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Crônicas e Artigos

Ano 9 - N° 433 - 27 de Setembro de 2015

ROGÉRIO COELHO
rcoelho47@yahoo.com.br
Muriaé, MG (Brasil)

 

 

O vértice mais importante
do Espiritismo

Sintetizando o fruto das civilizações, a humanidade
é construção religiosa

“Em seu ambiente natural, a história do Evangelho é todo um poema de luz, de amor, de encantamento e de alegria.” -      Emmanuel

 
O célebre escritor inglês Sir Arthur Conan Doyle, criador do personagem Sherlock Holmes, afirma[1] que o não menos célebre e eminente naturalista Dr. Alfred Russel Wallace “(...) foi um dos poucos homens cuja mentalidade grandiosa, avassaladora e sem preconceitos, viu e aceitou a questão da comunicabilidade dos Espíritos e da imortalidade da Alma com os corolários daí decorrentes, em sua maravilhosa inteireza, desde as humildes provas físicas de uma força exterior até ao mais alto ensino mental que essa força podia trazer, ensino que ultrapassa de muito em beleza e credibilidade tudo quanto a mente moderna tem conhecido.

A aceitação pública e o decidido apoio desse grande homem de ciência, um dos primeiros cérebros do seu tempo, foram de grande importância, desde que ele teve o espírito para compreender a completa revolução religiosa que estava por detrás dos fenômenos paranormais. Foi um fato curioso, que salvo algumas exceções, em nossos dias, como no passado, a sabedoria tenha sido dada aos humildes e negada aos doutos. Sentimento e intuição triunfaram onde falhou o cérebro”.

Utilizando a técnica da maiêutica socrática, Doyle conduz o raciocínio lógico na seguinte direção: “estabelecemos contato com a inteligência dos que morreram? – ‘Sim’. Deram informações sobre a nova vida que levam e como esta foi afetada por sua vida terrena? – ‘Sim’. Acharam que corresponde à descrição feita por todas as religiões da Terra? – ‘Não’. Mas, se é assim, não está claro que a nova informação é de vital importância religiosa? O humilde espiritista vê isto e adapta a sua religiosidade aos fatos”.

Poderíamos ainda, socraticamente, continuar pelos caminhos da maiêutica, da seguinte maneira:

A quem compete o estudo das assertivas de Jesus? Evidentemente às religiões. Ora, se, segundo afirmam[2] os Espíritos Superiores, Jesus é o Modelo e Guia mais perfeito que o Pai Celestial oferece à humanidade para servir-lhe de condutor, não fica difícil concluir que o Espiritismo, além dos segmentos filosóficos e científicos, necessariamente terá um segmento religioso, onde possam os seus profitentes  se aprofundar nos meandros de seus sublimes ensinamentos.

O Espiritismo, em sua primordial função de revivescer os áureos tempos apostólicos, trazendo-nos “in natura” e escoimada de jaças a alcandorada Doutrina do Pai Celestial da qual Jesus foi o Vexilário Maior e Singular, não poderia (sob pena de fracassar em sua missão) negligenciar o aspecto religioso de que está investido...

Parafraseando o Apóstolo dos Gentios, podemos com Hermínio C. Miranda afirmar sem rebuços: “Sobressaem-se três vértices principais na novel Doutrina dos Espíritos: científico, filosófico e religioso, mas entre os três o mais importante é o vértice religioso.

Sem a dinamização oferecida por este último segmento, em pouco tempo a Doutrina Espírita estaria estiolada na atmosfera glacial dos laboratórios...

Com incrível lucidez e discernimento, Doyle argumenta: “o simples ato da comunicabilidade dos Espíritos, na sua solenidade, desperta o lado religioso das criaturas”.

Ajuntemos às nossas ilações, o sempre lúcido raciocínio de Emmanuel[3]: “(...) os espiritistas sinceros devem compreender que os fenômenos acordam a Alma, como o choque de energias externas que faz despertar uma pessoa adormecida; mas somente o esforço opera a edificação moral, legítima e definitiva.

