Caso interessante relata R.
A. Ranieri, delegado de
polícia e espírita, sobre um
encontro seu com o famoso
poeta, prosador, humorista,
Cornélio Pires, que após a
desencarnação passa a nos
deixar belíssimos trechos de
poesias do cotidiano caipira
através da mediunidade de
Chico Xavier. (Este fato
está registrado no livro
“Chico Xavier e os Grandes
Gênios”, editado pela Lake.)
Ranieri morava na época em
Águas da Prata, onde exercia
sua profissão. Morava em um
Hotel.
Conta Ranieri:
Sabem quem vem aí hoje? -
Perguntou-nos o dono do
hotel.
Quem? – interrogamos.
O Cornélio Pires!
Cornélio Pires? O escritor?
Sim. Cornélio Pires. Vai
fazer uma conferência à
noite. O Sr. está convidado.
Irei.
Pensava que a conferência
seria no salão de cinema do
hotel. Morava lá. Não me
falou. À noite procurei o
local, mas iam passar um
filme. Fui saber onde era a
conferência.
Na Praça em frente ao hotel,
disse o porteiro.
Fui para a praça e não vi
ninguém a não ser um homem
debaixo do poste central,
mal iluminado.
Praça deserta.
Era Cornélio Pires.
Boa noite. O senhor vai bem?
Bem, obrigado. Sou o
delegado.
Eu sei. O Sr. Andrada já me
disse.
Como vão as coisas, “Seu”
Cornélio?
Vão bem. Agora, vou fazer a
conferência e depois,
amanhã, vou para São Paulo.
Estou vindo de Minas...
Pedi licença, meio sem
graça, me afastei um pouco e
fui ver as águas do pequeno
rio que rolava ali mesmo,
iluminado frouxamente à luz
da lua.
As pequenas ondas saltavam.
Um soldado me acompanhava.
Pode ser que haja
conferência hoje, disse eu
ao soldado. Esse Cornélio
Pires aí na rua... Sem
ninguém... Será que o homem
é doido?
O soldado não disse nada,
encolheu os ombros, mas
olhou de esguelha o homem
despreocupado que lia jornal
à luz frouxa do poste de
iluminação pública. Praça
deserta...
De repente, passou um
caboclo.
Passou pelo Cornélio,
distraidamente, depois,
parece surpreendido, deu
pela coisa e voltou alegre.
Oh, seu Cornélio! O senhor
aqui? Há quanto tempo não
via o senhor... E o homem
abriu um grande sorriso de
satisfação.
Trocaram algumas palavras e
o Cornélio falou-lhe:
Lembra-se daquela?
E começou a contar para o
caipira uma piada muito
antiga. No entanto, nos
lábios de Cornélio Pires a
piada ganhava nova
expressão, vestia-se de
colorido e de graça e o
caipira ria a bandeiras
despregadas.
Nós também rimos, meio sem
jeito, e passamos a
observá-lo de longe.
Logo apareceu o
guarda-chaves da Estação e
disse:
Soube ali agora que o senhor
estava aqui e vim.
E dessa forma, pouco a pouco
o grupo foi aumentando, e o
Cornélio Pires ia contando
as suas histórias, as suas
anedotas, fazendo as suas
graças, de modo que às oito
horas, horário marcado para
a conferência, já havia uma
enorme multidão na pequena
praça.
Bem, disse o escritor, agora
já podemos começar a nossa
conferência.
Olhei o povo verdadeiramente
assombrado e vi que
realmente aquele homem, que
chegara de repente, não
anunciara durante o dia
conferência alguma e que
apenas se limitara a ir para
o meio da rua ler jornal, já
podia iniciar a sua
conferência porque com um
sorriso nos lábios e algumas
piadas organizara em pouco
tempo o mais simpático
auditório do mundo!
Fiquei pasmado. Nós também
éramos oradores e fazíamos
conferências pelo Brasil.
Nunca havíamos visto uma
coisa dessas em nossa
vida...
Aquele era o Cornélio Pires.
Fez a conferência, contando
piadas entremeadas com
ensinamentos espíritas. Ele
era espírita.
Reencarnação, imortalidade
da alma, mediunidade, tudo
ia desfilando
maravilhosamente através de
sua palavra mágica que
prendia e arrastava as
multidões.
Terminada a conferência,
conversamos.
Suas palavras ao povo
abriram as portas da
intimidade pra nós e nos
tornamos amigos em poucos
minutos. Ali, naquela noite.
Encontrei-o depois muitas
vezes. Falou-me do médium
Vicente e do aparelho que
pretendia construir, espécie
de televisão espiritual para
que os homens através dessa
televisão pudessem ver os
espíritos. Gastava muito
dinheiro com o aparelho e
algumas peças mandara vir
dos Estados Unidos.
Não pôde, no entanto,
realizar esse sonho porque
morreu.
No mundo espiritual, porém,
Cornélio Pires encontrou a
imortalidade e passou a
enviar poemas pelo Chico,
especialmente sonetos.
(Observação do colunista:
Nos últimos momentos de sua
vida, quando Chico já não
recebia mensagens de seus
guias para publicação, era
Cornélio Pires quem deixava
alegres mensagens do
além-túmulo.)
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