Egoísmo e
sociedade
O quadro geral
predominante no
Brasil na
atualidade
apresenta não
apenas – como se
isso fosse pouco
– a desagradável
experiência de
se viver sob
intensa
incerteza
decorrente de
atores
institucionais
pusilânimes,
despreparados e
negligentes.
Embora tenhamos
adentrado em um
novo milênio
cheio de
esperanças e
expectativas
positivas, ainda
não conseguimos
- consequência
natural de uma
retórica oficial
oca e desfocada
da realidade -
sequer
estabelecer,
como nação, um
rumo seguro,
concreto e
promissor. Não é
por outra razão
que uma miríade
de desajustes e
desacertos é
ainda claramente
observável em
vários setores
da sociedade,
particularmente
na administração
pública do país.
Mas não é só
isso, pois
outros males não
são exprobrados
com a devida
veemência. O
retorno da
inflação a
patamares
incivilizados –
algo que os mais
velhos
enfrentaram
estoicamente em
outros tempos –
é algo que
demanda outras
considerações
referentes aos
valores
cultuados nesta
terra. Para
ilustrar o
raciocínio
descreverei
brevemente uma
situação
vivenciada por
um parente desse
escriba. A
personagem em
questão foi
encomendar
recentemente,
como o faz de
tempos em
tempos, um
remédio
manipulado numa
farmácia
concorrida no
bairro onde
reside.
Ao apresentar a
receita à
balconista ouviu
o valor total de
R$124,00 já com
o desconto, pois
o preço original
era de R$133,00.
Inconformada com
o alto valor
solicitou um
novo desconto e
recebeu uma
redução para
R$108,00. Afinal
de contas,
sessenta dias
antes havia
comprado o mesmo
remédio naquele
estabelecimento
no qual é
cliente habitual
por R$94,00
(tinha, aliás, a
nota fiscal em
seu poder para
comprovar).
Diante da prova
insofismável, a
balconista
aceitou a
encomenda do
produto
acrescida de um
pequeno aumento
totalizando R$
98,00. Moral da
história: somos
literalmente
roubados por
todos os lados,
não apenas por
meliantes
contumazes que
vivem disso.
As nossas
instituições
também foram
inoculadas por
esse vírus
altamente
pernicioso,
letal, por
sinal, à
construção de
sociedades
equilibradas
econômica e
moralmente. De
modo
generalizado, as
organizações têm
manipulado
vergonhosamente
nas últimas duas
décadas os
preços e os
volumes dos
produtos e
serviços em
flagrante
prejuízo dos
consumidores
desse país.
Contudo,
diferentemente
do passado
recente no qual
havia o
“anestésico” da
correção
monetária, o
presente tem
sido mais
perverso já que
inexistem
contrapartidas
de espécie
alguma.
Assim sendo,
caminhamos sob
uma paisagem
impregnada de
egoísmo e
insensibilidade
na qual os mais
ricos tornam-se
cada vez mais
ricos. A
propósito,
previsões
recentemente
publicadas
alertam para o
fato de que já
em 2016 o grupo
composto por 1%
mais ricos do
planeta vai
superar a
riqueza total
dos 99% mais
pobres. A mesma
fonte lembra
que, já em 2014,
enquanto o grupo
de 1% mantinha
48% de toda a
riqueza, o dos
99% mais pobres
detinha 52%.
Contudo, desde
2010 esses
números seguem
tendências
inversas, que
favorecem a
concentração.
Especialistas no
tema têm
declarado que "A
amplitude das
desigualdades
mundiais é
vertiginosa". No
caso brasileiro,
é notório que a
economia
cambaleante e os
preços inflados
favorecem os
mais ricos que
tiram amplo mais
proveito da
situação, aliás,
como sempre o
fizeram. Os
descalabros
nessa área
remetem, por
outro lado, aos
judiciosos
comentários de
Allan Kardec
sobre o egoísmo,
conforme estão
exarados na obra
O Livro dos
Espíritos,
questão nº 917,
e que merecem a
nossa reflexão.
Ou seja, o
Codificador da
Doutrina
Espírita
observou que
“Louváveis
esforços
indubitavelmente
se empregam para
fazer que a
humanidade
progrida. [...].
Entretanto, o
egoísmo,
verme roedor,
continua a ser a
chaga social.
É um mal real,
que se alastra
por todo o mundo
e do qual cada
homem é mais ou
menos vítima.
Cumpre, pois,
combatê-lo, como
se combate uma
enfermidade
endêmica
[...]” (ênfase
nossa).
Como se lê, o
problema é
antigo e, como
tal, continua
ainda a exigir
intensa atenção
e combate. Os
números acima
mencionados
sobre
concentração de
riqueza não
deixam qualquer
dúvida a
respeito. Mas
Kardec avançou a
sua análise
enfocando as
causas: “[...]
Procurem-se em
todas as partes
do organismo
social, da
família aos
povos, da
choupana ao
palácio, todas
as causas, todas
as influências
que, ostensiva
ou ocultamente,
excitam,
alimentam e
desenvolvem o
sentimento do
egoísmo. [...]”.
Não bastasse
isso, ele também
apontou
soluções: “[...]
Poderá ser longa
a cura, porque
numerosas são as
causas, mas não
é impossível.
Contudo, ela só
se obterá se o
mal for atacado
em sua raiz,
isto é, pela
educação, não
por essa
educação que
tende a fazer
homens
instruídos, mas
pela que tende a
fazer homens de
bem. A educação,
convenientemente
entendida,
constitui a
chave do
progresso moral
[...]”
(ênfase nossa).
Para arrematar,
Kardec vaticinou
que “O egoísmo é
a fonte de todos
os vícios, como
a caridade o é
de todas as
virtudes.
Destruir um e
desenvolver a
outra, tal deve
ser o alvo de
todos os
esforços do
homem, se quiser
assegurar a sua
felicidade neste
mundo, tanto
quanto no
futuro”.
Portanto, eis o
desafio que nos
compete superar
para que essa
doença, que
infelicita a
tantos, seja
banida desse
mundo.