O bilhete azul
Vou citar algumas frases
abaixo e você leitor (a)
pense sobre a
possibilidade de Chico
Xavier ter sido alvo de
alguma ou de muitas
delas.
“De que te serve a fé
para o caminho de tanta
dor?”
“Se és médium com tarefa
na caridade, onde estão
os Espíritos protetores
que te não aliviam as
amarguras?”
“Se guardas confiança em
Jesus, mostra-te livre
dos obstáculos...”
“Se louvas o Espiritismo
como Doutrina de luz,
por que te demoras na
sombra das aflições?”
E então, o que você
acha? Teria ouvido Chico
tais frases no início do
século XX dos detratores
do Espiritismo, ou não?
E nos dias atuais em
pleno século XXI,
transcorridos quase cem
anos em que esse ódio
gratuito contra a
Doutrina atenuou,
ouvimos nós essas frases
ou somos compreendidos e
aceitos em nossa opção
filosófico-religiosa?
Não sei quanto a você,
amigo leitor (a), mas eu
já ouvi diversas vezes.
Por exemplo: “Você faz
isso ou aquilo
e vai ao Centro
Espírita?” “Você é
assim ou assado
e se diz espírita?”
Respondo que,
felizmente, sou um
doente da alma que,
mesmo fazendo isso
ou aquilo e sendo
assim ou
assado, procuro pelo
hospital que a Doutrina
me oferece. Pior seria
se como enfermo fugisse
ao tratamento.
Mas por que será que
existe esse pensamento
sobre quem possui uma
religião de ser
desobrigado de enfrentar
problemas na vida atual?
Muito simples:
acredita-se que qualquer
uma delas é um bilhete
azul, um passe livre, um
salvo-conduto para
transitar pelo mundo sem
dificuldades. O Chico
Xavier não poderia ter
dificuldade nenhuma por
conviver intensamente
com os Espíritos amigos
que deveriam isentá-lo
de todo e qualquer
problema! Os católicos
deveriam ter todos os
santos e santas da
Igreja em regime de
plantão para
socorrê-los! Os
evangélicos deveriam ter
em cada pastor um amigo
à disposição para
exorcizar e expulsar
toda e qualquer
dificuldade de suas
existências! E assim por
diante. Ocorre que não
entendem dessa forma as
Leis soberanas da Vida,
o que já ficou bem claro
nas palavras de Jesus
quando Ele afirmou que a
cada um seria dado
segundo as suas obras!
Ora, temos semeaduras
que realizamos
livremente pelos
caminhos da evolução e
que se frutificam em
boas ou más colheitas.
Dessa maneira, não
podemos ter esse tão
sonhado bilhete azul que
nos isenta das
dificuldades semeadas
livremente por cada um
de nós e que virão a ter
em nossos braços com os
respectivos resultados.
Por acaso Francisco de
Assis, por renunciar ao
mundo para servir a
Jesus, se isentou dos
problemas típicos da
vida material? Sabemos
que não. Foi desprezado
pelo pai que não o
compreendeu; padeceu
fome e miséria material
extremas; sofreu a
enfermidade denominada
vulgarmente de tracoma,
o que levou a sua vista
comprometida ser
queimada com ferro em
brasa, única opção para
a época no tratamento
dessa enfermidade; foi
vitimado pela malária
quando não existia
nenhum rudimento para o
tratamento dessa doença;
e tantas coisas mais que
não sabemos. Mas a
conclusão é inevitável:
não se isentou de
dificuldades no mundo
por servir ao Cristo! Da
mesma forma podemos
indagar se foi fácil a
vida de Kardec quando
trouxe até os homens as
verdades da Doutrina
Espírita no século XIX,
onde a religião
dominante reagia com
ferocidade à intromissão
dos ensinamentos dos
Espíritos. A vida de
Irmã Dulce, de Madre
Teresa de Calcutá, foi
um paraíso na Terra?
E o porquê de tudo isso?
Responde-nos
magistralmente Emmanuel
no livro Palavras De
Vida Eterna, no
capítulo 25:
Ensinarás com o teu
exemplo que o Evangelho
não é oficina de
vantagens na experiência
material, mas sim templo
de trabalho redentor
para que venhamos a
consertar a nós mesmos,
diante da Vida Eterna.
Que explicação magnífica
do sublime Mentor de
Chico! Diríamos mesmo
que é perfeita.
Religião de ninguém é
salvo-conduto para
passarmos pelo mundo na
ausência de problemas. A
religião que prometer
isso estará contrariando
a afirmação de Jesus
sobre o dar-se a cada um
segundo as suas obras.
Qual a religião que pode
modificar uma Lei de
Deus se o próprio
Cristo, nosso Modelo e
Guia, afirmou que não
vinha alterar a Lei, mas
dar-lhe cumprimento? De
que adiantaria estarmos
reencarnados se não
tivéssemos que superar
os obstáculos que
repontam em nosso
caminho evolutivo?
Ninguém retorna para
viagem de turismo. Se
tal objetivo
caracterizasse a nossa
volta, melhor seria
ficarmos no plano
espiritual onde o
bônus-hora não sofre com
a dança inflacionária do
dólar.
Se a Ele, o Divino
Amigo, foi lançado o
desafio – “Salva-te a ti
mesmo e desce da cruz” –
pela insensibilidade dos
homens daquela época, o
que não mereceremos
ouvir no estágio atual
da nossa evolução?
Bilhete azul? Nem se
pincelarmos a respectiva
cor no trânsito da
existência!