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Crônicas e Artigos

Ano 9 - N° 432 - 20 de Setembro de 2015

RICARDO ORESTES FORNI
iost@terra.com.br
Tupã, SP (Brasil)

 



Sem reencarnação,
estamos sem Deus!


Conta-se que Charles Darwin, o primeiro a publicar a teoria evolucionista dos seres contrapondo-se ao criacionismo que acreditava que tudo já tinha sido criado como estava e devia, não acreditava em Deus pelo fato que passo a narrar. O estudioso identificou uma vespa que perseguia implacavelmente uma espécie de aranha, ferroava-a paralisando a sua inimiga e nela depositando seus ovos cujas larvas, após eclodirem, alimentavam-se do corpo do animal paralisado, mas não morto, sentindo esse último as dores de ser devorado vivo. Se não tivesse os conhecimentos que a Doutrina Espírita proporciona a quem deseja estudá-la, também acompanharia o cientista em sua descrença sobre Deus.

Cito esse fato para fazer uma introdução à análise dos acontecimentos lamentáveis registrados quando da fuga de pessoas de seu país de origem, onde uma das consequências foi a imagem documentada que chocou o mundo de uma pequena criança morta e virada de bruços em uma praia que o transitório ser humano julga ser de sua posse, não atentando para a brevidade da vida física que a ninguém permite levar o que realmente não está insculpido em seu espírito, quer seja de bom ou de ruim. Um incorruptível fiscal, localizado à beira de todos os túmulos que já existiram, existem ou venham a existir, por mais suntuosos que eles sejam ou mais ignorados possam ter sido ou são, não permite absolutamente a ninguém levar um único grão de dividendo material que tenha possuído.

Contemplando a cena exibida ao mundo através dos vários recursos atuais de comunicação à disposição do ser humano, renovei a minha convicção de que, sem a reencarnação, Deus não existe. Presenciei também cenas chocantes de policiais agredindo senhoras com crianças de meses ao colo, procurando expulsá-las de determinados locais, sem a mínina consideração para com a fragilidade dos pequeninos que mais pareciam folhas soltas ao sabor do vento da violência que o ser humano ainda é capaz de ter em seu interior tão vazio daquele amor que orienta o amor ao próximo como a nós mesmos. E mais uma vez pensei: sem a reencarnação, Deus não existe. Não que tenha procurado associar tais cenas a vínculos do passado dessas criaturas como, infelizmente, em minha opinião, se faz com frequência no meio espírita. Por exemplo: os jovens mortos em uma boate no Rio Grande do Sul foram associados a antigos nazistas que assassinavam judeus nas câmaras de gás pelo fato de muitos daqueles moços desencarnarem vitimados pelos gases tóxicos liberados durante o incêndio. Ora, se não temos condições para compreender o que é Deus (veja bem: que é e não quem é), como nos lançamos à procura das causas das tragédias alheias? Que sabemos nós sobre o Criador? Quem consegue compreender em toda a sua extensão e profundidade o que é Deus, senão os Espíritos que já atingiram a perfeição? Como, então, pronunciar sentenças sobre as tragédias que ocorrem sob a vigilância perfeita das Leis do Universo?

Mas retornando à cena da criança morta na praia enquanto os pais procuravam lugares mais seguros para sobreviver, fiquei meditando na teoria absurda daqueles que creem que a alma (conceito de outras religiões) tenha sido criada no instante do nascimento! Então Deus, em toda a sua onisciência, mesmo sabendo o destino daquela alma criada naquele momento único, teria consumado a sua obra para que um ser inocente e indefeso morresse brutalmente numa praia e naquelas condições?! Absolutamente não! Sem a reencarnação, Deus não existe.

Na Revista Espírita do ano de 1867, mês de setembro, página 373, assim se pronuncia Kardec sobre a reencarnação: Com a reencarnação, desaparecem os preconceitos de raças e de castas, pois o mesmo Espírito pode tornar a nascer rico ou pobre, capitalista ou proletário, chefe ou subordinado, livre ou escravo, homem ou mulher. De todos os argumentos invocados contra a injustiça de servidão e da escravidão, contra a sujeição da mulher à lei do mais forte, nenhum há que prime, em lógica, ao fato material da reencarnação. Se, pois, a reencarnação funda numa lei da Natureza o princípio da fraternidade universal, também funda na mesma lei o da igualdade dos direitos sociais e, por conseguinte, o da liberdade.

Aí, sim, consigo continuar pelos milênios afora minha busca para compreender plenamente um dia o que é Deus! Se alguém provar, o que duvido sempre, que a palingenesia é uma mentira, terá condenado Deus à morte. Terei o direito de juntar-me a Charles Darwin, à sua vespa e à sua aranha.

Ou a reencarnação é um fato imutável ou a vida é uma obra de um acaso que debocha da vida e dos próprios viventes.

Só existe uma possibilidade da reencarnação ser um erro: se a aranha de Charles Darwin vier a voar e a vespa do cientista a rastejar em solo sendo caçada, picada, paralisada e devorada pelas crias do aracnídeo.


 

 


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