EURÍPEDES KÜHL
euripedes.kuhl@terra.com.br
Ribeirão Preto,
SP (Brasil)
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Do mal Deus tira
o bem
Jesus, nosso
Mestre e modelo
moral, ao
enunciar as
sublimidades das
bem-aventuranças,
considerou:
a. “felizes” os
mansos, os
misericordiosos,
os puros de
coração, os que
promovem a paz;
b. igualmente
felizes os
pobres em
espírito, os
aflitos, os que
têm fome e sede
de justiça, os
que são
perseguidos por
causa da
justiça;
c. “sois
felizes, quando
vos injuriarem e
vos perseguirem
e, mentindo,
disserem todo o
mal contra vós
por causa de
mim” (aqui,
parece-me que
como fecho das
bem-aventuranças,
essas palavras
foram dirigidas
mais
particularmente
aos Apóstolos).
Os itens “a” e
“c”, acima, têm
pacífico
entendimento.
Já o item “b”,
apenas à luz da
lógica talvez
remeta o tema a
um beco
estreito, onde
as reflexões
desembocarão no
paradoxal: como
é que alguém
pode ser feliz
sendo pobre de
espírito,
estando aflito,
padecendo fome e
sede de justiça
ou que por ela
esteja sendo
perseguido?...
Bem sabia o
Cristo de Deus
que suas
palavras
atravessariam os
séculos e que
hora chegaria
para que as
mentes humanas
as ajustassem à
verdade eterna,
trazendo bálsamo
infalível aos
(in)felizes que
estivessem se
debatendo
naquelas turvas
águas morais.
Com efeito, à
luz do
Espiritismo,
aqueles tais (os
do item “b”)
compreendem que
aquilo que no
momento se lhes
apresenta como
dor, na verdade,
é boia
salvadora, pois,
induzindo-os
fortemente à
crença na
Justiça Divina,
daí nasce a
resignação,
espontânea e
balsamicamente.
Quem estudar o
capítulo V de “O
Evangelho
segundo o
Espiritismo” (Bem-aventurados
os aflitos),
nele encontrará
rica e
inesgotável
fonte de
elucidações e
explicações de
como é que
alguém pode ser
feliz, sofrendo.
Aí, desaparece o
paradoxo...
Resumindo,
diz-nos o citado
capítulo que a
vida social
expõe grandes
anomalias entre
ricos e pobres,
sãos e doentes,
“sorte” e
“azar”, e que os
homens virtuosos
sofrem e os maus
prosperam,
parecendo tais
fatos desmentir
a Justiça de
Deus.
Nada mais
enganoso: pelos
trâmites da
reencarnação e
das vidas
sucessivas, com
raciocínio
desarmado de
preconceitos,
inseparável da
lógica que
conduz à fé
raciocinada, não
há como descrer
da Bondade e do
Amor do Criador.
Quem quer que
equipe o
espírito dessas
sublimes
premissas delas
verá emergir
cristalina
verdade: sendo
Deus justo e
amando de forma
igual a todos os
Seus filhos, se
um deles sofre é
porque há uma
causa justa; se
essa causa não
está no presente
só pode estar
num lugar: no
passado!
Muitas das
atuais expiações
podem ser
consequências de
más ações
praticadas em
outras vidas,
das quais tenham
ou não resultado
infelicidades,
para si ou
outrem, ou
vítimas. Por
exemplo:
- sofrer um
acidente sem que
para isso tenha
dado azo;
- amargar
reveses
sucessivos
financeiros;
- vivenciar
momentos
difíceis no lar,
com cônjuge e
parentes
difíceis ou
filhos ingratos;
- encontrar
sérias
dificuldades
profissionais,
com desajustes
diante de
chefes, colegas
ou subordinados;
- doenças
congênitas,
algumas
incuráveis
(danos no
perispírito);
- vitimação por
“balas perdidas”
ou
acontecimentos
imprevistos.
Uma grande lista
poderíamos
alocar sobre
tais expiações,
mas não nos
alongaremos, vez
que importa
expor o
raciocínio.
Nem todos os
problemas têm
causa no
passado. Eis
alguns deles:
- sofrer
acidente causado
por si mesmo,
por imprudência
ou embriaguez;
- falências
múltiplas,
ocasionadas por
desatenção nos
negócios ou por
lances
financeiros
temerários,
audaciosos,
enganosos;
- problemas com
filhos aos quais
não foi
proporcionada
educação;
- dificuldades
conjugais por
ter contraído
união sem amor
ou sob
interesse;
- ferimento
decorrente de
briga que
poderia ter
evitado;
- adoecer
gravemente por
intemperança,
por excessos,
por vícios.
Aqui também o
rol pode ser
quase que
infindável. Mas
já basta.
Impõe-se uma
ressalva: nem
todos os que
passam por
situações
difíceis são
necessariamente
culpados, isto
é, estão
colhendo o que
plantaram ou são
imprevidentes;
há casos, e não
são poucos,
segundo nos
dizem os
Espíritos
esclarecedores,
de missionários
que
voluntariamente
se submetem a
tais
padecimentos,
por pura devoção
e amor ao
próximo. Para
eles, trilhar em
tais sombras,
constitui
sublime
oportunidade de
exercitarem a
caridade, no seu
mais alto nível.
Tem muito mais o
Espiritismo para
ofertar de luzes
ao tema:
- Em O LIVRO DOS
ESPÍRITOS:
À questão nº
783, há
informação de
que quando um
povo não
progride quanto
devera, Deus
promove abalos
físicos ou
morais que
induzem à
transformação,
tirando-o da
ignorância
crônica. É assim
que a
Providência age,
fazendo do
mal sair o bem,
qual a procela,
a tempestade,
que saneiam a
atmosfera,
depois de a
terem agitado
violentamente.
