Jesus não é Deus
Pisar neste terreno é o
mesmo que andar em um
campo minado, pois o
assunto contradiz a
crença de muitas
pessoas, no entanto,
nossa intenção é apenas
elucidar o tema sob a
ótica da Doutrina
Espírita sem promover
discussões acaloradas.
Certas religiões não
reconhecem o Espiritismo
como doutrina cristã e
utilizam como principal
argumento o fato de que
os espíritas não admitem
a ideia de que Jesus é o
próprio Deus. Em parte,
eles estão certos. De
fato a Doutrina Espírita
não interpreta a figura
de Jesus como Deus, mas,
daí a dizer que o
Espiritismo não é
cristão, é uma outra
história.
À primeira vista, a
afirmação de que o
Messias não é o Criador
pode nos causar uma
certa perplexidade, mas
para compreender o tema
proposto devemos nos
libertar da fé cega que
nos torna uma máquina de
crer, nos tira a ação de
questionar e de submeter
as ideias ao crivo da
razão.
A divindade de Jesus
O Cristianismo tornou-se
religião oficial do
Império Romano no ano de
380 d.C., por ordem do
imperador Teodósio I.
Até então o paganismo
predominava naquela
civilização e qualquer
outra forma de
manifestação religiosa
era considerada uma
subversão. Todavia, a
doutrina pagã fora
oficialmente extinta
somente no ano de 392
d.C. Neste período de
conversão do Império
Romano, o Cristianismo
sofreu influências pagãs
e incorporou alguns
costumes da antiga
religião em suas
tradições.
O hábito de cultuar
imagens, por exemplo,
foi herdado do
paganismo. Desta
maneira, acredita-se que
o endeusamento da
personalidade de Jesus
tenha partido do mesmo
princípio, o que acabou
tornando-se um dogma,
que posteriormente foi
fomentado pela
institucionalização da
Igreja, que acabou
criando, através de seu
proselitismo, a imagem
de um Messias intocável.
Jesus por Ele mesmo
Sabemos que o Mestre de
Nazaré não deixou nenhum
registro de suas ideias.
Os relatos existentes
são narrados pelos
apóstolos ou até mesmo
pelos discípulos dos
apóstolos, que sequer
tiveram contato com
Jesus, o que não confere
grande credibilidade aos
registros contidos no
Novo Testamento. Mas por
serem os únicos relatos
existentes,
mencionaremos
determinadas citações
bíblicas atribuídas ao
Cristo, que demonstram
não ser Ele o Criador.
Vejamos:
“Quem quer que me
receba, recebe aquele
que me enviou,
porquanto aquele que for
o menor entre todos vós
será o maior de todos”.
(Lucas, 9:48)
“Jesus lhes disse então:
Se Deus fosse vosso Pai,
vós me amaríeis, porque
foi de Deus que saí e
foi de sua parte que
vim; pois não vim de mim
mesmo, foi Ele que me
enviou.”
(João, 8:42)
“Jesus então lhes disse:
Ainda estou convosco por
um pouco de tempo e vou
em seguida para
aquele que me enviou.”
(João, 7:33)
“Desci do céu, não para
fazer a minha vontade,
mas para fazer a
vontade daquele que me
enviou.”
(João, 6:38)
Quem teria enviado
Jesus, senão o Criador?
As palavras que
destacamos em
negrito,nos levam a crer
que Jesus se refere a
outra personalidade, que
nada tem a ver com o
Nazareno.
Em outras tantas
passagens evangélicas,
Jesus se dirige a Deus
como um filho se reporta
a um pai:
“Aquele que me confessar
e me reconhecer diante
dos homens, eu também o
reconhecerei e
confessarei diante de
meu Pai que está nos
céus."
(Mateus, 10:32)
“Eu me vou e volto a
vós. Se me amásseis,
rejubilaríeis, pois que
vou para meu Pai, porque
meu Pai É MAIOR DO QUE
EU.”
(João, 14:28.)
Certamente Jesus não se
referiu a José quando
pronunciou "o meu pai",
mas sim a Deus, que lhe
confiou a mais sublime
missão. (Obras
Póstumas - Allan
Kardec.)
Percebemos nestas
citações contidas no
Novo Testamento, que são
atribuídas ao próprio
Cristo, que Ele é um
enviado de Deus.
Descarta-se, portanto,
qualquer possibilidade
de o Nazareno ser o
Criador.
Por fim, destacaremos
uma das mais conhecidas
passagens atribuídas a
Jesus, que é narrada
pelos evangelistas nas
escrituras. São as
últimas palavras do
Cristo enquanto espírito
encarnado:
“Pai, em tuas mãos
entrego o meu espírito”.
(Lucas, 23, 46)
Ora, aqui nos parece
muito claro que Jesus se
coloca diante de Deus no
ponto alto de seu
sofrimento. Allan Kardec
destaca seu pensamento
sobre o assunto:
“Se Jesus, ao morrer,
entrega sua alma às mãos
de Deus, é que ele tinha
uma alma distinta de
Deus, submissa a Deus.
Logo, ele não era Deus”.
(Obras Póstumas - Allan
Kardec.)
