Regresso de Simão Pedro
Maria Dolores
Simão Pedro desperta,
além da vida humana.
Retoma, pouco a pouco,
as forças da memória,
Terminara, por fim, a
luta insana.
Do flagelo por grande
pesadelo
Recorda a cruz do fim,
levantada ao avesso,
Que aceitara na Terra
por vitória...
Sabe que está no Além,
pensando em recomeço
Do próprio apostolado...
Onde estaria o Mestre
Sempre Amado?
E os outros companheiros
De ânimo nobre e forte,
Que o haviam no mundo
precedido,
Sob a perseguição sem
pausa e sem sentido,
Ao encontro da morte?
A brisa da manhã suave e
cristalina
Trazia-lhe perfume ao
leito novo e alvo...
Indagara Simão: “Que
surpresa teria?”.
Tocou o próprio corpo,
achou-se são e salvo
E chorava, enlevado, em
suprema alegria...
Alguns instantes mais e
ouviu, enternecidamente,
Cânticos de louvor e
saudação;
Alguém surgiu à porta,
de repente,
Envolto em doce luz
A doar-lhe conforto e
proteção...
Pedro entendeu quem era
a bradou-lhe: “Jesus!”.
Erguendo-se, em seguida,
Leve e ágil, gritou:
“Ave, Senhor da
Vida!...”.
Cristo abeirou-se dele,
a enlaçá-lo sorrindo,
Depois vieram outros
companheiros,
Instrutores, amigos,
mensageiros,
Do júbilo fazendo o
festival mais lindo...
Pedro enxergou, feliz,
os vergéis exteriores...
Eram jardins imensos,
Recheados de flores...
Em profunda euforia,
O ditoso Simão
Tomou a si a mão
Que Jesus lhe estendia
E disse, quase em
pranto:
- Senhor; estou cansado,
Não mais me distancies
de teu lado.
Trago comigo a dor
Dos que moram no mundo,
Aquele imenso caos, cada
vez mais profundo,
De penúria, fadiga e
sofrimento.
Não desejo perder as
luzes que hoje alcanço,
Permite-me, Senhor ficar
contigo,
Neste celeste abrigo.
Necessito de paz, de
socorro e descanso...
Ao mundo de onde venho,
Pelas tribulações
padecidas no lenho,
Não mais quero voltar.
Desejo aqui viver
contigo, neste lar...
Mas Jesus apontou-lhe o
imenso espaço à frente
E falou-lhe a sorrir:
- Fica, Simão, se estás
contente.
Estes sítios são teus,
Tanto quanto de todos os
irmãos
Que serviram, na Terra,
à bondade de Deus...
Cristo fez pausa e, logo
após,
Explicou: “Quanto a mim,
Não posso repousar;
A construção do bem é o
meu lugar.
Ouve, Simão!... Enquanto
Houver na Terra um só
gemido
Uma gota de pranto,
Enquanto houver no mundo
um coração caído,
Devo esforçar-me por
permanecer
No trabalho do amor que
é meu dever.
Mas, descansa, Simão!...
Ver-nos-emos depois,
Nunca houve distância
entre nós dois...
Afastou-se Jesus,
Entretanto, Simão
fitando o Excelso Amigo,
Bradou sem vacilar:
- Senhor, eu vou
contigo!...
No passo firme do Divino
Mestre,
Ambos se retiraram das
Alturas,
Buscando a direção das
faixas obscuras
Da vastidão terrestre...
Na retaguarda, em paz,
ficou a multidão
De almas angelicais,
numa doce canção,
Cujo estribilho
recordava
Esta expressão de luz
dos hinos galileus:
- Louvado seja o
amor!... Bendito seja
Deus!...
Do livro Alma e Vida,
obra mediúnica
psicografada pelo médium
Francisco Cândido
Xavier.
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