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Crônicas e Artigos

Ano 9 - N° 442 - 29 de Novembro de 2015

CHRISTINA NUNES
meridius@superig.com.br
Rio de Janeiro, RJ (Brasil)

 

 
Nossos irmãos menores


Do começo deste ano para cá tivemos três gatos em casa. Os dois primeiros, filhotes, os encaminhamos a outra família por problemas de adaptação. Depois fizemos a adoção de uma gata que, quando veio para nós, pelagem amarela, com uns olhos grandes, também amarelos e lindos, tinha cerca de um ano, e já havia dado cria.

Isso foi por volta de março. Chamava-se Mocinha, e não mudei o nome, pois era perfeito para descrever seus modos. Gata de companhia, de fato, conforme nos informou a doadora. Calma, adorando um carinho e um colo, está há uns sete meses conosco e virou o xodó da casa. De personalidade totalmente diferente dos dois primeiros, filhotes então, que ficaram apenas algumas semanas, pois um deles, o cinza, parecia um terremoto, enquanto o outro, frajolinha preto e branco, mais lembrava um monge chinês. Ficava lá, paradão, olhando fixamente para mim, como se querendo dizer alguma coisa que só ele sabia. E custou a nos dar a honra da aproximação para algum carinho. No começo, não queria conversa. Mas quando nos deixou, debaixo das minhas lágrimas sentidas, já era o meu favorito. Vinha no colo espontaneamente, e punha a patinha na minha cabeça por detrás do sofá, como se afofando meus cabelos.

Toda esta introdução sobre meus gatos porque desejo falar sobre a espiritualidade dos animais, de modo conciso para o que o espaço permite. As experiências com os gatos, e, sobretudo, algo de que tomei conhecimento sobre uma cadelinha de um familiar – episódio realmente surpreendente – levaram-me a constatar que os animais, em especial gatos e cães, têm realmente personalidade própria, o que me permite tocar com maior segurança num assunto onde até então não tinha me aventurado por falta de base em conhecimento teórico, e em vivências.

Noutro dia, não por coincidência, dei com um enunciado de Chico Xavier, no qual afirmava que os benfeitores espirituais resguardam nossos animais muito queridos, cuja partida nos deixou em grande sofrimento, para apresentá-los de volta a nós, quando retornamos para as dimensões mais verdadeiras da vida. Pouco tempo após ter lido aquilo, chegou-me ao conhecimento o caso da cadelinha do meu primo, Kelly, feliz e saltitante, a que fui apresentada numa visita recente.

Abaixo exponho o caso de maneira sintetizada, para dividir com os leitores, a experiência que veio sinalizar, de maneira extraordinária, a veracidade das palavras de Chico, e que, sim, até mesmo enquanto ainda aqui, as almas dos animais de nosso amor e convivência anteriores podem retornar ao nosso ambiente familiar, em estranhos arranjos produzidos pela Espiritualidade.

Contou um primo, numa tarde agradável em sua casa em Campo Grande, que, por volta dos anos noventa, morando noutro lugar do Rio de Janeiro, teve uma cadela chamada Estef que lhe era muito apegada. Fazia um carnaval quando voltava do trabalho, sistematicamente. Mas, passados os anos, em época em que ela não poderia mais ficar consigo em virtude de morar na ocasião em apartamento, embora a visitasse sempre que possível, e como acontece sempre nalgum momento, soube que o animalzinho querido faleceu.

Decorreram anos, e, por volta de dois mil e doze ou dois mil e treze, já residindo noutro lugar e morando numa casa onde já havia alguns cães, dirigia seu carro quando ouviu, pela mediunidade, um aviso esquisito de seu mentor, dizendo-lhe que parasse porque teria um importante reencontro.

Embora estranhando a situação, de um impulso parou, e, saindo para a calçada, reparou que a uns cinquenta metros brincavam alguns cachorros de rua, dentre os quais um deles, ao vê-lo, e somente aquele, correu ao seu encontro, pondo-se a lhe fazer festas.

Observando aquilo, e o entrosamento fácil e dócil com que a cadela brincava ao seu redor, ele lembrou-se do cunhado, que lhe dissera estar procurando um cachorro de estimação, e decidiu-se a levá-la consigo para esta finalidade. Brincou com ela, a colocou no carro, e a trouxe para casa.

O cunhado, porém, depois lhe informou que já arranjara um animal de seu gosto, o que o deixou no dilema de como resolver a situação da cadelinha que trouxera, pois, barulhenta, já vinha causando transtornos com a vizinhança que reclamava e, por vezes, em atitude agressiva, lhe atirava pedras.

