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Crônicas e Artigos

Ano 9 - N° 434 - 4 de Outubro de 2015

RICARDO DI BERNARDI  
rhdb11@gmail.com
Florianópolis, SC (Brasil)   

 



Brasil: o futuro só
a nós pertence?


A
o divisarmos, em horizonte próximo, o alvorecer do terceiro milênio, temos consciência de que estamos nos despedindo da noite escura do religiosismo cego e dogmático. De fato, ansiamos por contemplar, sob a luz de um sol amoroso e racional, o céu azul do bom senso livre das obscuras nuvens do fanatismo. Enfim, se avizinha o milênio no qual não mais erigiremos totens aos deuses ou Espíritos, mas sentiremos o “Deus em nós”, como disse o grande mestre Jesus. A grande procura da Verdade Externa será substituída pela percepção da Luz que pulsa no inconsciente puro de todos nós.
 

A visão estreita do criacionismo cederá à compreensão do evolucionismo espiritualista ou um neoevolucionismo. O destino e a responsabilidade dos seres deixarão de ser atribuídos a Deus, para serem assumidos pelos próprios indivíduos. 

A concepção medieval do religiosismo institucionalizado, que grassa qual erva daninha nos canteiros da nossa morada planetária, cederá lugar à religiosidade sem cultos externos, mas expressa no amor universal. 

Na história de nosso planeta, muitos emissários do Alto renasceram em períodos críticos, ou momentos especialmente favoráveis, com o fito de impulsionar a evolução de nosso orbe. Comunidades inteiras também foram deslocadas para o nosso globo, vindas de outros astros e até de outras constelações, procurando acelerar o processo evolutivo terráqueo. Vieram conviver conosco, contribuindo para que pudéssemos galgar novos degraus na escada do progresso. 

Seres de luz ou, como preferimos designar, amigos sábios e bondosos, tais como Emmanuel, assim se referem à civilização egípcia primitiva e à judaica, bem como aos arianos e hindus de épocas remotas. 

Os povos citados, apesar de estarem aqui renascendo como degredados planetários, ou “expulsos de um paraíso”, cumpriram, em nosso meio, aspectos missionários tais como o de sacudir os terráqueos da sonolenta caminhada na estrada do progresso. 

Sob a orientação sábia e amorosa do Cristo, Entidade responsável por nosso planeta (segundo Emmanuel), continuaram a aportar na Terra, periodicamente ao longo  da história, grupos de Espíritos que se localizaram em determinadas regiões (ou países), formando bases sólidas em terrenos propícios para edificar a construção de sociedades mais justas e sábias no contexto de nossa humanidade terrestre. 

O projeto “celestial” do crescimento rumo à sabedoria e à felicidade é amplo - visa a atingir todas as criaturas. Não há “povo eleito” (ou nação privilegiada); todos que assim se consideraram ruíram fragorosa e vergonhosamente. O grande mestre, quando aqui esteve vestindo a roupa física do filho de José e Maria, já nos dizia: “Nenhuma das ovelhas se perderá”. 

Cidades populosas do globo receberam, então, pelas vias da reencarnação, inúmeros homens cultos e generosos. Filósofos, artistas e outros iluminados procuraram despertar a sensibilidade humana em todos os recantos de nossa morada terrestre. 

Brilhantes mestres do cérebro e do coração criaram, assim, diversas escolas na Grécia antiga, assumindo o leme intelectual do barco terreno. A Verdade Universal, que não tem conotação religiosa sectária, foi pregada às multidões. A partir das terras helênicas foi novamente despertada a cultura, a democracia, e os diversos valores éticos da época, como uma esperança de renovação da consciência planetária. Inúmeras verdades foram semeadas por Sócrates e outros plantadores do verbo divino do amor e da sabedoria. No entanto, faltaram braços para as colheitas sucessivas e os frutos luminosos acabaram por se perder. 

Séculos mais tarde, a família romana ergue-se cheia de tradições belas, como o respeito à figura da mulher e a compreensão dos deveres do homem. Aprimoram-se vínculos familiares e os conceitos da virtude em relação à própria Grécia. Institui-se a liberdade religiosa, sendo o Panteão o exemplo clássico da tolerância; no seu templo chegaram a existir estátuas de trinta mil deuses diferentes. 

Patrícios e plebeus, depois de agitadas desavenças, conseguem equilibrar-se no respeito mútuo em leis que expressavam avanço na área dos direitos humanos. A Lei Canuleia passa a permitir casamentos entre patrícios e plebeus. A harmonia se desenvolve chegando até a Lei Ogúlnia, que possibilitaria aos plebeus, também, exercerem funções sacerdotais. 

As falanges de luz, em todas as épocas da história, exerceram intenso trabalho junto a comunidades e povos visando implantar, em inúmeros projetos, núcleos de paz, harmonia, justiça e sabedoria. 

Voltemos os olhos para o Egito atual. Há nesse respeitável país muito pouco do brilho proveniente da luz intelectual e moral do seu passado que impressionou a humanidade. 

A saudosa Grécia de Péricles, que teve em Sócrates seu expoente maior, hoje se nivela a inúmeros países do nosso globo terrestre. 

Nossa querida Roma de tempos remotos, também se desviou do planejamento elevado que os Espíritos de luz lhe oportunizaram. Da administração enérgica, plena de sabedoria e justiça, a antiga água cristalina esvaiu-se na sede do poder e poluiu-se na corrupção mais vil. O Panteão democrático cede lugar à Inquisição de triste memória. 

“Brasil, coração do mundo e pátria do evangelho”, mais uma das tentativas de se estabelecer um núcleo de fraternidade, tolerância, amor e sabedoria. 

Diz o adágio popular: “O destino só a Deus pertence”. Pobre ilusão! Se o destino só a Deus pertencesse, com certeza não haveria estupros, torturas, crimes hediondos ou suicídios. 

É preciso que acordemos do sono medieval no qual ainda vemos Deus como um ser emocional passível de ser agradado ou desagradado por atos humanos. Deus é imutável! A força universal, ou o Amor Onipresente, não se entristece nem se alegra, não pune nem premia. Seus atributos de onipresença e imutabilidade não interferem nos atos nem do país nem de nós mesmos, individualmente. 

Naturalmente, as emanações de luz sobre todos nós são contínuas. São inúmeros os mensageiros do amor e da sabedoria que renascem em nossas terras propagando a paz e estimulando o exercício saudável da razão. 

Tomemos cuidado para não infantilizarmos conceitos maiores acreditando sermos melhores do que nossos vizinhos de fronteiras, ou de outros continentes. Qualquer olhadela mais lúcida e atenta aos jornais demonstra que, por aqui, não são raros desvios graves em todos os sentidos do bom senso e da ética universal. Projetos espirituais são projetos, não são ainda fatos.

Abandonemos qualquer ideia que nos recorde, mesmo que de longe, a concepção absurda de povo eleito ou terra santa.

Na matemática do destino é preciso somar trabalho e bom senso sem subtrair as percepções da realidade, evitando divisões desnecessárias para, assim, multiplicar os resultados na tabuada do amor.


Ricardo Di Bernardi é médico homeopata.


 
 

 


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O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita