Hospedaria de
Jesus
“Zaqueu, dá-te
pressa em
descer,
porquanto
preciso que me
hospedes
hoje em
tua casa.”
(Lucas 19:5)
Zaqueu é uma
daquelas figuras
que, embora
aparecendo em
uma única
citação no Novo
Testamento,
marca presença
em nossa mente,
instiga-nos a
uma reflexão
mais profunda
quanto à razão,
e ao simbolismo
de sua inclusão
nos textos do
Evangelho.
Ao buscarmos
maiores
referências
sobre sua pessoa
temos o relato
feito no
Evangelho de
Lucas (19:1-10),
no qual Zaqueu,
responsável pela
coleta de
impostos na
cidade de
Jericó, era o
chefe dos publicanos
(cobradores de
impostos) e
muito rico. Era
também rejeitado
pelas pessoas
“de bem”, por
causa de sua
profissão e modo
de vida.
Sendo Jericó uma
cidade
importante na
qual era
produzido e
exportado o
bálsamo,
substância
extraída de
árvores da
região, muito
cobiçado por ter
múltiplas
utilidades,
servindo, desde
como um
excelente unguento para
curar feridas
até para
perfumar pessoas
e locais.
Pequenas
amostras dessa
substância eram
consideradas
como verdadeiros
tesouros,
gerando muitos
impostos.(1)
Percebe-se,
portanto, a
causa da fortuna
de Zaqueu, sendo
que alguns
afirmavam ter
ele desviado
dinheiro público
para aplicação
em sua riqueza
pessoal.
Outra informação
histórica sobre
Zaqueu é a
deixada por
Clemente de
Alexandria(2)
, em seu livro
Stromata, onde
afirma ter sido
Zaqueu apelidado
de "Matias",
pelos apóstolos,
e tomado o lugar
de Judas
Iscariotes após
a ascensão de
Jesus.
Pois bem, esse
era o homem que
buscava Jesus
ansiosamente,
naquela tarde
que ficaria
marcada para
sempre em sua
memória.
Como nos relata
o evangelista
Lucas, Zaqueu,
que era um homem
de baixa
estatura física,
não conseguiria
ver Jesus em
decorrência da
grande
quantidade de
pessoas que
seguia o Mestre.
Assim, para que
pudesse ser
visto, ele subiu
em um Sicômoro(3)
e ficou
esperando pela
passagem de
Jesus.
Ao aproximar-se
da árvore em que
estava o velho
publicano, Jesus
olhou-o
diretamente nos
olhos e disse:
“Zaqueu, dá-te
pressa em
descer,
porquanto
preciso que me
hospedes hoje em
tua casa”.
Atônito e
jubiloso, Zaqueu
apressou-se,
desceu da árvore
em que se
alojara e
conduziu Jesus à
sua casa, onde o
recebeu com
alegria.
Todos sabemos,
pelo relato do
evangelista,
que, tocado pela
consciência de
si mesmo e
inspirado pela
presença do
Enviado de Deus,
Zaqueu
arrependeu-se e
transformou-se
por completo,
dizendo que
daria metade de
seus bens aos
pobres e
repararia todas
as suas ações
indébitas que
praticara, ao
que Jesus, com
muita alegria e
júbilo, disse:
“Hoje, veio a
salvação a esta
casa, pois
também este é
filho de Abraão.
Porque o Filho
do Homem veio
buscar e salvar
o que se havia
perdido”.(4)
Imaginemos que
havia ali
centenas de
homens e
mulheres, que
lutavam uns
contra os outros
por um lugar
especial perto
de Jesus. Cada
um sentindo-se
com mais direito
de ficar perto
d´Ele e de
obter-Lhe as
bênçãos
desejadas. No
entanto, de
repente, o
Mestre olha para
quem não
esperava nada,
para quem se
sentia indigno,
insignificante,
perdido entre os
galhos de uma
figueira, e o
chama pelo nome:
"Zaqueu".
Esta é a maneira
pela qual Jesus
age. Para Ele
não há
multidões,
apenas pessoas,
independentemente
de cor, classe
social,
designação
religiosa etc.
Ele chora com
sua dor e se
alegra com sua
alegria, da
mesma maneira
como faz com
todos os filhos
de Deus que
habitam este
planeta, física
ou
espiritualmente.