Jesus, segundo o
Espiritismo
Algumas religiões acusam
o Espiritismo de
diminuir a figura de
Jesus, o que não é
verdade. A Doutrina
Espírita procura
resgatar o cristianismo
redivivo, que se perdeu
com o passar dos tempos,
e por isso rejeita o
dogma da divindade de
Jesus, tal qual o
próprio Cristo o fez,
como exemplificamos no
tópico anterior.
A Doutrina dos Espíritos
nos explica que Jesus é
um Espírito criado por
Deus, simples e
ignorante, como todos
nós, mas que já
percorreu todo o caminho
evolutivo e que por isso
é um Espírito perfeito.
625) Qual o tipo mais
perfeito que Deus
ofereceu ao homem para
lhe servir de guia e
modelo?
–Vede
Jesus.
(O Livro dos Espíritos -
Allan Kardec.)
Jesus Cristo é um dos
prepostos do Criador,
que recebeu a missão de
conduzir o nosso
planeta. Antes mesmo de
a Terra existir, Ele já
havia alcançado a
perfeição e, juntamente
com uma plêiade de
Espíritos afins,
organizou o nosso
sistema, os planetas e
tudo o que aqui está.
Sua reencarnação na
Terra teve o objetivo de
complementar a lei
anunciada por Moisés e,
sobretudo, para nos
mostrar que podemos
evoluir moralmente e nos
aproximar de Deus.
"Para o homem, Jesus
constitui o tipo da
perfeição moral a que a
Humanidade pode aspirar
na Terra. Deus no-lo
oferece como o mais
perfeito modelo, e a
doutrina que ensinou é a
expressão mais pura da
lei do Senhor, porque,
sendo ele o mais puro de
quantos têm aparecido na
Terra, o Espírito Divino
o animava.”
(O Livro dos Espíritos -
Allan Kardec.)
O Espiritismo não
endeusa a figura do
Mestre, ao contrário,
nos apresenta Jesus de
uma maneira real e
tangível,
desmistificando a ideia
do Cristo intocável e
distante. Ele é o modelo
a ser seguido e, somente
colocando em prática
seus exemplos e
ensinamentos, teremos
condições de conquistar
a perfeição.
"Eu sou o caminho, a
verdade e a vida.
Ninguém vem ao Pai, a
não ser por mim."(João,
14)
Deus, segundo o
Espiritismo
Não temos a pretensão de
definir o que é Deus,
até mesmo porque esse
assunto foge ao nosso
entendimento. Mas
recorremos a "O Livro
dos Espíritos", em que
Allan Kardec, logo na
primeira pergunta
direcionada aos
Espíritos superiores,
vai direto ao ponto.
1. Que é Deus?
–“Deus é a inteligência
suprema, causa primária
de todas as coisas.”(O
Livro dos Espíritos -
Allan Kardec.)
Temos aqui uma ideia
superficial do que é
Deus, pois a natureza
humana, ainda muito
limitada, não é capaz de
compreender a
complexidade do Criador.
Mas entendemos que Deus
é eterno, não teve
princípio e não terá
fim; é único e
soberanamente justo e
bom. É dEle que partem
todas as coisas,
inclusive o princípio
inteligente chamado de
espírito.
81. Os Espíritos se
formam espontaneamente,
ou procedem uns dos
outros?
–“Deus os cria, como
a todas as outras
criaturas, pela sua
vontade. Mas, repito
ainda uma vez, a origem
deles é mistério.”
(O Livro dos Espíritos -
Allan Kardec.)
"Deus não se mostra, mas
se revela por suas
obras." Para comprovar
sua existência, basta
olhar ao redor e
contemplar a natureza, o
universo, a harmonia de
tudo que o homem não
criou. Não precisamos
nos esforçar muito para
compreender que toda
esta complexidade nasce
de uma inteligência
maior, ou nada faria
sentido.
Considerações finais
Se todos os Espíritos
são criados por Deus e
Jesus é um Espírito
puro, logo o Cristo não
é Deus, mas podemos considerá-lo
como seu emissário.
Jesus é parte da obra
magnífica e infinita do
Criador, trazendo
consigo a esperança e a
centelha do amor Divino,
que nos consola em
tempos difíceis e nos
reveste de esperança. É
a luz que clarifica o
caminho para evolução.
–"Jesus foi a
manifestação do amor de
Deus, a personificação
de sua bondade
infinita."
(Espírito Emmanuel, no
livro "Emmanuel" -
Psicografia de Chico
Xavier.)
REFERÊNCIAS:
XAVIER, F.C. - A
Caminho da Luz -
pelo Espírito Emmanuel,
FEB, Rio de Janeiro, 1ª
ed., 1939.
KARDEC, Allan. A
gênese, os milagres e as
predições segundo o
Espiritismo. Tradução
de Salvador Gentile,
revisão de Elias Barbosa. 8.
ed. Araras, SP: IDE,
1995.
KARDEC, Allan. Obras
póstumas. 30.ed. Rio
de Janeiro: FEB, 2001.
KARDEC, Allan - O
Livro dos Espíritos -
FEB, Rio de Janeiro,
1994.