Nossos irmãos
menores
Do começo deste
ano para cá
tivemos três
gatos em casa.
Os dois
primeiros,
filhotes, os
encaminhamos a
outra família
por problemas de
adaptação.
Depois fizemos a
adoção de uma
gata que, quando
veio para nós,
pelagem amarela,
com uns olhos
grandes, também
amarelos e
lindos, tinha
cerca de um ano,
e já havia dado
cria.
Isso foi por
volta de março.
Chamava-se
Mocinha, e não
mudei o nome,
pois era
perfeito para
descrever seus
modos. Gata de
companhia, de
fato, conforme
nos informou a
doadora. Calma,
adorando um
carinho e um
colo, está há
uns sete meses
conosco e virou
o xodó da casa.
De personalidade
totalmente
diferente dos
dois primeiros,
filhotes então,
que ficaram
apenas algumas
semanas, pois um
deles, o cinza,
parecia um
terremoto,
enquanto o
outro,
frajolinha preto
e branco, mais
lembrava um
monge chinês.
Ficava lá,
paradão, olhando
fixamente para
mim, como se
querendo dizer
alguma coisa que
só ele sabia. E
custou a nos dar
a honra da
aproximação para
algum carinho.
No começo, não
queria conversa.
Mas quando nos
deixou, debaixo
das minhas
lágrimas
sentidas, já era
o meu favorito.
Vinha no colo
espontaneamente,
e punha a
patinha na minha
cabeça por
detrás do sofá,
como se afofando
meus cabelos.
Toda esta
introdução sobre
meus gatos
porque desejo
falar sobre a
espiritualidade
dos animais, de
modo conciso
para o que o
espaço permite.
As experiências
com os gatos, e,
sobretudo, algo
de que tomei
conhecimento
sobre uma
cadelinha de um
familiar –
episódio
realmente
surpreendente –
levaram-me a
constatar que os
animais, em
especial gatos e
cães, têm
realmente
personalidade
própria, o que
me permite tocar
com maior
segurança num
assunto onde até
então não tinha
me aventurado
por falta de
base em
conhecimento
teórico, e em
vivências.
Noutro dia, não
por
coincidência,
dei com um
enunciado de
Chico Xavier, no
qual afirmava
que os
benfeitores
espirituais
resguardam
nossos animais
muito queridos,
cuja partida nos
deixou em grande
sofrimento, para
apresentá-los de
volta a nós,
quando
retornamos para
as dimensões
mais verdadeiras
da vida. Pouco
tempo após ter
lido aquilo,
chegou-me ao
conhecimento o
caso da
cadelinha do meu
primo, Kelly,
feliz e
saltitante, a
que fui
apresentada numa
visita recente.
Abaixo exponho o
caso de maneira
sintetizada,
para dividir com
os leitores, a
experiência que
veio sinalizar,
de maneira
extraordinária,
a veracidade das
palavras de
Chico, e que,
sim, até mesmo
enquanto ainda
aqui, as almas
dos animais de
nosso amor e
convivência
anteriores podem
retornar ao
nosso ambiente
familiar, em
estranhos
arranjos
produzidos pela
Espiritualidade.
Contou um primo,
numa tarde
agradável em sua
casa em Campo
Grande, que, por
volta dos anos
noventa, morando
noutro lugar do
Rio de Janeiro,
teve uma cadela
chamada Estef
que lhe era
muito apegada.
Fazia um
carnaval quando
voltava do
trabalho,
sistematicamente.
Mas, passados os
anos, em época
em que ela não
poderia mais
ficar consigo em
virtude de morar
na ocasião em
apartamento,
embora a
visitasse sempre
que possível, e
como acontece
sempre nalgum
momento, soube
que o
animalzinho
querido faleceu.
Decorreram anos,
e, por volta de
dois mil e doze
ou dois mil e
treze, já
residindo noutro
lugar e morando
numa casa onde
já havia alguns
cães, dirigia
seu carro quando
ouviu, pela
mediunidade, um
aviso esquisito
de seu mentor,
dizendo-lhe que
parasse porque
teria um
importante
reencontro.
Embora
estranhando a
situação, de um
impulso parou,
e, saindo para a
calçada, reparou
que a uns
cinquenta metros
brincavam alguns
cachorros de
rua, dentre os
quais um deles,
ao vê-lo, e
somente aquele,
correu ao seu
encontro,
pondo-se a lhe
fazer festas.
Observando
aquilo, e o
entrosamento
fácil e dócil
com que a cadela
brincava ao seu
redor, ele
lembrou-se do
cunhado, que lhe
dissera estar
procurando um
cachorro de
estimação, e
decidiu-se a
levá-la consigo
para esta
finalidade.
Brincou com ela,
a colocou no
carro, e a
trouxe para
casa.
O cunhado,
porém, depois
lhe informou que
já arranjara um
animal de seu
gosto, o que o
deixou no dilema
de como resolver
a situação da
cadelinha que
trouxera, pois,
barulhenta, já
vinha causando
transtornos com
a vizinhança que
reclamava e, por
vezes, em
atitude
agressiva, lhe
atirava pedras.
Assim, embora
penalizado,
achou por bem
devolvê-la ao
ambiente da rua,
julgando que por
si iria embora;
no entanto, a
cadela, fiel,
ficou agarrada
como sentinela
às imediações da
casa, e, todo
santo dia, ao
voltar do
trabalho, lhe
fazia as mesmas
festas e
carinhos de
sempre.
Àquela altura,
porém,
latejava-lhe na
audição
espiritual o
aviso reiterado
do mentor
durante aqueles
dias, de que se
tratava, aquela
cachorrinha que
agora já
batizara de
Kelly, da alma
do mesmo animal
amigo a que se
afeiçoara no
passado; de que
fora, este, o
reencontro
daquele dia; e
que ela assim se
lhe apegava
obstinadamente
por conta do
reconhecimento
indubitável da
afeição estreita
do passado. E o
comportamento
dela só fazia
confirmar esta
realidade com a
passagem do
tempo em que
reconhecia,
ostensiva,
naquela Kelly de
agora, a
personalidade da
Estef do
passado, e mesmo
as
características
físicas, que
teve
oportunidade de
comparar através
de um vídeo
antigo que
encontrara com
imagens da
antiga cachorra
de estimação.
Todavia, com o
passar dos dias,
o problema dos
barulhos do
animalzinho com
a vizinhança foi
se agravando, de
modo que só lhe
restava agora,
embora lhe
contrariando os
sentimentos, a
alternativa de
colocá-la num
carro e, para
preservá-la da
animosidade dos
vizinhos,
deixá-la em
lugar distante.
Julgou que,
largando-a a uns
cinco ou seis
quilômetros,
perto de
determinada
praça, e tendo
ela vivido na
rua
anteriormente,
não existiria a
possibilidade de
encontrar por si
o caminho de
retorno, e
acabaria se
readaptando ao
estilo de vida
anterior.
Assim planejou e
fez. Só que,
passados uns
dias, chega a
sexta-feira - e
quem ele
encontra a
postos, na sua
volta do
trabalho, na
frente do portão
de casa,
pulando,
sorrindo e
festejando a sua
chegada, como
sempre fez?!
A Kelly! – o
nome, hoje, ao
que tudo indica,
da
“reencarnação”
da cadelinha
simpática, a
Estef, que tive
oportunidade de
ver nas imagens
anteriores da
mesma,
constatando a
extraordinária
semelhança de
aparência e
personalidade
para com a sua
“repaginação
posterior”, aos
pulos e
brincadeiras com
meu primo no dia
da nossa visita.
Agora ela ficou
com a família,
definitivamente!
E os problemas
anteriores foram
satisfatoriamente
contornados
junto à
vizinhança. Não
poderia se dar
diferente!
Trata-se de um
caso de adoção
afetiva mútua,
originada num
tempo muito
anterior, e que
perdurou, por
vias
misteriosas,
pela liga
indissolúvel do
amor espiritual
verdadeiro,
tantas vezes
existente entre
seres humanos e
animais.
Noutros tempos,
São Francisco de
Assis nomeava
essas criaturas
da natureza, no
profundo amor
patenteado pelas
obras divinas,
de “nossos
irmãos menores”.
Penso que é fora
de dúvida que,
intuitivamente
ou não,
Francisco
conhecia estas
realidades, para
muitos, ainda
hoje,
enigmáticas.
Na escalada
espiritual
evolutiva, os
animais possuem,
como nós e todos
os seres, a sua
personalidade
distinta; sua
dignidade
própria, dentro
do nível de
vivências e de
alcance de
consciência no
qual estagiam.
E, por essa
mesma razão, não
se trata de
ilusão enganosa
o que a
convivência
diária com um
animalzinho
doméstico nos
ensina.
Eles nos
dedicam, sim,
uma afeição de
qualidade
elevada,
purificada pela
sua inocência
ainda intocável
dentro da ordem
natural das
coisas. E, de
algum modo, se
nos reencontram,
nos reconhecem –
e retomam o fio
da convivência
toda pautada em
amor!
Que para todos
os que um dia usufruíram
desta troca
amorosa
privilegiada, o
relato deste, e
de tantos outros
episódios
semelhantes, os
consolem, junto
com esta
convicção:
“Os
cães, como todos
os seres
viventes,
possuem alma e
segundo nosso
irmão Chico
Xavier, se
tratados com
respeito, amor
e carinho, podem
após seu
desencarne,
ainda permanecer
até 4 anos ao
lado de quem
tanto lhe deu
amor. É uma
forma de não
sofrerem com a
separação. Mas
eles voltam a
ter a mesma
vitalidade de
quando eram
filhotes. Quem
já perdeu um
amigo, fique
sabendo que ele
continuou ou
continua ao seu
lado, com
a mesma
felicidade de
sempre!”
“–
Quando nós
amamos o nosso
animal e
dedicamos a ele
sentimentos
sinceros, ao
partir, os
Espíritos amigos
o trazem de
volta para que
não sintamos sua
falta.”
-
Chico Xavier