Norma da vida
Maria Dolores
Sinto-te o coração
dorido em prece
E perguntas, em pranto,
alma querida e boa:
– "Como guardar a fé,
sem que a prova nos doa
Nos recessos do ser?
Uma norma de paz haverá
sobre a Terra
Que consiga sanar as
chagas da alma triste?"
Sem pretensão, respondo
que ela existe:
– Trabalhar e
esquecer!...
A própria Natureza é um
livro aberto;
Recorda o tronco antigo
e a tempestade.
Desçam raios do céu, a
nuvem brade,
Sob a crise da noite a
estremecer,
Ei-lo, porém, ereto e
firme, aguentando a
tormenta...
Quebra-se-lhe quase toda
a ramaria,
Ele guarda, no entanto,
as instruções da vida:
– Trabalhar e
esquecer!...
Vejo a terra humilhada
na lavoura.
Ferida e massacrada,
Ao peso do trator e
entre golpes de enxada,
Tem nos vulcões rugindo
o seu bravo gemer...
Mas, mesmo assim, produz
o pão do mundo.
Injuriada e revolvida,
Atende a ordenação que
recebe da vida:
– Trabalhar e
esquecer!...
O fio d’água que nasceu
na serra,
Pouco a pouco se fez
amplo regato,
Percorrendo quilômetros
de mato,
A correr e a correr...
Dessedentando pombos e
serpentes,
Sofre a baba do lobo que
o domina
E segue para o mar, ante
a norma divina:
– Trabalhar e
esquecer!...
Assim também, alma
querida e boa,
Se carregas contigo
farpas de amargura,
Desencanto, tristeza,
desventura,
Chora, mas faze o bem –
nosso alto dever...
Quanto às pedras e
empeços do caminho,
Desengano e aflição,
mágoa e mudança,
Olvida!... E segue as
vozes da esperança:
– Trabalhar e
esquecer!...
Do livro Assembleia
de Luz, obra
mediúnica psicografada
pelo médium Francisco
Cândido Xavier.
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