Síndrome da angelitude
O objetivo precípuo da
reencarnação é aproximar
cada vez mais o ser
humano da humanidade.
Pode parecer uma
contradição, mas não é.
Não somos ainda humanos
completos.
Estamos extremamente
distanciados da
humanidade, porque ainda
vivemos na consciência
do sono (com as exceções
compreensíveis).
Como se não bastasse
isso, muitos espíritas,
incautos, acreditam
firmemente que pelo fato
de serem assíduos às
atividades dos centros
espíritas serão
guindados à condição de angelitude e serão
recebidos com encômios
pelos numes tutelares. É
a síndrome da angelitude!
Alguns têm a pachorra de
indicar, inclusive, a
colônia espiritual para
onde irão após a
desencarnação. E, nesse
particular, Nosso Lar
já está lotadíssima,
já que para lá todos
querem ir.
Sinceramente, é uma
pantomima tal
comportamento.
O Espírito Emmanuel já
teve ensejo de asseverar
que a distância que
separa um cão de nós é a
mesma que nos separa de
um anjo. Então, para que
tanta prosápia?
Façamos uma análise
superficial das
contradições humanas e
vejamos quão distantes
estamos da angelitude.
De que adiantam as
realizações no bojo do
centro espírita e as
condutas reprocháveis no
cadinho doméstico?
Para que serve a fingida
bonomia no diálogo
fraterno e a tirania no
emprego para com os
subordinados?
Para que a utilização de
palavras doces como
“irmão”, “Cristo”,
“caridade” no trato com
os colegas de centro
espírita e os
xingamentos e gestos
obscenos nas vias
públicas, nos trânsitos?
Por que homens e
mulheres vão a púlpito
prometer a melhoria das
condições de vidas das
pessoas e, ao chegarem
aos cargos públicos,
desviam as verbas da
merenda escolar; das
áreas da saúde e do
saneamento básico;
deixando milhares de
pessoas em condições
miseráveis?
Ora, não é necessária
alquimia interpretativa
para se compreender que
estamos extremamente
distantes de uma
condição angélica. Mal
podemos nos considerar
efetivamente humanos.
Basta um minuto de
invigilância e brotam de
nosso íntimo os
instintos agressivos.
Não fossem as leis que
regem as relações
sociais estrugiriam em
todos os cantos a
violência e a barbárie.
As leis, portanto,
sobretudo as penais,
servem como freios para
que não cometamos
atrocidades e,
outrossim, tornemo-nos
mais civilizados.
Desvencilharmo-nos da
brutalidade (da
animalidade), eis o
objetivo impostergável;
e um exercício
permanente. Faz-se
necessário que
compreendamos a nossa
pequenez, não como um
complexo de
inferioridade, mas,
calcados numa
consciência profunda,
termos o pés no chão e a
mente voltada para o
mais alto para que
compreendamos a evolução
como uma longa jornada.
O caminho é demasiado
longo e conhecer a si
mesmo é uma tarefa que
envidamos há muito
tempo. Assim, paremos
com atitudes esdrúxulas
de acharmos que seremos
salvos tão somente pelo
pouco que realizamos nos
centros espíritas/nas
atividades sociais,
muitas vezes,
transvestidos de
máscaras de fingida
bondade. É necessário,
primeiramente, aparar as
muitas arestas que temos
(e realizar aquelas
atividades são
excelentes exercícios
para tal);
esforçarmo-nos para
sermos melhores e
seguirmos as
características do
Homem de Bem,
conforme está insculpido
em O Evangelho
segundo o Espiritismo.
Talvez, depois desse
longo périplo,
consigamos nos
humanizar. Quanto à
condição de angelitude,
deixemos de lado; ainda
não é o momento.