O óbolo e a Providência
divina
Em Marcos, cap. 12: 41 a
44, e Lucas, cap. 21: 1
a 4 é narrado que Jesus
se encontrava sentado à
frente do gazofilácio,
também denominado arca
do tesouro, e observou a
multidão de pessoas que
depositavam ali sua
oferta ao templo.
Porém,uma pobre viúva
nada mais fez que
colocar na arca suas
duas pequenas moedas, as
quais, atualmente, só
dariam, talvez, para
comprar um pão. Mas era
tudo o que ela tinha, e
o Senhor aproveitou-se
daquele cenário para
chamar seus apóstolos e
lhes dizer que, de todas
as doações, a mais
elevada foi a da viúva.
Pois todos doaram do que
lhes sobrava, e ela doou
tudo o que tinha para
sua alimentação.
A viúva passaria fome,
mas acreditava que
estaria agradando a Deus
e, desse modo,
demonstraria a imensa fé
de sua alma ao seu
Criador. O próprio Jesus
já recomendara a seus
discípulos para olharem
“as aves no céu, que não
semeiam, nem segam, nem
ajuntam em celeiros” e
nosso “Pai celestial as
alimenta” (Mateus, 6:
26). No versículo
anterior, Ele lembrara:
“Não andeis cuidadosos
quanto à vossa vida,
pelo que haveis de comer
ou pelo que haveis de
beber; nem quanto ao
vosso corpo, pelo que
haveis de vestir. Não é
a vida mais do que o
mantimento e o corpo
mais do que o vestido?”
A lei de causa e efeito
ou de ação e reação é a
maior prova da justiça
de Deus. Mesmo quando
aparentemente estamos
entregues à própria
sorte, Ele jamais nos
abandona. Se nos
deparamos, muitas vezes,
com situações de
expiações dolorosas, não
faltam, na história
humana, casos em que a
bondade é recompensada
de imediato.
Na vida real, também, o
ato de desprendimento e
de amor ao próximo pode
trazer benefício
inesperado a quem age no
bem. Um exemplo disso é
a história narrada pelo
Espírito Hilário Silva e
psicografada por Chico
Xavier, constante do
capítulo 19, intitulado
“Assistência mútua” da
obra Almas em desfile,
editada pela Federação
Espírita Brasileira.
Conta-nos o Espírito
Hilário que uma cadeira
de rodas doada com amor
a uma professora idosa e
aposentada por invalidez
resultou em inesperada
oferta de emprego por
ela à sua doadora. Desse
modo, dois meses depois
de seu gesto de amor,
esta assumiu a vaga de
professora de uma escola
pública, cargo ocupado
antes pela beneficiada
com a cadeira de rodas.
Sua doadora, embora
formada no magistério,
vinha trabalhando na
costura para melhorar a
renda familiar, que não
era muita. Conclui o
Espírito, pela
psicografia do
extraordinário médium
Chico Xavier que “A
bondade gerara a
bondade, e uma cadeira
de carinho e repouso
trouxera outra de
serviço e educação”.
No capítulo 13 d’O
Evangelho segundo o
Espiritismo, nos
itens 5 e 6, referentes
ao “óbolo da viúva”,
explica Allan Kardec que
muitas pessoas lamentam
não poder ajudar de modo
mais intenso aos
necessitados, por não
possuírem riquezas
materiais suficientes.
Mas será que, por trás
dessa queixa não
estaria, primeiramente,
o desejo oculto de
primeiro beneficiar-se?
Indaga o codificador da
Doutrina Espírita.
O caso exemplificado por
Jesus mostra-nos que o
melhor bem é aquele
realizado com pleno
desejo de, nas pequenas
coisas, tais como “um
serviço qualquer”, “um
consolo” a quem dele
necessite, o alívio de
alguém que sofra
fisicamente ou
moralmente. Em
conclusão, diz Kardec
algo que nos faz
refletir e entender o
que representa,
simbolicamente, o nosso
“óbolo” mais
significativo: “Não
dispõem todos, à falta
de dinheiro, do seu
trabalho, do seu tempo,
do seu repouso, para de
tudo isso dar uma parte
ao próximo? Também aí
está a dádiva do pobre,
o óbolo da viúva”.
A propósito, no poema
“Entre nós”, o Espírito
Casimiro Cunha diz-nos,
pela psicografia de
Chico Xavier o seguinte:
Coração que não se abre
À sementeira do amor
Não guarda com segurança
A luz do Consolador
Muita leitura sem obras
De ensino e consolação
Traz a flor parasitária
Da inútil conversação.
Desalento choramingas,
Em pranto sempre a
correr,
Expressa, frequentemente,
Muito serviço a fazer.
Comentários contra
ingratos,
Verbo amargoso e
violento,
São tristes revelações
No anseio de isolamento.
Discursos sem caridade
— Fraternidade sem
portas —
Tribunas que não amparam
São sinais de fontes
mortas.
Fadiga de todo instante,
Chorosa, escura e
cediça,
Traduz, sem contestação,
Fragilidade e preguiça.
Cabeça muito ilustrada,
Sobre a vida em
calmaria,
É urna lavrada em ouro,
Muito nobre, mas vazia.
Entusiasmo eloquente,
Sem atos de amor
cristão,
É fogo de palha seca
Em bolhas de água e
sabão.
Sublime conhecimento,
Distanciado do bem,
É tesouro enferrujado
Que não ajuda a ninguém.
Banquetes da
inteligência,
Sem Jesus suprindo a
mesa,
São brilhos da força
bruta
Em pedras da Natureza.
(XAVIER, 2011, p. 29-
30).
Quando agirmos assim,
com completo
desinteresse e desejo
sincero de servir,
amorosamente, a
Providência Divina já
está a caminho, para
servir, junto conosco, e
nos socorrer, quando se
fizer oportuno, pois,
como diz Davi, em seu
Salmo 23: “O Senhor é
meu Pastor, e nada me
faltará”.
Referências:
KARDEC, Allan. O
Evangelho segundo o
Espiritismo.
Tradução de Guillon
Ribeiro. 131 ed. (Ed.
histórica). Brasília:
FEB, 2013, cap. 13,
itens 5 - 6.
XAVIER, Francisco
Cândido; VIEIRA, Valdo.
Almas em desfile.
Pelo Espírito Hilário
Silva. 11. ed., 2. imp.
Brasília: FEB, 2013, 2ª
parte, cap. 19.
______. Gotas de luz.
Pelo Espírito Casimiro
Cunha. Brasília: FEB,
2011, p. 29- 30.
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