que
há mais alegria em dar
do que em receber. O
Espírito Emmanuel, pela
psicografia de Chico
Xavier, ainda nos brinda
com a bela mensagem
intitulada “Possuímos o
que damos”, na qual
lemos estas belíssimas
frases:
Quem dá recolhe a
felicidade de ver a
multiplicação daquilo
que deu.
Oferece a gentileza e
encorajarás a plantação
da fraternidade.
Estende a bênção do
perdão e fortalecerás a
justiça.
Administra a bondade e
terás o crescimento da
confiança.
Dá o teu bom exemplo e
garantirás a nobreza do
caráter.
Os recursos da Criação
são distribuídos pelo
Criador com as
Criaturas, a fim de que
em doação permanente se
multipliquem ao
infinito.
Serás ajudado pelo Céu,
conforme estiveres
ajudando na Terra.
Possuímos aquilo que
damos.
Não te esqueças, pois,
de que és mordomo da
vida em que te
encontras.
Cede ao próximo algo
mais que o dinheiro de
que possas dispor. Dá
também teu interesse
afetivo, tua saúde, tua
alegria e teu tempo e,
em verdade, entrarás na
posse dos sublimes dons
do amor, do equilíbrio,
da felicidade e da paz,
hoje e amanhã, neste
mundo e na vida eterna.
(XAVIER, 2010, p. 269-
270.)
Amaremos a Deus, como
nos recomendou o Cristo,
quando refletirmos em
suas Leis e nos
esforçarmos em
colocá-las em prática.
Comecemos pela
memorização e pela
observância de cada um
desses dez mandamentos,
trazidos a nós pelo
extraordinário profeta
Moisés, que podem se
expandir em incontáveis
outros. Assim, estaremos
de posse da plenitude de
nosso ser, que é filho
de Deus e foi criado
para a autoiluminação,
instrumento
verdadeiramente eficaz
para a conquista da
felicidade, meta de
todos nós.
Referências:
COMTE, Auguste. Frases.
Disponível em:
http://www.mensagenscomamor.com/frases-de-famosos/auguste_comte.htm#ixzz3cIypJRIz.
Acesso em 06 de junho de
2015.
ENCICLOPÉDIA Mirador
Internacional. Religião.
São Paulo: Rio de
Janeiro: Encyclopaedia
Britannica do Brasil
Publicações Ltda. 1981,
vols. 17- 18.
KARDEC, Allan. O
Evangelho segundo o
Espiritismo. 131.
ed. Brasília: FEB,
2013a.
______. O Livro dos
Espíritos. 93. ed.
Brasília: FEB, 2013b.
COMTE, Auguste. Frases.
Disponível em:
http://www.mensagenscomamor.com/frases-de-famosos/auguste_comte.htm#ixzz3cIypJRIz.
Acesso em 06 de junho de
2015.
XAVIER, Francisco
Cândido. Pão nosso.
Pelo Espírito Emmanuel.
Brasília: Federação
Espírita Brasileira,
2012, cap. 105.
______. Fonte viva.
Pelo Espírito Emmanuel.
Rio de Janeiro:
Federação Espírita
Brasileira: 2010, cap.
117.