É uma extravagância de consequências desagradáveis, atirar-se alguém à propaganda de uma ideia sem haver fortalecido a si mesmo na seiva de seus princípios enobrecedores. O Espiritismo não constitui uma escola de leviandade. Identificado com a sua essência consoladora e divina, o homem não pode acovardar-se ante a intensidade das provações e das experiências. Grande erro praticariam as Entidades espirituais elevadas, se prometessem aos seus amigos do mundo uma vida fácil e sem cuidados, solucionando-lhes todos os problemas e entregando-lhes a chave de todos os estudos.

É egoísmo e insensatez provocar o plano invisível com os pequeninos caprichos pessoais. Cada estudioso desenvolva a sua capacidade de trabalho e iluminação e não guarde para outrem o que lhe compete fazer em seu próprio benefício.

O Espiritismo sem Evangelho pode alcançar as melhores expressões de nobreza, mas não passará de atividade destinada a modificar-se ou desaparecer, como todos os elementos transitórios do mundo. E o espírita, que não cogitou da sua iluminação com Jesus, pode ser um cientista e um filósofo, com as mais elevadas aquisições intelectuais, mas estará sem leme e sem roteiro no instante da tempestade inevitável da provação e da experiência, porque só o sentimento divino da fé pode arrebatar o homem das preocupações inferiores da Terra para os caminhos supremos dos páramos espirituais.

(...) É certo que o planeta já possui as suas expressões isoladas de legítimo evangelismo, raras na verdade, mas consoladoras e luminosas... Essas expressões, porém, são obrigadas às mais altas realizações de renúncia em face da ignorância e da iniquidade do mundo. Esses apóstolos desconhecidos são aquele ‘sal da Terra’ e o seu esforço divino será respeitado pelas gerações vindouras, como os símbolos vivos da iluminação espiritual com Jesus, bem-aventurados de Seu Reino, no qual souberam perseverar até o fim.

(...) Urge, contudo, que os espiritistas sinceros, esclarecidos no Evangelho, procurem compreender a feição educativa dos postulados doutrinários, reconhecendo que o trabalho imediato dos tempos modernos é o da iluminação interior do homem, melhorando-se-lhe os valores do coração e da consciência.

Dentro desses imperativos, é lícito encarecermos a excelência dos planos educativos da evangelização, de modo a formar uma mentalidade espírita-cristã, com vistas ao porvir.

Não podemos desprezar a caridade material que faz do Espiritismo evangélico um pouso de consolação para todos os infortunados; mas não podemos esquecer que as expressões religiosas sectárias também organizaram as edificações materiais para a caridade no mundo, sem olvidar os templos, asilos, orfanatos e monumentos. Todavia, quase todas as suas obras se desvirtuaram, em vista do esquecimento da iluminação dos Espíritos encarnados.

A Igreja Romana é um exemplo típico: senhora de uma fortuna considerável e havendo construído numerosas obras tangíveis, de assistência social, sente hoje que as suas edificações são apenas de pedra, porquanto, em seus estabelecimentos suntuosos, o homem contemporâneo experimenta os mais dolorosos desenganos.

As obras de caridade material somente alcançam a sua feição divina quando colimam a espiritualização do homem, renovando-lhe os valores íntimos, porque, reformada a criatura humana em Jesus Cristo, teremos na Terra uma sociedade transformada, onde o lar genuinamente cristão será naturalmente o asilo de todos os que sofrem.

Depreende-se, pois, que o serviço de cristianização sincera das consciências constitui a edificação definitiva, para a qual os espiritistas devem voltar os olhos, antes de tudo, entendendo a vastidão e a complexidade da obra educativa que lhes compete efetuar, junto de qualquer realização humana, nas lutas de cada dia, na tarefa do amor e da verdade.

(...) Fácil concluir que sendo a religião o sentimento divino, cujas exteriorizações são sempre o amor, nas expressões mais sublimes, ela tem a função de edificar e iluminar os sentimentos, enquanto a Ciência e a Filosofia operam o trabalho da experimentação e do raciocínio.

