Amigos invisíveis
A
Doutrina Espírita e os
Anjos Guardiães[1]
O labor colaborativo
entre homens e
Espíritos, entre
encarnados e
desencarnados, é uma das
mais belas e comovedoras
expressões do amor e da
misericórdia de Deus por
seus filhos.
Estabelecendo a
reencarnação, o estágio
no corpo físico, como
mecanismo da Lei de
Progresso e de Evolução
de cada Espírito e,
fixando, ainda, dentro
desse contexto e desse
processo palingenésico,
o esquecimento
temporário de sua
procedência e dos
episódios vivenciados em
experiências de vidas
anteriores, não deixa a
Divindade, contudo,
órfãos os Seus filhos,
sozinhos no mundo,
enfrentando solitários
os desafios da
sobrevivência e os
reflexos do uso bom ou
mau do livre-arbítrio e
da dinâmica da Lei de
Causa e Efeito.
Bondoso e justo, o
Criador estabeleceu a
Lei de Solidariedade,
fazendo com que os que
estagiam no Mundo
Espiritual ajudem e
assessorem, como
protetores, aqueles que
jornadeiam
temporariamente na
Terra.
Personalidades que se
destacaram na História
sentiram essas presenças
amigas invisíveis.
Joana d’Arc (1412-1431),
cognominada a Donzela
de Orléans, no
cumprimento de sua
missão, ouvia as vozes
celestes de Santos da
Igreja, que a
orientavam,
vozes que ela dizia ser
dos Espíritos
São Miguel, Santa
Catarina de Alexandria e
de Santa Margarida de
Antioquia, que a
exortavam a manter
contato com o delfim
Carlos VII (1403-1461),
e libertar a França,
devastada pela invasão
inglesa durante a Guerra
dos Cem Anos, que
perdurou, na Idade
Média, entre os anos de
1337 e 1453, envolvendo
diversos acontecimentos.
Segundo a médium
brasileira Yvonne do
Amaral Pereira
(1900-1984), em sua obra
autobiográfica
Recordações da
Mediunidade, as
entidades espirituais
que se comunicavam
através de Joana D’Arc e
às quais ela atribuía os
nomes dos santos por ela
venerados, cujas imagens
existiam na igrejinha de
Domremy, sua terra
natal, poderiam também
ser os seus próprios
guias espirituais, ou os
guardiães espirituais da
coletividade francesa, a
exemplo de Santa
Genoveva, São Luís ou
Carlos Magno, e que
tomariam as
aparências daquelas
imagens a fim de
infundirem respeito e
confiança ao coração
heroico daquela jovem.[2]
Santo Agostinho
(354-430), em instante
decisivo do seu chamado,
também ouviu no âmago do
ser o convite à mudança
de atitudes e
ofereceu-se, vencido, a
serviço do Bem.
O Codificador do
Espiritismo, ainda nos
momentos primeiros de
sua aproximação dos
fenômenos provocados
pelos Espíritos,
sentiu-lhes a presença,
reconhecendo que “uma
revolução nas ideias e
nas crenças”[3]
do mundo se operaria a
partir daqueles fatos.
Após um período de
observações, tem contato
com um amigo espiritual
de longa data, que se
apresenta como Zéfiro,[4]
revelando-lhe amizade e
respeito desde
convivência na antiga
região da Gália nos
tempos dos druidas,
quando ele, o professor
Hippolyte Léon Denizard
Rivail, chamava-se Allan
Kardec,[5]demonstrando-se
afetuoso e conhecedor
daquela individualidade
que renascera no século
XIX na personalidade
dofamoso pedagogo
francês, para destacada
missão na Terra.Séculos
depois, portanto,voltam
a se reencontrar, na
mesma França amada,
embora em planos
diferentes,consolidando
uma amizade que os
séculos confirmariam
cada vez mais.
A missão de Zéfiro era
secundar o futuro
Codificador na tarefa
muito importante a que
ele era chamado, e que
facilmente levaria a
termo.[6]
Mais tarde, conhecendo
os primeiros detalhes do
labor que o aguardava,
na condição de arauto da
Terceira Revelação, que
é o Espiritismo, Allan
Kardec recebe a visita
em momento especial do
seu guia espiritual, que
o envolve em dúlcidas e
carinhosas vibrações,
dizendo-lhe: “– Para ti,
chamar-me-ei A Verdade”.[7]
Foi nesse braço amigo
que o devotado Mestre de
Lyon deixou-se amparar,
mantendo ímpar
fidelidade, atitude essa
que, certamente, levou-o
a concluir com êxito a
sua missão.
Nunca estamos a sós.
Pode-se dizer que o
solilóquio absoluto
inexiste.
Todos têm um apostolado
no mundo e amigos
diligentes nos apoiam,
ajudando-nos a
concretizar
nossoscompromissos.
Nos momentos de
incertezas e de crises;
e nos instantes de
realizações positivas,
recolhamo-nos em prece e
agradeçamos aos anjos
guardiães que velam por
nós.
Nos dias modernos,
muitas pessoas recusam a
possibilidade de suas
existências, sobretudo
os que têm uma visão
materialista da vida.
Outros os imaginam como
seres angélicos, criados
absolutamente puros
desde o início dos
tempos e posicionados
distantes dos seres
humanos.
Muitos os cultivam e
adoram consoante o
imaginário das lendas,
dedicando-lhes imagens e
rituais conforme as
crendices adotadas.
Referimo-nos aos
chamados Anjos
Guardiães.
Desde todos os tempos
eles estão presentes na
vida da criatura humana.
Os povos da Antiguidade
percebiam as suas
manifestações em a
Natureza.
O horizonte primitivo da
Humanidade registra as
suas presenças nas
expressões da vida
mineral, da vida vegetal
e nos movimentos e
grandiosidade dos astros
que se movimentam no
espaço sideral,
percebendo-os, também,
na Mitologia, como
“deuses do Olimpo”.
Muitas coletividades e
indivíduos, dentro de
uma visão politeísta,
têm a sua galeria e o
seu altar de deuses
protetores.
Na Grécia, por exemplo,
Sócrates (470-399 a.C.)
identifica o anjo
guardião na figura
do Daimon, a ele
referindo-se inúmeras
vezes nos seus formosos
discursos e diálogos,
acompanhados e
registrados porseu
discípulo Platão
(428-348 a.C.) e outros
seguidores de sua
filosofia.
Enquanto a Humanidade
avançava, vencendo os
séculos, eles
participavam, como num
concerto a quatro mãos,
da epopeia terrestre,
ajudando a escrever as
páginas da história das
nações.
Homens e mulheres que
deram o seu contributo à
Ciência, à Filosofia e
ao progresso humano,
fizeram-no de forma
compartilhada com os
seus anjos guardiães,
consoante as
possibilidades
evolutivas de cada qual.
Como citamos acima,
Allan Kardec, no século
XIX, ao dar início aos
seus contatos
preliminares com os
Espíritos, o faz através
do seu Espírito
Protetor, que se revela
em memorável momento do
seu apostolado e “cuja
superioridade ele estava
longe de imaginar” e que
delineia para o futuro
Codificador o perfil
de liderança que lhe
seria necessário
apresentar para
cumprimento da missão.
“– Todos os meses,
durante um quarto de
hora, estarei aqui à tua
disposição”, diz-lhe a
Venerável Entidade.[8]
O suporte espiritual ao
Codificador, por parte
dos Espíritos guardiães,
em contatos sempre
fraternos e de especial
proteção, certamente foi
que o levaram a escrever
e a inserir em O
Livro dos Espíritos,
as belíssimas páginas
dedicadas aos Espíritos
Protetores ou Anjos da
Guarda, apresentando o
mecanismo de sua ação
junto aos protegidos,
exemplificando os casos
de vínculos por simpatia
ou decorrentes de laços
consanguíneos familiares
pretéritos.
Em momento de emoção,
Allan Kardec recebe dos
Espíritos Amigos as
orientações acerca da
“doutrina dos anjos
guardiães a velarem por
seus protegidos”, deles
recebendo apreço e
consideração, declarando
ser ela “grandiosa e
sublime”.[9]
Divulguemos essas belas
páginas espíritas acerca
dos Espíritos
Protetores. Será uma
forma de homenagearmos
esses amigos que
lutaram, sofreram e
venceram as asperezas da
Terra, permanecendo ao
lado dos seus pupilos, a
fim de que eles também
possam obter a vitória e
a conquista da paz.
[1]
.
Vide PUGLIESE,
Adilton. Os
Anjos Guardiães
segundo o
Espiritismo,
LEAL.
[3]
. KARDEC, Allan.
Obras
Póstumas,
1.ed.FEB,
tradução de
Evandro Noleto
Bezerra, p.350.
[4]
. KARDEC, Allan.
Obras
Póstumas,
1.ed.FEB,
tradução de
Evandro Noleto
Bezerra, pp.349
e 380.
[5]
. WANTUIL, Zêus,
THIESEN,
Francisco.
Allan Kardec,
volume II,
1.ed.FEB,
p.74.
[6]
. SAUSSE, Henri,
Biografia de
Allan Kardec,
1.ed. FEB,
tradução de
Evandro Noleto
Bezerra, p.39.
[7].
KARDEC, Allan.
Idem,
p.357.
[8].
KARDEC, Allan.
Obras
Póstumas,
1.ed.FEB,
tradução de
Evandro Noleto
Bezerra, p. 357
e 360.
[9]
. KARDEC, Allan.
O Livro dos
Espíritos,
FEB, edição
histórica,
tradução de
Guillon Ribeiro,
questão 495.