O leitor Manoel Antonio de
Azevedo, em carta publicada
nesta mesma edição, pede-nos
que comentemos a mensagem
publicada no item 19 do
capítulo V de O Evangelho
segundo o Espiritismo,
de Allan Kardec, intitulada
“O mal e o remédio”.
É bom lembrar inicialmente
que o capítulo citado
focaliza as aflições que
acometem a criatura humana,
examinando-as quanto às suas
causas e à sua justiça.
Adicionalmente, tece
considerações sobre o
esquecimento do passado e o
tema resignação.
A mensagem “O mal e o
remédio” foi transmitida em
Paris, no ano de 1863, pelo
Espírito de Santo Agostinho.
Reproduzimo-la:
Será a Terra um lugar de
gozo, um paraíso de
delícias? Já não ressoa mais
aos vossos ouvidos a voz do
profeta? Não proclamou ele
que haveria prantos e ranger
de dentes para os que
nascessem nesse vale de
dores?
Esperai, pois, todos vós que
aí viveis, causticantes
lágrimas e amargo sofrer e,
por mais agudas e profundas
sejam as vossas dores,
volvei o olhar para o Céu e
bendizei do Senhor por ter
querido experimentar-vos...
Ó homens! dar-se-á não
reconheçais o poder do vosso
Senhor, senão quando ele vos
haja curado as chagas do
corpo e coroado de beatitude
e ventura os vossos dias?
Dar-se-á não reconheçais o
seu amor, senão quando vos
tenha adornado o corpo de
todas as glórias e lhe haja
restituído o brilho e a
brancura? Imitai aquele que
vos foi dado para exemplo.
Tendo chegado ao último grau
da abjeção e da miséria,
deitado sobre uma
estrumeira, disse ele a
Deus: "Senhor, conheci todos
os deleites da opulência e
me reduzistes à mais
absoluta miséria; obrigado,
obrigado, meu Deus, por
haverdes querido
experimentar o vosso servo!"
Até quando os vossos olhares
se deterão nos horizontes
que a morte limita? Quando,
afinal, vossa alma se
decidirá a lançar-se para
além dos limites de um
túmulo?
Houvésseis de chorar e
sofrer a vida inteira, que
seria isso, a par da eterna
glória reservada ao que
tenha sofrido a prova com
fé, amor e resignação?
Buscai consolações para os
vossos males no porvir que
Deus vos prepara e
procurai-lhes a causa no
passado. E vós, que mais
sofreis, considerai-vos os
afortunados da Terra.
Como desencarnados, quando
pairáveis no Espaço,
escolhestes as vossas
provas, julgando-vos
bastante fortes para as
suportar. Por que agora
murmurar? Vós, que pedistes
a riqueza e a glória,
queríeis sustentar luta com
a tentação e vencê-la. Vós,
que pedistes para lutar de
corpo e espírito contra o
mal moral e físico, sabíeis
que quanto mais forte fosse
a prova, tanto mais gloriosa
a vitória e que, se
triunfásseis, embora devesse
o vosso corpo parar numa
estrumeira, dele, ao morrer,
se desprenderia uma alma de
rutilante alvura e
purificada pelo batismo da
expiação e do sofrimento.
Que remédio, então,
prescrever aos atacados de
obsessões cruéis e de
cruciantes males? Só um é
infalível: a fé, o apelo ao
Céu. Se, na maior acerbidade
dos vossos sofrimentos,
entoardes hinos ao Senhor, o
anjo, à vossa cabeceira, com
a mão vos apontará o sinal
da salvação e o lugar que um
dia ocupareis... A fé é o
remédio seguro do
sofrimento; mostra sempre os
horizontes do infinito
diante dos quais se esvaem
os poucos dias brumosos do
presente. Não nos
pergunteis, portanto, qual o
remédio para curar tal
úlcera ou tal chaga, para
tal tentação ou tal prova.
Lembrai-vos de que aquele
que crê é forte pelo remédio
da fé e que aquele que
duvida um instante da sua
eficácia é imediatamente
punido, porque logo sente as
pungitivas angústias da
aflição.
O Senhor apôs o seu selo em
todos os que nele creem. O
Cristo vos disse que com a
fé se transportam montanhas
e eu vos digo que aquele que
sofre e tem a fé por amparo
ficará sob a sua égide e não
mais sofrerá. Os momentos
das mais fortes dores lhe
serão as primeiras notas
alegres da eternidade. Sua
alma se desprenderá de tal
maneira do corpo, que,
enquanto se estorcer em
convulsões, ela planará nas
regiões celestes, entoando,
com os anjos, hinos de
reconhecimento e de glória
ao Senhor.
Ditosos os que sofrem e
choram! Alegres estejam suas
almas, porque Deus as
cumulará de
bem-aventuranças. – Santo
Agostinho. (O Evangelho
segundo o Espiritismo, cap.
V, item 19.)
Na mensagem ora examinada o
autor lembra-nos
inicialmente a destinação da
Terra como um mundo de
provas e expiações, e não
como um lugar de gozo ou de
delícias, assunto a que ele
se referira anteriormente em
mensagem publicada no
capítulo III, itens 13, 14 e
15, da mesma obra.
Em um mundo de provas e
expiações, que é a atual
condição da Terra, não
reencarnam seres angelicais,
mas Espíritos endividados
perante a Lei e que, por
isso, estão sujeitos ao
processo depurador das
provas, das expiações e das
reparações, até que hajam
merecido ascender a um
planeta mais ditoso.
Na sequência, Santo
Agostinho mostra-nos que
nesse processo não existem
injustiça ou acaso e que os
males, as agruras e as
vicissitudes da vida, longe
de serem frutos de uma
casualidade, são simples
decorrência de escolhas que
nós próprios fizemos.
É importante, nesse sentido,
ressaltar este trecho da
mensagem:
“Como desencarnados, quando
pairáveis no Espaço,
escolhestes as vossas
provas, julgando-vos
bastante fortes para as
suportar. Por que agora
murmurar? Vós, que pedistes
a riqueza e a glória,
queríeis sustentar luta com
a tentação e vencê-la. Vós,
que pedistes para lutar de
corpo e espírito contra o
mal moral e físico, sabíeis
que quanto mais forte fosse
a prova, tanto mais gloriosa
a vitória e que, se
triunfásseis, embora devesse
o vosso corpo parar numa
estrumeira, dele, ao morrer,
se desprenderia uma alma de
rutilante alvura e
purificada pelo batismo da
expiação e do sofrimento”.
O autor enfatiza, por fim, a
importância da fé e da
resignação diante das
vicissitudes e dos desafios
que enfrentamos, para que
seus frutos sejam positivos
e não tenhamos de repetir
experiências que certamente
não nos agradariam.
Concluindo, podemos afirmar
que as considerações de
Santo Agostinho estão
perfeitamente afinadas com o
ensinamento contido na
questão 132 d´O Livro dos
Espíritos, em que os
instrutores espirituais,
esclarecendo a finalidade da
encarnação dos Espíritos,
disseram: “Deus lhes impõe
a encarnação com o fim de
fazê-los chegar à perfeição.
Para uns, é expiação; para
outros, missão. Mas, para
alcançarem essa perfeição,
têm que sofrer todas as
vicissitudes da existência
corporal: nisso é que está a
expiação.”
As ideias contidas na
mensagem ora focalizada
coadunam-se também com as
informações constantes do
cap. VII do livro O Céu e
o Inferno, a que nos
reportamos nesta mesma seção
na semana passada, que o
leitor poderá acessar
clicando neste link:
www.oconsolador.com
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