O vértice mais importante
do Espiritismo
Sintetizando o fruto das civilizações, a humanidade
é construção religiosa
“Em seu ambiente natural, a história do Evangelho é todo um poema de luz, de amor, de encantamento e de alegria.” - Emmanuel
O Espiritismo, em sua primordial função de revivescer os áureos tempos apostólicos, trazendo-nos “in natura” e escoimada de jaças a alcandorada Doutrina do Pai Celestial da qual Jesus foi o Vexilário Maior e Singular, não poderia (sob pena de fracassar em sua missão) negligenciar o aspecto religioso de que está investido...
Parafraseando o Apóstolo dos Gentios, podemos com Hermínio C. Miranda afirmar sem rebuços: “Sobressaem-se três vértices principais na novel Doutrina dos Espíritos: científico, filosófico e religioso, mas entre os três o mais importante é o vértice religioso.
Sem a dinamização oferecida por este último segmento, em pouco tempo a Doutrina Espírita estaria estiolada na atmosfera glacial dos laboratórios...
Com incrível lucidez e discernimento, Doyle argumenta: “o simples ato da comunicabilidade dos Espíritos, na sua solenidade, desperta o lado religioso das criaturas”.
Ajuntemos às nossas ilações, o sempre lúcido raciocínio de Emmanuel: “(...) os espiritistas sinceros devem compreender que os fenômenos acordam a Alma, como o choque de energias externas que faz despertar uma pessoa adormecida; mas somente o esforço opera a edificação moral, legítima e definitiva.
É uma extravagância de consequências desagradáveis, atirar-se alguém à propaganda de uma ideia sem haver fortalecido a si mesmo na seiva de seus princípios enobrecedores. O Espiritismo não constitui uma escola de leviandade. Identificado com a sua essência consoladora e divina, o homem não pode acovardar-se ante a intensidade das provações e das experiências. Grande erro praticariam as Entidades espirituais elevadas, se prometessem aos seus amigos do mundo uma vida fácil e sem cuidados, solucionando-lhes todos os problemas e entregando-lhes a chave de todos os estudos.
É egoísmo e insensatez provocar o plano invisível com os pequeninos caprichos pessoais. Cada estudioso desenvolva a sua capacidade de trabalho e iluminação e não guarde para outrem o que lhe compete fazer em seu próprio benefício.
O Espiritismo sem Evangelho pode alcançar as melhores expressões de nobreza, mas não passará de atividade destinada a modificar-se ou desaparecer, como todos os elementos transitórios do mundo. E o espírita, que não cogitou da sua iluminação com Jesus, pode ser um cientista e um filósofo, com as mais elevadas aquisições intelectuais, mas estará sem leme e sem roteiro no instante da tempestade inevitável da provação e da experiência, porque só o sentimento divino da fé pode arrebatar o homem das preocupações inferiores da Terra para os caminhos supremos dos páramos espirituais.
(...) É certo que o planeta já possui as suas expressões isoladas de legítimo evangelismo, raras na verdade, mas consoladoras e luminosas... Essas expressões, porém, são obrigadas às mais altas realizações de renúncia em face da ignorância e da iniquidade do mundo. Esses apóstolos desconhecidos são aquele ‘sal da Terra’ e o seu esforço divino será respeitado pelas gerações vindouras, como os símbolos vivos da iluminação espiritual com Jesus, bem-aventurados de Seu Reino, no qual souberam perseverar até o fim.
(...) Urge, contudo, que os espiritistas sinceros, esclarecidos no Evangelho, procurem compreender a feição educativa dos postulados doutrinários, reconhecendo que o trabalho imediato dos tempos modernos é o da iluminação interior do homem, melhorando-se-lhe os valores do coração e da consciência.
Dentro desses imperativos, é lícito encarecermos a excelência dos planos educativos da evangelização, de modo a formar uma mentalidade espírita-cristã, com vistas ao porvir.
Não podemos desprezar a caridade material que faz do Espiritismo evangélico um pouso de consolação para todos os infortunados; mas não podemos esquecer que as expressões religiosas sectárias também organizaram as edificações materiais para a caridade no mundo, sem olvidar os templos, asilos, orfanatos e monumentos. Todavia, quase todas as suas obras se desvirtuaram, em vista do esquecimento da iluminação dos Espíritos encarnados.
A Igreja Romana é um exemplo típico: senhora de uma fortuna considerável e havendo construído numerosas obras tangíveis, de assistência social, sente hoje que as suas edificações são apenas de pedra, porquanto, em seus estabelecimentos suntuosos, o homem contemporâneo experimenta os mais dolorosos desenganos.
