O Chico é um ser
emocionante, eis a expressão
que melhor traduz a sua
personalidade. Situa-se ele
para muito além da dimensão
que possa conceber.
Muito haverá que se falar de
Chico, no futuro, além do
que agora se fala. Casos
sobre ele e relacionados com
ele multiplicar-se-ão quase
ao infinito. Muitos há
ignotos e, desses muitos,
alguns vêm à tona de quando
em vez.
O narrado em frente é um
deles. E, dada a pureza e
simplicidade de linguagem da
principal protagonista,
Maria Helena Falcão dos
Santos, advogada e esposa de
meu prezado colega
magistrado, Clodoaldo
Moreira dos Santos, ora na
inatividade, transcrevo-o "ipisis
litteris":
"Há dezesseis anos, mais
precisamente no dia
13/04/1975, sofri o maior
golpe da minha vida.
Tinha verdadeira adoração
por minha mãe. Nossa
afinidade era muito grande.
Na manhã daquele dia
fatídico, estava eu fazendo
a mamadeira para o meu filho
caçula, quando o neto mais
velho de minha inesquecível
mãe e que com ela morava
chegou em minha casa
gritando: ‘Tia, a vovó está
morrendo!’
Sem acreditar, pois à tarde
do dia anterior ela tinha
passado comigo e estava bem,
corri até a sua casa, que
era perto da minha, e a
encontrei já sem fala,
deitada em sua cama.
Peguei-a nos braços e,
chegando ao alpendre da
casa, pedi a um vizinho, que
ia passando de carro, que,
pelo amor de Deus, nos
levasse ao Hospital Santa
Helena.
No banco de trás do carro eu
sentia que todo o mundo
desabava sobre mim. Minha
santa mãe, com seus lindos
olhos azuis, me fitava com
todo o carinho que lhe era
peculiar.
Eu, em desespero, passava a
mão em sua cabeça e rezava.
De repente, ela estremeceu e
aquela luz tão forte, que
emanava de seus lindos olhos
azul, desapareceu. Os olhos
ficaram opacos, sem vida.
Minha adorada mãe tinha
acabado de desencarnar em
meus braços. Entrei em
desespero e nada mais fiz
conscientemente disseram-me,
depois, que, na hora do
sepultamento, tiveram que me
tirar a força de cima do
caixão.
Sofri demais. Não conseguia
tirar da minha mente seus
olhos opacos, sem brilho que
tanto os embelezava.
Com o passar dos anos, lendo
muitas obras espíritas e
cuidando de meu amado pai
que, depois de três anos de
sofrimento no leito, também
retornou ao Além, pude ter
outra visão do mundo, das
pessoas, da morte. Porém,
persistia em mim a lembrança
sofrida dos olhos sem vida
de minha mãe.
Acalentava o sonho de um dia
ver o médium Chico Xavier.
Há seis anos, dez depois do
desenlace de minha adorada
mãe, fui surpreendida com o
telefonema de uma amiga,
dizendo que o Chico estava
em Goiânia e que estaria na
Colônia Santa Marta, às 13
horas. Fiquei muito feliz e
pensei: hoje vou realizar o
meu sonho de vê-lo! Pelo
menos de longe!...
Troquei rapidamente de roupa
e, ao sair de casa, senti um
desejo incontrolável de
pegar uma florzinha do pé de
manacá que minha mãe adorava
e havia plantado para mim.
Peguei a florzinha e,
fechando-a na mão, dirigi-me
para a Colônia.
Ao ver Chico Xavier passar
por mim, fui invadida por
forte emoção e senti um
desejo muito grande de falar
com ele. Vi que ele se
sentou em uma cadeira e as
pessoas, que eram muitas,
formavam fila para
cumprimentá-lo. Entrei na
fila. Sentia a florzinha na
minha mão, que eu conservava
fechada, e algo me dizia que
continuasse assim. O Chico
estendia a mão e
cumprimentava um a um.
Quando chegou a minha vez,
para meu espanto, ele,
cabisbaixo, estendeu a mão
para mim, só que com a palma
virada para cima, como à
espera que fosse colocado
algo. Eu, imediatamente, sem
saber por que, coloquei em
sua mão a florzinha de
manacá, que só eu sabia
estar fechada em minha mão.
Ele, ainda com a cabeça
baixa, abriu o paletó e
guardou-a no bolso interno
do mesmo. Só aí levantou a
cabeça e me encarou. Sentia
eu uma grande emoção. Meu
rosto estava banhado pelas
lágrimas. Queria dizer
alguma coisa, mas não
conseguia.
Ele, então, me disse:
– ‘Minha filha, os olhos
dela brilham mais que a água
marinha mais pura que possa
existir neste planeta’.
E olhava para o meu lado,
como se visse alguém. Eu,
que já estava totalmente
embargada pela emoção,
entendi que ele estava vendo
minha adorada mãe, ali, ao
meu lado, mais viva do que
nunca e que os olhos opacos
e sem vida, cuja lembrança
tanto me doía e fazia
sofrer, não existiam.
Dominada por intensa emoção,
afastei-me daquele santo
homem, sem dizer uma
palavra, mas com a certeza
de que minha mãe estava
muito bem e que seus belos
olhos azuis brilhavam ainda
mais que antes.”
Depoimento de Weimar M. de
Oliveira, em artigo
publicado na Folha Espírita
de maio/2002.
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