Assim, embora penalizado, achou por bem devolvê-la ao ambiente da rua, julgando que por si iria embora; no entanto, a cadela, fiel, ficou agarrada como sentinela às imediações da casa, e, todo santo dia, ao voltar do trabalho, lhe fazia as mesmas festas e carinhos de sempre.

Àquela altura, porém, latejava-lhe na audição espiritual o aviso reiterado do mentor durante aqueles dias, de que se tratava, aquela cachorrinha que agora já batizara de Kelly, da alma do mesmo animal amigo a que se afeiçoara no passado; de que fora, este, o reencontro daquele dia; e que ela assim se lhe apegava obstinadamente por conta do reconhecimento indubitável da afeição estreita do passado. E o comportamento dela só fazia confirmar esta realidade com a passagem do tempo em que reconhecia, ostensiva, naquela Kelly de agora, a personalidade da Estef do passado, e mesmo as características físicas, que teve oportunidade de comparar através de um vídeo antigo que encontrara com imagens da antiga cachorra de estimação.

Todavia, com o passar dos dias, o problema dos barulhos do animalzinho com a vizinhança foi se agravando, de modo que só lhe restava agora, embora lhe contrariando os sentimentos, a alternativa de colocá-la num carro e, para preservá-la da animosidade dos vizinhos, deixá-la em lugar distante. Julgou que, largando-a a uns cinco ou seis quilômetros, perto de determinada praça, e tendo ela vivido na rua anteriormente, não existiria a possibilidade de encontrar por si o caminho de retorno, e acabaria se readaptando ao estilo de vida anterior.

Assim planejou e fez. Só que, passados uns dias, chega a sexta-feira - e quem ele encontra a postos, na sua volta do trabalho, na frente do portão de casa, pulando, sorrindo e festejando a sua chegada, como sempre fez?!

A Kelly! – o nome, hoje, ao que tudo indica, da “reencarnação” da cadelinha simpática, a Estef, que tive oportunidade de ver nas imagens anteriores da mesma, constatando a extraordinária semelhança de aparência e personalidade para com a sua “repaginação posterior”, aos pulos e brincadeiras com meu primo no dia da nossa visita.

Agora ela ficou com a família, definitivamente! E os problemas anteriores foram satisfatoriamente contornados junto à vizinhança. Não poderia se dar diferente!

Trata-se de um caso de adoção afetiva mútua, originada num tempo muito anterior, e que perdurou, por vias misteriosas, pela liga indissolúvel do amor espiritual verdadeiro, tantas vezes existente entre seres humanos e animais.

Noutros tempos, São Francisco de Assis nomeava essas criaturas da natureza, no profundo amor patenteado pelas obras divinas, de “nossos irmãos menores”. Penso que é fora de dúvida que, intuitivamente ou não, Francisco conhecia estas realidades, para muitos, ainda hoje, enigmáticas.

Na escalada espiritual evolutiva, os animais possuem, como nós e todos os seres, a sua personalidade distinta; sua dignidade própria, dentro do nível de vivências e de alcance de consciência no qual estagiam. E, por essa mesma razão, não se trata de ilusão enganosa o que a convivência diária com um animalzinho doméstico nos ensina.

Eles nos dedicam, sim, uma afeição de qualidade elevada, purificada pela sua inocência ainda intocável dentro da ordem natural das coisas. E, de algum modo, se nos reencontram, nos reconhecem – e retomam o fio da convivência toda pautada em amor!

Que para todos os que um dia usufruíram desta troca amorosa privilegiada, o relato deste, e de tantos outros episódios semelhantes, os consolem, junto com esta convicção:

Os cães, como todos os seres viventes, possuem alma e segundo nosso irmão Chico Xavier, se tratados com respeito, amor e carinho, podem após seu desencarne, ainda permanecer até 4 anos ao lado de quem tanto lhe deu amor. É uma forma de não sofrerem com a separação. Mas eles voltam a ter a mesma vitalidade de quando eram filhotes. Quem já perdeu um amigo, fique sabendo que ele continuou ou continua ao seu lado,  com a mesma felicidade de sempre!”

– Quando nós amamos o nosso animal e dedicamos a ele sentimentos sinceros, ao partir, os Espíritos amigos o trazem de volta para que não sintamos sua falta.” - Chico Xavier


 


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O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita