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Crônicas e Artigos

Ano 9 - N° 427 - 16 de Agosto de 2015

ADILTON PUGLIESE
santospugliese@hotmail.com
Salvador, Bahia (Brasil)

 

 
Amigos invisíveis

 

A Doutrina Espírita e os Anjos Guardiães[1]

 


O labor colaborativo entre homens e Espíritos, entre encarnados e desencarnados, é uma das mais belas e comovedoras expressões do amor e da misericórdia de Deus por seus filhos.


Estabelecendo a reencarnação, o estágio no corpo físico, como mecanismo da Lei de Progresso e de Evolução de cada Espírito e, fixando, ainda, dentro desse contexto e desse processo palingenésico, o esquecimento temporário de sua procedência e dos episódios vivenciados em experiências de vidas anteriores, não deixa a Divindade, contudo, órfãos os Seus filhos, sozinhos no mundo, enfrentando solitários os desafios da sobrevivência e os reflexos do uso bom ou mau do livre-arbítrio e da dinâmica da Lei de Causa e Efeito.

 

Bondoso e justo, o Criador estabeleceu a Lei de Solidariedade, fazendo com que os que estagiam no Mundo Espiritual ajudem e assessorem, como protetores, aqueles que jornadeiam temporariamente na Terra.

 

Personalidades que se destacaram na História sentiram essas presenças amigas invisíveis.

 

Joana d’Arc (1412-1431), cognominada a Donzela de Orléans, no cumprimento de sua missão, ouvia as vozes celestes de Santos da Igreja, que a orientavam, vozes que ela dizia ser dos Espíritos São Miguel, Santa Catarina de Alexandria e de Santa Margarida de Antioquia, que a exortavam a manter contato com o delfim Carlos VII (1403-1461), e libertar a França, devastada pela invasão inglesa durante a Guerra dos Cem Anos, que perdurou, na Idade Média, entre os anos de 1337 e 1453, envolvendo diversos acontecimentos.

 

Segundo a médium brasileira Yvonne do Amaral Pereira (1900-1984), em sua obra autobiográfica Recordações da Mediunidade, as entidades espirituais que se comunicavam através de Joana D’Arc e às quais ela atribuía os nomes dos santos por ela venerados, cujas imagens existiam na igrejinha de Domremy, sua terra natal, poderiam também ser os seus próprios guias espirituais, ou os guardiães espirituais da coletividade francesa, a exemplo de Santa Genoveva, São Luís ou Carlos Magno, e que tomariam as aparências daquelas imagens a fim de infundirem respeito e confiança ao coração heroico daquela jovem.[2]

 

Santo Agostinho (354-430), em instante decisivo do seu chamado, também ouviu no âmago do ser o convite à mudança de atitudes e ofereceu-se, vencido, a serviço do Bem.

 

O Codificador do Espiritismo, ainda nos momentos primeiros de sua aproximação dos fenômenos provocados pelos Espíritos, sentiu-lhes a presença, reconhecendo que “uma revolução nas ideias e nas crenças”[3] do mundo se operaria a partir daqueles fatos.

 

Após um período de observações, tem contato com um amigo espiritual de longa data, que se apresenta como Zéfiro,[4] revelando-lhe amizade e respeito desde convivência na antiga região da Gália nos tempos dos druidas, quando ele, o professor Hippolyte Léon Denizard Rivail, chamava-se Allan Kardec,[5]demonstrando-se afetuoso e conhecedor daquela individualidade que renascera no século XIX na personalidade dofamoso pedagogo francês, para destacada missão na Terra.Séculos depois, portanto,voltam a se reencontrar, na mesma França amada, embora em planos diferentes,consolidando uma amizade que os séculos confirmariam cada vez mais.

 

A missão de Zéfiro era secundar o futuro Codificador na tarefa muito importante a que ele era chamado, e que facilmente levaria a termo.[6]

 

Mais tarde, conhecendo os primeiros detalhes do labor que o aguardava, na condição de arauto da Terceira Revelação, que é o Espiritismo, Allan Kardec recebe a visita em momento especial do seu guia espiritual, que o envolve em dúlcidas e carinhosas vibrações, dizendo-lhe: “– Para ti, chamar-me-ei A Verdade”.[7]

 

Foi nesse braço amigo que o devotado Mestre de Lyon deixou-se amparar, mantendo ímpar fidelidade, atitude essa que, certamente, levou-o a concluir com êxito a sua missão.

 

Nunca estamos a sós. Pode-se dizer que o solilóquio absoluto inexiste.

 

Todos têm um apostolado no mundo e amigos diligentes nos apoiam, ajudando-nos a concretizar nossoscompromissos.

 

Nos momentos de incertezas e de crises; e nos instantes de realizações positivas, recolhamo-nos em prece e agradeçamos aos anjos guardiães que velam por nós.


Nos dias modernos, muitas pessoas recusam a possibilidade de suas existências, sobretudo os que têm uma visão materialista da vida.


Outros os imaginam como seres angélicos, criados absolutamente puros desde o início dos tempos e posicionados distantes dos seres humanos.


Muitos os cultivam e adoram consoante o imaginário das lendas, dedicando-lhes imagens e rituais conforme as crendices adotadas. Referimo-nos aos chamados Anjos Guardiães.
 

Desde todos os tempos eles estão presentes na vida da criatura humana. Os povos da Antiguidade percebiam as suas manifestações em a Natureza.

 

O horizonte primitivo da Humanidade registra as suas presenças nas expressões da vida mineral, da vida vegetal e nos movimentos e grandiosidade dos astros que se movimentam no espaço sideral, percebendo-os, também, na Mitologia, como “deuses do Olimpo”.

 

Muitas coletividades e indivíduos, dentro de uma visão politeísta, têm a sua galeria e o seu altar de deuses protetores.

 

Na Grécia, por exemplo, Sócrates (470-399 a.C.) identifica o anjo guardião na figura do Daimon, a ele referindo-se inúmeras vezes nos seus formosos discursos e diálogos, acompanhados e registrados porseu discípulo Platão (428-348 a.C.) e outros seguidores de sua filosofia.

 

Enquanto a Humanidade avançava, vencendo os séculos, eles participavam, como num concerto a quatro mãos, da epopeia terrestre, ajudando a escrever as páginas da história das nações.

 

Homens e mulheres que deram o seu contributo à Ciência, à Filosofia e ao progresso humano, fizeram-no de forma compartilhada com os seus anjos guardiães, consoante as possibilidades evolutivas de cada qual.

 

Como citamos acima, Allan Kardec, no século XIX, ao dar início aos seus contatos preliminares com os Espíritos, o faz através do seu Espírito Protetor, que se revela em memorável momento do seu apostolado e “cuja superioridade ele estava longe de imaginar” e que delineia para o futuro Codificador o perfil de liderança que lhe seria necessário apresentar para cumprimento da missão. “– Todos os meses, durante um quarto de hora, estarei aqui à tua disposição”, diz-lhe a Venerável Entidade.[8]

 

O suporte espiritual ao Codificador, por parte dos Espíritos guardiães, em contatos sempre fraternos e de especial proteção, certamente foi que o levaram a escrever e a inserir em O Livro dos Espíritos, as belíssimas páginas dedicadas aos Espíritos Protetores ou Anjos da Guarda, apresentando o mecanismo de sua ação junto aos protegidos, exemplificando os casos de vínculos por simpatia ou decorrentes de laços consanguíneos familiares pretéritos.

 

Em momento de emoção, Allan Kardec recebe dos Espíritos Amigos as orientações acerca da “doutrina dos anjos guardiães a velarem por seus protegidos”, deles recebendo apreço e consideração, declarando ser ela “grandiosa e sublime”.[9]

 

Divulguemos essas belas páginas espíritas acerca dos Espíritos Protetores. Será uma forma de homenagearmos esses amigos que lutaram, sofreram e venceram as asperezas da Terra, permanecendo ao lado dos seus pupilos, a fim de que eles também possam obter a vitória e a conquista da paz. 

 

 


[1] . Vide PUGLIESE, Adilton. Os Anjos Guardiães segundo o Espiritismo, LEAL.

[2] . PEREIRA, Yvonne A. Recordações da Mediunidade. 4.ed.FEB, p.32.

[3] . KARDEC, Allan. Obras Póstumas, 1.ed.FEB, tradução de Evandro Noleto Bezerra, p.350.

[4] . KARDEC, Allan. Obras Póstumas, 1.ed.FEB, tradução de Evandro Noleto Bezerra, pp.349 e 380.

[5] . WANTUIL, Zêus, THIESEN, Francisco. Allan Kardec, volume II, 1.ed.FEB, p.74.

[6] . SAUSSE, Henri, Biografia de Allan Kardec, 1.ed. FEB, tradução de Evandro Noleto Bezerra, p.39.

[7]. KARDEC, Allan. Idem, p.357.

[8]. KARDEC, Allan. Obras Póstumas, 1.ed.FEB, tradução de Evandro Noleto Bezerra, p. 357 e 360.

[9] . KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos, FEB, edição histórica, tradução de Guillon Ribeiro, questão 495.


 

 


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