Fugindo para bem longe
A imprensa televisionada
e escrita anunciou
enfaticamente a chegada
ao planeta anão
denominado Plutão, de
uma sonda enviada pela
NASA em 2006 tendo
alcançado o seu objetivo
somente agora no ano de
2015, portanto, nove
anos depois, após viajar
5 bilhões de quilômetros
a uma velocidade de
75.000 quilômetros por
hora! Como sabemos,
Plutão é o menor dos
planetas do nosso
sistema solar e o mais
distante. Quanto se
gastou em inteligência e
em valor financeiro para
concretizar esse
objetivo?
O astrofísico Neil
deGrasse Tyson fez uma
afirmativa interessante
sobre a exploração
cósmica: “o ato de
explorar vale por si,
pois se expandimos
fronteiras aumentamos o
conhecimento, o que
inevitavelmente leva a
descobertas científicas
e tecnológicas”.
Na questão de número 919
de O Livro Dos
Espíritos nos é
recomendado uma viagem
bem mais perto do que
essa para Plutão, com
menos gasto financeiro,
muito menor tempo, com
equipamentos que não
requerem alta
tecnologia, mas que
impõe uma condição que o
ser humano reluta em
aceitar: ter a coragem e
honestidade suficientes
para conhecer a si
mesmo. Segundo a
resposta mencionada,
esse é o meio mais
prático e mais eficaz
para se melhorar nesta
vida e resistir aos
arrastamentos do mal.
Mas dessa viagem para o
nosso interior vivemos
longe, muito longe,
fugindo sempre. E Jesus
já a propunha quando
curava alguém ao
orientar: vá e não
peques mais para que não
te suceda o pior. Como
não pecar mais, ou seja,
não reincidir no mesmo
erro sem uma corajosa
autoanálise? É a viagem
onde passamos a conhecer
a nós mesmos! Mas
continuamos a preferir
correr atrás de Plutão,
Marte e Vênus. É, sem
dúvida, em nosso
julgamento infantil
espiritualmente falando,
muito mais fácil viajar
para fora por mais longe
que seja do que explorar
o interior tão próximo e
temido. Somos corajosos
em explorar o exterior,
mas somos covardes para
penetrar em nosso íntimo
com o objetivo de
conhecermo-nos. Então,
como é mais difícil,
fugimos para bem longe
Universo afora.
Ensina Joanna de Ângelis
que a autoanálise
trabalhada pela
insistência de
preservação dos ideais
superiores da vida é o
recurso preventivo para
a manutenção do
bem-estar e da saúde nas
suas várias expressões.
Não é isso que buscamos
ardentemente? Bem-estar
e saúde? Quantas pessoas
não se aproximam da
Doutrina Espírita
buscando essas condições
de vida? Buscam a
Doutrina, mas fogem da
medicação recomendada.
Continua ensinando
Joanna que a
autoavaliação é a medida
mais eficaz para que se
evite o agravamento dos
distúrbios psicológicos
através de um exame
pessoal constante das
nossas atitudes em
relação ao grupo social
no qual se encontra. E o
que fazemos? Partimos em
busca de Marte, Vênus e
Plutão numa viagem bem
mais longa, bem mais
longe, mas que, mesmo
assim, é mais fácil de
ser realizada do que a
viagem para nosso
interior.
Santo Agostinho nos dá o
roteiro para essa viagem
da qual tanto fugimos:
interrogar a própria
consciência; analisar o
que se fez e
perguntar-se se não
faltamos com algum dever
e se ninguém tem nada a
se lamentar de nós.
Já habitaríamos um
planeta de evolução
superior se fizéssemos
essa viagem para dentro
de nós mesmos ao final
de cada dia.
O mesmo santo afirma
nessa sua orientação que
fazer algum mal contra o
próximo é fazer um mal
contra si mesmo. Não
seria essa uma medicação
infalível contra os mais
diversos tipos de crimes
que desfilam pelos
noticiários do mundo?
Não seria uma arma
infalível contra a
corrupção e a impunidade
que desafiam a confiança
nas leis que regem uma
sociedade?
Para isso não teríamos
que atravessar o cosmo,
mas adentrar na
intimidade dos nossos
atos pela nave da
consciência movida pelo
combustível da coragem e
da honestidade que ainda
não pode ser produzido
por nenhuma usina fora
do ser humano.
Ao identificarmos essa
dificuldade, preferimos
embarcar no veículo
espacial que viajou
cerca de 5 bilhões de
quilômetros durante nove
anos em direção ao
planeta anão denominado
Plutão.
Mas dia virá, mais cedo
ou mais tarde, que
seremos convocados a
embarcar em uma outra
nave na qual temos um
lugar reservado
gratuitamente e que se
chama desencarnação.
Assim que ela nos deixar
no outro lado da
fronteira da Vida,
seremos obrigados à
viagem interior da qual
fugimos tanto hoje
mergulhados no
esconderijo do corpo
físico.
Boa viagem para todos
nós na nave da
consciência!