A Ciência e a Filosofia se irmanam na sabedoria, a religião personifica o Amor, as duas asas divinas com que a Alma humana penetrará, um dia, nos pórticos sagrados da Espiritualidade”.

É ainda Emmanuel2, através da abendiçoada mediunidade de Francisco Cândido Xavier quem nos enviou esta esclarecedora página intitulada:

RELIGIÃO

“A Ciência multiplica as possibilidades dos sentidos e a filosofia aumenta os recursos do raciocínio, mas a religião é a força que alarga os potenciais do sentimento.

Por isso mesmo, no coração mora o centro da vida. Dele partem as correntes imperceptíveis do desejo que se consubstanciam em pensamento no dínamo cerebral, para depois se materializarem nas palavras, nas resoluções, nos atos e nas obras de cada dia.

Na luta vulgar, há quem menospreze a atividade religiosa, supondo-a mero artifício do sacerdócio ou da política, entretanto, é na predicação da fé santificante que encontraremos as regras de conduta e perfeição de que necessitamos para o crescimento de nossa vida mental na direção das conquistas divinas.

A Humanidade, sintetizando o fruto das civilizações, é construção religiosa.

Desde os nossos antepassados invertebrados e vertebrados caminhamos nos milênios, de reencarnação em reencarnação, adquirindo inteligência, por intermédio da experimentação incessante, mas não é somente a razão o fruto do nosso aprendizado, no decurso dos séculos, mas também o discernimento ou luz espiritual, com que pouco a pouco aperfeiçoamos a mente.

A religião é a força que está edificando a Humanidade.  É a fábrica invisível do caráter e do sentimento.

Milhões de criaturas encarnadas guardam, ainda, avançados patrimônios de animalidade. Valem-se da forma humana, como quem se aproveita de uma casa nobre para a incorporação de valores educativos. Possuem coração para registrar o bem, contudo, abrigam impulsos de crueldade. O instinto da pantera, a peçonha da serpente, a voracidade do lobo, ainda imperam no psiquismo de inumeráveis inteligências...

Só a religião consegue apagar as mais recônditas arestas do ser, determinando nos centros profundos de elaboração do pensamento a alteração gradativa das características da Alma, elevando-lhe o padrão vibratório, através da melhoria crescente de suas relações com o mundo e com os semelhantes.

Nascida no berço rústico do temor, a fé iniciou o seu apostolado, ensinando às tribos primárias que o Divino Poder guarda as rédeas da suprema justiça, infundindo respeito à vida e aprimorando o intercâmbio das almas.  Dela procedem os mananciais da fraternidade realmente sentida, e, embora as formas inferiores da religião, na antiguidade muita vez incentivando a perseguição e a morte, em sacrifícios e flagelações deploráveis, e apesar das lutas de separação e incompreensão que dividem os templos, nos dias da atualidade, arregimentando-os para o dissídio em variadas fronteiras dogmáticas, ainda é a religião a escola soberana de formação moral do povo, dotando o espírito de poderes e luzes para a viagem da sublimação.

A Ciência construirá para o homem o clima do conforto e enriquecê-lo-á com os brasões da cultura superior; a filosofia auxiliá-lo-á com valiosas interpretações dos fenômenos em que a Eterna Sabedoria se manifesta, mas somente a fé, com os seus estatutos de perfeição íntima, consegue preparar nosso espírito imperecível para a ascensão à glória universal”.

Provavelmente, por não desconhecer estas questões é que Casimiro Cunha – poeticamente – escreveu: “Religião é caminho/De Sublime comunhão/ Que o Céu abre, a cada dia/À marcha do coração”.

 

[1] - DOYLE, Arthur Conan. História do Espirtismo. S.Paulo: Editora Pensamento.

[2] - KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 88. ed. Rio [de Janeiro]: FEB, 2006, q. 625.

[3] - XAVIER, F. Cândido. O Consolador. 23. .ed. Rio [de Janeiro]: 2001, questões: 236, 238, 255 e 260

 

 


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