Positividade e
Espiritismo:
devassando os
liames
Os tempos
modernos são
marcados por
profundos
paradoxos.
Historiadores do
futuro devotados
ao estudo desta
época
provavelmente se
admirarão do
fato de termos
disposto de
tantos recursos
e ferramentas e
não termos
conseguido
alcançar um
estado geral de
bem-estar e
felicidade mais
celeremente.
Seja como for,
esse estado de
coisas retrata a
atualidade em
razão da
profusão de
emoções e
acontecimentos
negativos que
afetam
dramaticamente
as vidas
humanas.
Embora tenhamos
todas as
condições para
viver uma
existência
plena,
realizadora ou
pelo menos
satisfatória, os
fenômenos que
permeiam as
nossas vidas são
tão adversos e
intensos, que as
alegrias, de
modo geral, se
desvanecem
rapidamente.
Evidente que há
aí também
presentes
inquestionáveis
injunções
cármicas
individuais e
coletivas. Mesmo
assim, é notória
a percepção de
estados e
sentimentos
negativos
praticamente
onipresentes em
todas as esferas
da vida, embora
eles tendam,
muitas vezes, a
ser
superdimensionados.
Com efeito, o
negativo, o
lamentável, o
insatisfatório,
o inadequado, o
incompleto e o
inoperante, como
estâncias de
avaliação,
recebem
acentuada
preferência nos
dias atuais. Em
outras palavras,
para onde quer
que se olhe
emerge a
sensação de
incompletude ou
deficiência. Mas
como a nossa
condição
evolutiva não
nos permite –
pelo menos por
ora – desfrutar
de experiências
mais saudáveis,
sobra-nos o
impositivo de
avançar ainda
que sob o peso
das enormes
dificuldades e
dissabores
existenciais.
Nesse sentido, a
utilização dos
estados mentais
calcados na
positividade,
por exemplo, têm
sido advogados –
particularmente
pelos
pesquisadores
ligados à
psicologia
positiva – como
capazes de
acionar
indispensáveis
recursos
intrínsecos para
o enfrentamento
do quadro
delineado. Nesse
texto,
pretendemos
discorrer sobre
o tema buscando
descortinar as
suas
potencialidades.
Por que a
positividade
torna-se
indispensável?
Diante do
exposto,
parece-nos que o
cultivo de
emoções ou
percepções
negativas não
pode
absolutamente
ajudar os
indivíduos a
vislumbrar os
caminhos e as
saídas
apropriadas para
as situações
conflituosas
vivenciadas.
Elas fazem
parte, aliás, de
um contexto mais
amplo de
transição
planetária – e
as evidências
assim o
demonstram –
subordinado a
dinâmicas muito
específicas.
Cumpre ressaltar
que o pensamento
globalizante
interfere no
funcionamento
das nações,
sociedades e
instituições de
maneira
vigorosa.
A interligação
está presente em
tudo e o fluxo
de capitais,
informações e
recursos é
extremamente
ágil. Desse
modo, os efeitos
dos eventos e
ações são
rapidamente
percebidos,
embora com maior
ou menor
intensidade
dependendo dos
atores
envolvidos e dos
seus anteparos
tais como
solidez
econômico-financeira,
estruturas
regulatórias,
sistemas de
segurança,
eficiência
gerencial, entre
outras coisas.
Talvez nada
reflita melhor
essa
interligação do
que o popular
axioma: “quando
uma borboleta
bate as asas no
Amazonas, produz
uma onda no
Japão!”
Posto isto, a
própria
instabilidade
mundial, a
constância das
incertezas, a
complexidade dos
problemas, as
concepções e
criações
doentias são
geratrizes de
grande
perturbação e
intranquilidade
às pessoas. Por
conseguinte,
enxergar um
amanhã viável e
minimamente
satisfatório
torna-se um
desafio ingente
para a maior
parte das
pessoas. Segue
daí a
necessidade de
mudar os quadros
mentais, a
natureza dos
pensamentos e os
instrumentos de
enfrentamento à
realidade a fim
de não se
sucumbir ao peso
do exacerbado
negativismo
vigente. Em
outras palavras,
é preciso mudar
a nossa
disposição
interior e o
desenvolvimento
de positividade
pode ser
altamente
benéfico nessa
hora de
testemunhos.
Reforçando esse
entendimento, o
cientista social
Stephen Fineman1
sugere que a
positividade
assume a
premissa de que
os seres humanos
possuem o íntimo
desejo de se
autorrealizarem
de modo a
expressarem
plenamente as
suas
capacidades.