Ele sabe seu
nome, onde você
mora, conhece
suas ansiedades,
sabe que você
pode estar
tentando se
aproximar d´Ele,
no entanto,
considera-se
pouco merecedor
para receber Seu
olhar e Seu
carinho, de
irmão mais
velho. Saiba,
porém, que Ele
espera, a
exemplo de
Zaqueu, que
sejamos
decididos e
determinados,
pois mesmo
diante de uma
“multidão de
dificuldades” e
possuindo,
ainda, “baixa
estatura moral”,
que caracteriza
a grande maioria
dos Espíritos
ligados a este
planeta, Ele nos
chama pelo nosso
nome, e nos faz
o convite
permanente:
“Vinde a mim,
todos os que
estais cansados
e oprimidos, e
eu vos
aliviarei”.(5)
Ao escutar as
palavras de
Jesus, dizendo
que queria ser
hospedado em sua
casa, Zaqueu não
titubeou. Desceu
rapidamente da
árvore e
conduziu Jesus
para dentro de
sua habitação.
Simbolicamente,
podemos utilizar
esta parte da
história de
Zaqueu como uma
metáfora para
nossa reflexão.
Jesus viu a fé
no coração de
Zaqueu. Muitos
não gostaram do
que viram, pois,
para os que o
conheciam, era
um ladrão. Mas,
para o Mestre,
que conhece a
todos nós por
dentro, ele era
apenas um homem
arrependido,
decidido a
mudar. E, por
essa razão,
conseguiu o tão
desejado
encontro.
Vamos imaginar
que Jesus
aparecesse hoje,
exatamente
agora, e nos
dissesse: “Quero
me hospedar em
sua casa”, o que
faríamos?
Certamente,
diante de fato
tão impactante,
talvez,
ficássemos sem
ação. A questão,
no entanto, é
que Jesus nos
pede isso a cada
minuto. Ele está
pedindo para que
o hospedemos em
nossos corações,
transformando-nos,
cada um de nós,
em sua
“hospedaria”. O
Mestre quer
habitar em cada
um de nós,
através dos seus
ensinamentos,
que Ele nos
solicita a
prática diária.
Estamos
realmente
querendo
hospedar Jesus?
Queremos ser os
novos Zaqueus da
atualidade? Será
que realmente
estamos
preparados para
abrir mão da
“metade” de
nossas
preocupações com
a posse
material, para
dar espaço para
a vivência com
Jesus?
É no buscar a
própria
transformação,
pela vivência
diária do
Evangelho, que
nos aproximamos
do Mestre que,
certamente, nos
dirá: “Desce da
árvore das
ilusões, e busca
o Reino de Deus
que está em teu
coração, e lá Eu
habitarei”.
Para encerrar
estas reflexões,
gostaríamos de
lembrar um dos
contos trazidos
do mundo
espiritual, por
Irmão X
(Humberto de
Campos), através
da mediunidade
bendita de Chico
Xavier, em que
relata a
situação de um
homem que
buscava a
condição de
discípulo, e que
em diversos
encontros com
Jesus sempre
recebia uma
frase de
estímulo e
elevação,
provenientes do
coração amoroso
do Mestre, mas
que, em seguida,
partia
deixando-o com
os próprios
pensamentos e
deliberações.
Porém, ao final
desse
maravilhoso
conto, quando
Jesus retorna
encontrando o
discípulo
totalmente
renovado,
demonstrando
alegria, paz,
paciência, amor,
perdão, e tantos
outros
sentimentos
puros adornados
pela mais
simples e
genuína
humildade,
diz-nos Humberto
de Campos que “o
Senhor,
encontrando-o em
semelhante
estado,
estreitou-o nos
braços, de
coração a
coração,
proclamando:
-
“Bem-aventurado
o servo fiel que
busca a divina
vontade de nosso
Pai! E, desde
então, passou a
habitar com o
discípulo para
sempre”.
(6)
Referências:
(1) Maria pegou
uma libra de
bálsamo de nardo
puro, um óleo
perfumado muito
caro, ungiu os
pés de Jesus e
os enxugou com
seus cabelos. E
a casa encheu-se
com a fragrância
daquele bálsamo.
Mas um de seus
discípulos,
Judas
Iscariotes,
filho de Simão,
que mais tarde
iria traí-lo,
objetou: “Por
que este bálsamo
perfumado não
foi vendido por
trezentos
denários e dado
aos pobres?”
(João 12, 3-5).
(2) Clemente de
Alexandria ou
Tito Flávio
Clemente
(Atenas?, 150 -
Palestina, 215
d.C) foi um
escritor,
teólogo,
apologista e
mitógrafo
cristão.
(3) Figueira
Brava.
(4) Lucas
19:9-10
(5) Mateus 11:28
(6) Irmão X, Luz
Acima – cap. 3 –
Pequena história
do discípulo
[psicografia de
Francisco
Cândido Xavier]
– Ed. FEB – 11ª.
edição.