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O Espiritismo responde
Ano 9 - N° 426 - 9 de Agosto de 2015
ASTOLFO O. DE OLIVEIRA FILHO
aoofilho@oconsolador.com.br
Londrina, Paraná (Brasil)
 
BLOG
ESPIRITISMO SÉCULO XXI
 


 
Na seção de Cartas da edição 423 de nossa revista publicamos a mensagem abaixo, que nos foi enviada por Silvio Fonseca, de Ilhéus (BA): 

O maior site literário brasileiro lançou uma pergunta: Romance espírita é literatura? Creio que seria interessante lerem e, se necessário, comentar. http://literatortura.com
Silvio

A indagação faz parte de certos devaneios de alguns pensadores que entendem que romance só pode ser assim classificado se for obra ficcional. Ora, se estivermos diante de uma história bem contada e redigida com elegância, que importa o rótulo? Literatura não se faz somente com ficção. No tocante à literatura brasileira, quem poderia negar a imponência e a elegância de obras como Os Sertões, de Euclides da Cunha, e o não menos notável Memórias do Cárcere, de Graciliano Ramos? “Não se trata de romance” – alguém argumentará. Diremos, então: - Que importa?

Sobre o assunto, recebemos do escritor e médium Eurípedes Kühl, que é também  colaborador de nossa revista, o texto abaixo transcrito: 

“Curioso ante a sugestão para que os colaboradores da revista O Consolador e os editores espíritas comentassem a proposição do e-mail de Silvio Fonseca (Ilhéus/BA) contida no nº 423 da referida revista, datada de 19.Jul.15, abalanço-me a meter o bedelho na discutida questão, mesmo entre espíritas, se o romance espírita é ou não literatura.

Como faço parte da turma que como médium psicógrafo escreve livros espíritas e também romances, deixo aqui minha opinião sobre a instigante pergunta: Romance espírita é literatura?

Li as reflexões contidas no link http://literatortura.com, citado pelo leitor.

Encontrei no referido link análise de Luiz Antônio Ribeiro sobre o romance espírita: A literatura espírita não depende apenas do romance e da sua linguagem para a fruição: ela necessita, a priori, de fé. Caso você não acredite no dogma por trás dela, aquela história não fará sentido. Ela, obviamente, não é um inutensílio. Ela parte de pressupostos básicos: existe vida após a morte, existe reencarnação, existe carma e os mortos voltam para se comunicar com os vivos, inclusive através de médiuns. Assim, ela tem um objetivo claro que é, por trás da história, propagar e adaptar um conjunto de crenças religiosas e metafísicas dentro de uma narrativa ficcional. Os romances espíritas são, em geral, psicografados, relatados e contatos por um espírito para uma pessoa. Eis o maior ponto de fé e o que mais me coloca em confronto com o romance espírita. Afinal de contas, qual o interesse de um espírito em contar histórias ficcionais ou novelescas?

Quanto às reflexões exaradas no link, para um não espírita, são corretas. Porém, na minha opinião, incompletas: primeiro, porque demonstra desconhecimento do que leva o autor espiritual a repassar o texto; segundo, porque quem não milita na atividade literária espírita desconhece a(s) resultante(s) da leitura de um romance espírita.

De início, para responder sobre o ‘interesse de um espírito em contar histórias ficcionais ou novelescas’, passo a palavra para a inolvidável médium psicógrafa Yvonne do Amaral Pereira (1900-1984), dissertando no VI capítulo (Romances Mediúnicos) do seu livro “Devassando o Invisível”, 9ª Ed., 1994, FEB, Brasília/DF, e que ora sintetizo: 

(...) O móvel dos romances espíritas é a propaganda da Doutrina por meio suave e convidativo, tributando os Instrutores Espirituais grande apreço a essas obras, por julgá-las imensamente úteis em virtude dos exemplos vivos oferecidos aos leitores. Conquanto os Espíritos-Guias deem preferência à parte doutrinária, à moral elevada que vemos presidindo a tudo quanto a Revelação Espírita tem concedido generosamente aos homens, também observamos que jamais se descuram eles de embelezá-las com os traços vigorosos de uma Arte pura, elevada e, por assim dizer, celeste. 

E, para complementar a resposta, acrescento, de minha parte, o que observei nos meus longos anos de convivência com leitores, espíritas ou não, de livros espíritas em geral, e em particular, de romances:

- se adeptos ao Espiritismo, neles confirmam seu pensamento referente às vertentes expostas, geralmente com foco na evolução espiritual, através da pacificação alcançada nas multiplicadas existências terrenas (reencarnações), cujo objetivo principal é a evolução espiritual, e em paralelo, aparar arestas junto àqueles a quem tenham prejudicado em vidas passadas;

- quanto aos que eventualmente leem um ou mais livros ou romances espíritas, psicografados ou não, e nada sabem do Espiritismo, ou sabem pouco, ou ainda até mesmo os rechaçam, captando a lógica da argumentação sobre a Justiça Divina, transubstanciada na Lei de Ação e Reação, ou ‘choque de retorno’, passam a ter nova e instigante hipótese de trabalho mental, ao verem expostas nuances até então desconhecidas, justificando com irretorquível lógica a infalibilidade da Bondade de Deus;

- a razão passa a ser convidada a refletir e entender o porquê de tantas dificuldades da vida, dores, dramas, tragédias (pessoais ou coletivas), angústias, próprias ou de outrem, além de fatos do dia a dia considerados ‘injustiça divina’...

- dessa reflexão surge a resignação, como abençoado bálsamo para quaisquer dores, físicas ou morais, fruto da comparação da sua própria situação com a de um ou mais personagens da narrativa; é quando até mesmo nos leitores mais radicais eclipsa-se-lhes na razão eventual niilismo nietzscheriano, então substituído no coração por amor e gratidão à Providência Divina.

Finalizando, declaro que sim: o romance espírita tem assento cativo na literatura!”

 
 


 
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