Positividade é
essencialmente
descrita como a
adoção de um
caminho otimista
para o alcance
de resultados
igualmente
otimistas. Para
Fineman ainda,
positividade
proporciona uma
visão atraente
do lado bom do
self e,
a partir disso,
inspira-o a
atingir fins
moralmente bem
definidos que
incorporem os
sentimentos e as
necessidades dos
outros.
A positividade é
particularmente
atrativa para as
pessoas
desencantadas
com o
avassalador
materialismo que
atinge as
economias mais
avançadas do
planeta, assim
como os locais
de trabalho onde
há falta de
compaixão e
sensibilidade.
Assim sendo, a
possibilidade de
mudança
inspirada pela
erupção do
potencial
positivo que se
já encontra
dentro de nós é
indicador de
futuro
promissor.2
Já a renomada
pesquisadora
internacional
Barbara L.
Fredrickson3
considera que a
noção de
positividade
chega a ser
pálida quando
contrastada com
a de
negatividade. No
entanto, ela
sustenta que a
positividade
alcança níveis
mais profundos
da personalidade
consistindo em
uma série de
emoções
positivas tais
como apreciação,
amor,
divertimento,
alegria,
esperança e
gratidão.
Positividade não
apenas altera os
conteúdos
mentais do
indivíduo
substituindo os
maus pensamentos
pelos bons, mas
também tem o
poder de mudar o
alcance e as
fronteiras da
mente.
Fredrickson
argumenta que
enquanto a
negatividade
pode elevar a
pressão
sanguínea, a
positividade
pode
normalizá-la
como um
mecanismo de
ajuste.4
Outros
benefícios são
divisados pela
autora tais como
a recuperação de
adversidades,
interação com os
outros, a
transmutação
para uma versão
melhor de nós
mesmos e a
obtenção de um
sono reparador.5
No geral, a
positividade
prevalece onde
as emoções
positivas tais
como amor,
alegria,
gratidão,
serenidade,
interesse e a
inspiração tocam
e sensibilizam o
coração. É
importante
salientar que a
positividade
também diminui,
pois, se assim
não fosse,
teríamos
dificuldades de
discernir as
boas notícias
das
desagradáveis ou
um convite de um
insulto.6
Independente
desse aspecto há
o entendimento
de que a
positividade nos
abre para
maiores
realizações do
coração e da
mente e nos
torna mais
receptivos e
criativos.
Enquanto a
negatividade e a
neutralidade
restringem a
nossa
experiência
corpórea, a
positividade
produz um efeito
contrário.7
De modo geral, a
positividade nos
transforma para
melhor.
Fredrickson
pondera que ao
abrirmos as
nossas mentes e
corações, as
emoções
positivas nos
proporcionam
descobrir e
desenvolver
novas
habilidades,
relacionamentos,
conhecimento e
novas formas de
ser.8
Acredita-se
também que a
positividade
ativa
completamente o
nosso senso de
humanidade,
conectando-nos
com o dos outros
e com os grandes
mistérios da
vida.9
Mais ainda,
positividade
pode ajudar o
indivíduo a
crescer
psicologicamente,
mentalmente,
socialmente e
fisicamente. É
óbvio que os
nossos hábitos
podem favorecer
a acumulação de
negatividade ou
de positividade.
No entanto, as
pessoas que
optam pela
segunda
alternativa se
tornam mais
otimistas,
resilientes,
abertas,
tolerantes e
voltadas para um
propósito.
Fundamentalmente,
uma pessoa
pautada pela
positividade nas
atitudes
energiza todos
aqueles ao seu
redor. Ao
compartilhar
nossa
positividade com
os outros – seja
por meio de uma
risada,
gentileza ou um
sincero sorriso
– se transmite
ao interlocutor
um pensamento
construtivo e
agregador.10
No
geral, o cultivo
da positividade
é altamente
benéfico para a
nossa saúde e
equilíbrio
interior.
Por fim, outros
autores admitem
que não obstante
o poder do
pensamento
positivo já ser
reconhecido por
muitos, ainda
não alcançou o
ponto onde nós
possamos
verdadeiramente
acreditar que
“nós criamos as
nossas próprias
realidades com
os nossos
pensamentos e
antecipatórias
imagens. Nós
podemos escolher
evoluir a nossa
consciência.
Isso é uma
profunda mudança
a de sermos
vítimas ou
recipientes
passivos das
forças externas
para termos
domínio sobre as
nossas vidas.
Pelo uso da
palavra
‘dominação’, nós
não queremos
dizer ‘exercer o
poder sobre os
outros’ ou
‘controlar os
outros’. É a
respeito de ter
responsabilidade
pelos nossos
pensamentos,
sabendo que os
nossos
pensamentos e
ações criam o
mundo que
escolhemos”.11
O
que o
Espiritismo
revela nessa
área
Convergindo com
as descobertas
da ciência nessa
área, o
Espiritismo, a
seu turno,
avança ainda
mais ao prever o
futuro radioso
do indivíduo,
independente das
mazelas e
adversidades que
momentaneamente
o subjugam. A
propósito,
lembra o
Espírito Joanna
de Ângelis que
“O Espiritismo
... doutrina
profundamente
positivista,
fundamentada nas
experiências
psicológicas e
transpessoais da
imortalidade do
ser, do seu
triunfo sobre a
morte, da
multiplicidade
das existências,
respondendo pelo
conhecimento
arquivado no
inconsciente
coletivo,
oferece as
certezas para o
avanço do ser
que se é, sem
dúvida o
verdadeiro
imago Dei,
no rumo de
Deus”.12
A questão do
pensamento –
particularmente
o seu foco – tem
sido amplamente
abordada pelos
mentores
espirituais. O
Espírito
Miramez, por
exemplo,
esclarece que “O
homem está em
sintonia com o
mundo de modo
coerente com a
qualidade do seu
pensamento”.13
Seguindo a mesma
linha de
raciocínio, o
Espírito Joanna
de Ângelis
enfatiza que
“... cada qual
vive no mundo
edificado pelo
seu pensamento”.14
O Espírito
Miramez
esclarece também
que pelo que
pensamos
atraímos
determinadas
companhias. O
mentor
espiritual ainda
pondera que a
qualidade de
tudo o que nos
absorve visual
ou
auditivamente,
bem como as
nossas
companhias e
vivências
determinarão a
nossa faixa de
sintonia.15
Nesse sentido,
acrescenta
sabiamente o
Espírito Joanna
de Ângelis que
“Quando a mente
está voltada
para os
significativos
labores de
elevação moral,
social,
espiritual,
artística ou de
qualquer outro
tipo, as
expressões do
sofrimento
perdem a
preponderância
na emoção e,
naturalmente,
deixam de
influenciar o
comportamento.
Dessa forma, a
melhor maneira
de superar o
sofrimento e
conquistar a
felicidade é
trabalhando-o,
aceitando-o,
ultrapassando-lhe
os limites e as
imposições. Em
assim
comportando-se,
o sofrimento se
transforma num
dínamo gerador
de energia que
se desenvolve e
produz recursos
para a
individuação”.16
Conclusão
Vê-se, portanto,
que a mudança de
atitude mental
do indivíduo é
indispensável
para o
afastamento dos
quadros
negativos, dos
empecilhos ou
dos aspectos
cerceadores que
lhe constrangem
a vida e
visualizar
saídas
benéficas.
Concluindo os
seus argumentos,
Joanna de
Ângelis ensina
que “Tudo,
portanto,
encontra-se
dentro da pauta
do querer
corretamente (e
a polaridade
positiva do
pensamento é
vital nesse
particular,
acrescentamos),
a fim de
conseguir-se
retamente.
Pensando-se com
equidade e
justiça,
agindo-se com
bondade e
compaixão,
vivendo-se com
esperança e
alegria, a
iluminação dá-se
natural,
ampliando a
capacidade no
Self para
gerar o estado
numinoso
permanente”.17
Por último, cabe
acrescentar que
a positividade –
apêndice salutar
da psicologia
positiva – e o
Espiritismo têm
muitas
similitudes
propositivas que
podem equipar as
criaturas
humanas ao
enfrentamento
saudável da vida
e as suas
nuances.
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counterpoints.
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inquiry:
Inquiring new
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BIBERMAN, J.;
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13.
ANTUNES, S.
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2ª edição.
Belo Horizonte:
Fonte Viva,
2005, p. 39.
14.
FRANCO, D.P.
(Pelo Espírito
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Atitudes
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Salvador:
Livraria
Espírita
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15.
ANTUNES, S.
(Pelo Espírito
Miramez). A
força do
pensamento.
2ª edição.
Belo Horizonte:
Fonte Viva,
2005, p. 39.
16.
FRANCO, D.P.
(Pelo Espírito
Joanna de
Ângelis). Em
busca da verdade.
Salvador:
Livraria
Espírita
Alvorada
Editora, 2009,
p. 234.
17.
______.______.
p. 235.