À questão nº
785, há enérgica
reprimenda ao
orgulho e ao
egoísmo, já que
o homem, via de
regra, pelo
crescente
progresso
intelectual até
“vitaliza” mais
e mais aqueles
vícios. Ledo
engano: se o
progresso
terreno
proporciona
egoísticos gozos
de bens
materiais, estes
são efêmeros,
já que desse
próprio mal pode
nascer o bem,
pois não tarda
ao Espírito
compreender que
Deus o criou com
fanal à
felicidade
duradoura, doce
fruto do amor ao
próximo.
À questão nº
859a, está
registrado que
“só as grandes
dores, os fatos
importantes e
capazes de
influir no
moral, Deus os
prevê, porque
são úteis à
tua depuração e
à tua
instrução”.
- Voltando ao O
EVANGELHO
SEGUNDO O
ESPIRITISMO:
No capítulo V,
item 21, há a
recomendação a
nós, humanos,
para que
compreendamos
que o bem,
muitas vezes,
está onde
julgamos ver o
mal. Esse
item trata da
perda de pessoas
amadas ou de
mortes
prematuras: por
vezes isso
constitui um
grande benefício
que Deus concede
a alguém que se
vai, ao tempo
que também por
vezes com a
morte impede que
um jovem, por
procedimentos
reprováveis,
viesse a causar
danos
irreparáveis aos
pais e à família
inteira.
No mesmo item há
uma leve
reprimenda:
“Habituai-vos a
não censurar o
que não podeis
compreender e
crede que Deus é
justo em todas
as coisas.
Muitas vezes, o
que vos parece
um mal é um bem”.
No Cap. VIII,
item 14, a
propósito das
palavras de
Jesus É
necessário que
escândalo venha:
“(...) Os homens
se punem a si
mesmos pelo
contacto de seus
vícios. (...) É
assim que do
mal tira Deus o
bem e que os
próprios homens
utilizam as
coisas más ou as
escórias”.
- Em A GÊNESE:
No capítulo III,
item 3,
encontramos: “O
mal existe e tem
uma causa, sejam
os provocados
pelo homem ou os
que, à primeira
vista, não pode
evitar, tais
como os flagelos
naturais, mas
que, pela
inteligência, os
neutralizará.
Desse ponto de
vista
depreende-se que
o que ao
homem se afigura
mau e injusto,
conhecendo-lhe a
causa
consideraria
justo e
admirável.
No item 7:
“Deus, todo
bondade, pôs o
remédio ao lado
do mal, isto é,
faz que do
próprio mal saia
o remédio”.
A referência é
sobre o momento
em que o excesso
do mal moral se
torna
intolerável e
impõe ao homem
mudar de vida.
- Em O CÉU E O
INFERNO:
Na I Parte, Cap.
IX, item 4:
“(...) Para
compreender
como do mal pode
resultar o bem,
é preciso
considerar não
uma, porém,
muitas
existências; é
necessário
apreender o
conjunto do qual
— e só do qual —
resultam nítidas
as causas e
respectivos
efeitos”.
- Em OBRAS
PÓSTUMAS:
Na I Parte, item
“As expiações
coletivas”,
é-nos
esclarecido que
quando
infortúnios
alcançam grande
número de
pessoas, ali
elas resgatam
atos de vidas
passadas, seja
por faltas
cometidas na
vida privada ou
na vida pública.
Não é raro,
nessas
hecatombes,
existirem
criaturas
destemidas e
que, vendo a
calamidade,
enfrentam-na com
solidariedade e
destemor, vindo
a perecer.
Assim, entre as
muitas vítimas,
todas em
resgate, algumas
podem ter sido
ótimos cidadãos,
mas péssimos
chefes de
família, ou
então, bons pais
de família, mas
cidadãos
indignos.
Dessas
convulsões
sociais uma
melhora sempre
resulta; os
Espíritos se
esclarecem pela
experiência: o
infortúnio é o
estimulante que
os impele a
procurar um
remédio para o
mal.
OBS: Do
parágrafo acima
imaginamos que
vem de longe o
ditado popular
que diz ser a
necessidade a
mãe de quase
todas as
invenções.
- Na REVISTA
ESPÍRITA,
Julho/1858, p.
178:
O Espírito São
Luís, comentando
sobre um homem
inquieto, com
infelicidade no
auge, por
invejar o ouro,
o luxo, a
felicidade
aparente: “(...)
Se esse infeliz
tivesse apenas
olhado abaixo de
sua posição,
teria visto o
número daqueles
que sofrem sem
se lamentar,
ainda bendizendo
o Criador;
porque a
infelicidade é
um benefício do
qual Deus se
serve para
fazer a pobre
criatura avançar
para o seu trono
eterno”.
- Em ENTRE A
TERRA E O CÉU:
Clarêncio,
Ministro do
Auxílio em
Nosso Lar:
“(...) O Senhor
tolera a
desarmonia a fim
de que por
intermédio dela
mesma se efetue
o reajustamento
moral dos
Espíritos que a
sustentam, de
vez que o mal
reage sobre
aqueles que o
praticam,
auxiliando-os
a compreender a
excelência e a
imortalidade do
bem”.
- Em AÇÃO E
REAÇÃO:
O Espírito Luísa
reconforta a
filha
desanimada:
“(...) Ignoras
que a dor é a
nossa custódia
celestial? (...)
Lembra-te de que
o Senhor
transforma o
veneno de nossos
erros em remédio
salutar para
o resgate de
nossas
culpas...”.
(Todos os grifos
são do Autor.)