As obras de caridade material somente alcançam a sua feição divina quando colimam a espiritualização do homem, renovando-lhe os valores íntimos, porque, reformada a criatura humana em Jesus Cristo, teremos na Terra uma sociedade transformada, onde o lar genuinamente cristão será naturalmente o asilo de todos os que sofrem.
Depreende-se, pois, que o serviço de cristianização sincera das consciências constitui a edificação definitiva, para a qual os espiritistas devem voltar os olhos, antes de tudo, entendendo a vastidão e a complexidade da obra educativa que lhes compete efetuar, junto de qualquer realização humana, nas lutas de cada dia, na tarefa do amor e da verdade.
(...) Fácil concluir que sendo a religião o sentimento divino, cujas exteriorizações são sempre o amor, nas expressões mais sublimes, ela tem a função de edificar e iluminar os sentimentos, enquanto a Ciência e a Filosofia operam o trabalho da experimentação e do raciocínio.
A Ciência e a Filosofia se irmanam na sabedoria, a religião personifica o Amor, as duas asas divinas com que a Alma humana penetrará, um dia, nos pórticos sagrados da Espiritualidade”.
É ainda Emmanuel2, através da abendiçoada mediunidade de Francisco Cândido Xavier quem nos enviou esta esclarecedora página intitulada:
RELIGIÃO
“A Ciência multiplica as possibilidades dos sentidos e a filosofia aumenta os recursos do raciocínio, mas a religião é a força que alarga os potenciais do sentimento.
Por isso mesmo, no coração mora o centro da vida. Dele partem as correntes imperceptíveis do desejo que se consubstanciam em pensamento no dínamo cerebral, para depois se materializarem nas palavras, nas resoluções, nos atos e nas obras de cada dia.
Na luta vulgar, há quem menospreze a atividade religiosa, supondo-a mero artifício do sacerdócio ou da política, entretanto, é na predicação da fé santificante que encontraremos as regras de conduta e perfeição de que necessitamos para o crescimento de nossa vida mental na direção das conquistas divinas.
A Humanidade, sintetizando o fruto das civilizações, é construção religiosa.
Desde os nossos antepassados invertebrados e vertebrados caminhamos nos milênios, de reencarnação em reencarnação, adquirindo inteligência, por intermédio da experimentação incessante, mas não é somente a razão o fruto do nosso aprendizado, no decurso dos séculos, mas também o discernimento ou luz espiritual, com que pouco a pouco aperfeiçoamos a mente.
A religião é a força que está edificando a Humanidade. É a fábrica invisível do caráter e do sentimento.
Milhões de criaturas encarnadas guardam, ainda, avançados patrimônios de animalidade. Valem-se da forma humana, como quem se aproveita de uma casa nobre para a incorporação de valores educativos. Possuem coração para registrar o bem, contudo, abrigam impulsos de crueldade. O instinto da pantera, a peçonha da serpente, a voracidade do lobo, ainda imperam no psiquismo de inumeráveis inteligências...
Só a religião consegue apagar as mais recônditas arestas do ser, determinando nos centros profundos de elaboração do pensamento a alteração gradativa das características da Alma, elevando-lhe o padrão vibratório, através da melhoria crescente de suas relações com o mundo e com os semelhantes.
Nascida no berço rústico do temor, a fé iniciou o seu apostolado, ensinando às tribos primárias que o Divino Poder guarda as rédeas da suprema justiça, infundindo respeito à vida e aprimorando o intercâmbio das almas. Dela procedem os mananciais da fraternidade realmente sentida, e, embora as formas inferiores da religião, na antiguidade muita vez incentivando a perseguição e a morte, em sacrifícios e flagelações deploráveis, e apesar das lutas de separação e incompreensão que dividem os templos, nos dias da atualidade, arregimentando-os para o dissídio em variadas fronteiras dogmáticas, ainda é a religião a escola soberana de formação moral do povo, dotando o espírito de poderes e luzes para a viagem da sublimação.
A Ciência construirá para o homem o clima do conforto e enriquecê-lo-á com os brasões da cultura superior; a filosofia auxiliá-lo-á com valiosas interpretações dos fenômenos em que a Eterna Sabedoria se manifesta, mas somente a fé, com os seus estatutos de perfeição íntima, consegue preparar nosso espírito imperecível para a ascensão à glória universal”.
Provavelmente, por não desconhecer estas questões é que Casimiro Cunha – poeticamente – escreveu: “Religião é caminho/De Sublime comunhão/ Que o Céu abre, a cada dia/À marcha do coração”.
- KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 88. ed. Rio [de Janeiro]: FEB, 2006, q. 625.