A melhor parte
O problema é que ainda
insistimos em supor que
a melhor parte seja
aquela que menos
trabalho nos ofereça. Se
o trabalho dignifica o
homem, como afirma a
sabedoria popular, o que
pensar daqueles que
fogem dele? Daqueles que
querem saborear o mel
sem se atrever a
enfrentar as abelhas?
Que a vida deve ser
aproveitada ao máximo
não resta dúvidas, mas o
conceito ideal de
aproveitamento da vida é
que precisa ser
repensado. Aliás, a
própria palavra ideal
somente tem sentido
dentro de contextos. Ou
corremos o risco de nos
tornarmos extremamente
ridículos, ridículos ao
cubo, ridículos de
proporções imensuráveis
de tão ridículos. Pois
não há nada mais
ridículo no nosso mundo
do que acreditar ser o
senhor da verdade, único
e absoluto.
A melhor parte, sem medo
de me tornar ridículo, é
aquela que nos faz
melhores para os
semelhantes. Que nos
torna mais agradáveis
diante das situações
embaraçosas, mas,
principalmente, mais
sábios, mais resistentes
às intempéries da vida,
mais flexíveis ante os
conflitos.
O salário de quem
enfrenta a vida e pode
aproveitá-la, apesar de
tudo. É a paz de chegar,
apesar dos obstáculos,
ou de pelo menos dormir
em paz por ter ao menos
tentado. É a sabedoria
que nem sempre vem em
forma de diplomas ou
bens materiais, mas de
serenidade diante da
dor. Que vem em forma da
consciência de nada
saber, mas também da
confiança em si mesmo.
Que vem em forma da
capacidade de amar. Mas
do amar através do
comportamento e não
somente de palavras ou
sentimentos doentios.
Portanto, essa passagem
curta aqui que rotulamos
de vida representa
grande oportunidade de
aprender nessa ciência
fascinante do amor. O
amor que é uma arte e,
para nos tornarmos
mestres nela,
imprescindível se faz
também saber sofrer.
Escolhamos sempre a
melhor parte.