Continuamos nesta edição o estudo do livro Instruções Práticas sobre as Manifestações Espíritas, obra publicada por Allan Kardec no ano de 1858. As páginas citadas no texto sugerido para leitura referem-se à edição publicada pela Casa Editora O Clarim, com base na tradução feita por Cairbar Schutel.
Questões para debate
A. Existe alguma relação entre o sono e os sonhos?
B. Quantas e quais são as ordens e as classes que compõem a escala espírita, de acordo com o Espiritismo?
C. Quais as características principais de cada uma das ordens que compõem a escala espírita?
Texto para leitura
50. Penas eternas: os Espíritos superiores nos ensinam que só o bem é eterno e que o mal terá um fim. Por isso, combatem a doutrina da eternidade das penas como contrária à ideia que Deus nos dá de sua justiça e de sua bondade. (Vocabulário Espírita, pág. 49.)
51. Penates: deuses domésticos dos Antigos, assim chamados porque se colocavam no lugar mais retirado da casa. Os Lares eram também, como os Penates, deuses ou gênios domésticos, com a diferença que os penates eram, em sua origem, os manes dos antepassados e os lares, gênios benfazejos, protetores das famílias, eram considerados como hereditários, pois que, uma vez ligados a uma família, continuavam a proteger-lhes os descendentes. Os lares protegiam também as cidades, aldeias, ruas e edifícios públicos. (Vocab. Espírita, págs. 49 e 50.)
52. Pítia e pitonisa: sacerdotisa de Apolo Pítio, em Delfos, assim chamada por causa da serpente Pitão, que Apolo havia matado. Pítia dava os oráculos, mas, como eles nem sempre eram inteligíveis, os sacerdotes se encarregavam de interpretá-los segundo as circunstâncias. (Vocab. Espírita, pág. 51.)
53. Politeísmo: religião que admite vários deuses. Entre os Antigos a palavra deus revela a ideia de poder, e todo poder superior ao vulgar era um deus. Assim, até homens que haviam feito grandes coisas se tornavam deuses para eles. (Vocab. Espírita, págs. 52 e 53.)
54. Possesso: originalmente, essa palavra significa aquele no qual um demônio veio alojar-se. A Doutrina Espírita diz que o Espírito unido ao corpo não pode dele ser separado definitivamente senão pela morte e que outro Espírito, portanto, não pode colocar-se em seu lugar nem unir-se ao corpo simultaneamente com ele. Assim, não haveria possessão no sentido absoluto da palavra; há subjugação, isto é, um Espírito imperfeito pode ligar-se ao encarnado, assenhorear-se dele, dominar-lhe o pensamento e obrigá-lo a fazer tal coisa. (Allan Kardec mudou mais tarde de opinião e passou a admitir, sim, a possessão, como vemos no livro A Gênese, cap. XIV, item 47.) (Vocab. Espírita, págs. 53 e 54.)
55. Prece: a prece é uma invocação e, em certos casos, uma evocação, pela qual chamamos a nós um Espírito. Quando é dirigida a Deus, Ele nos envia seus mensageiros, os Bons Espíritos. A prece não pode revogar os decretos da Providência, mas por ela os Bons Espíritos podem vir em nosso auxílio, quer para dar-nos a força moral que nos falta, quer para sugerir-nos os pensamentos necessários: daí vem o alívio que experimentamos quando oramos com fervor, tanto quanto o alívio que experimentam os Espíritos sofredores quando oramos por eles. A razão nos diz, porém, que a prece dos lábios é uma fórmula vã quando dela o coração não toma parte. (Vocab. Espírita, pág. 54.)
56. Provas: vicissitudes da vida corporal pelas quais os Espíritos se purificam segundo a maneira pela qual as suportam. De acordo com a Doutrina Espírita, o Espírito desprendido do corpo, reconhecendo sua imperfeição, escolhe ele próprio, por ato de seu livre-arbítrio, o gênero de provas que julga mais próprio ao seu adiantamento e que sofrerá em sua nova existência. Se escolhe uma prova acima de suas forças, sucumbe e seu adiantamento é retardado. (Vocab. Espírita, págs. 54 e 55.)
57. Psicofonia: transmissão do pensamento dos Espíritos pela voz de um médium falante. (Vocab. Espírita, pág. 55.)
58. Pureza absoluta: estado dos Espíritos da primeira ordem, os puros Espíritos: os que percorreram todos os graus da escala espírita e não têm mais que passar pelas encarnações. (Vocab. Espírita, pág. 55.)
59. Purgatório: lugar de expiação temporária, segundo a Igreja Católica, para as almas que têm ainda que se purificar de algumas manchas. A Igreja não define de um modo preciso o lugar onde se acha o purgatório. Ela o coloca em toda a parte, no espaço, talvez ao nosso lado, e não explica mais claramente a natureza das penas aí sofridas. Ali os sofrimentos seriam mais morais do que físicos, embora haja fogo. O ensino espírita é mais explícito. Rejeitando o dogma da eternidade das penas, admite uma expiação temporária, mais ou menos longa, que não é outra coisa, salvo o nome, senão o purgatório. Essa expiação se realiza pelos sofrimentos morais da alma no estado errante. A Doutrina Espírita diz que o Espírito se purifica, se purga de suas impurezas em suas existências corporais; os sofrimentos e as tribulações da vida são as expiações e as provas pelas quais eles se elevam, de onde resulta que aqui na Terra estamos em pleno purgatório. (Vocab. Espírita, págs. 56 e 57.)
60. Reencarnação: volta dos Espíritos à vida corporal. A reencarnação pode dar-se imediatamente depois da morte, ou após um lapso de tempo mais ou menos longo, durante o qual o Espírito permanece errante. Pode dar-se na Terra ou em outras esferas, mas sempre em um corpo humano, nunca no de um animal. A reencarnação é progressiva ou estacionária; nunca retrógrada. Em suas novas existências corporais o Espírito pode decair em posição social, mas não como Espírito, isto é, de senhor pode nascer servidor, de rico, miserável, mas progredindo sempre em ciência e moralidade. Desse modo, o criminoso pode tornar-se homem de bem, mas o homem de bem não pode tornar-se criminoso. (Vocab. Espírita, págs. 57 e 58.)
61. Religião: no Vocabulário, este verbete ficou em branco. Sabe-se que Kardec, em toda a sua obra, evitou dar o qualificativo de religião ao Espiritismo: ele preferia chamá-lo de ciência ou de doutrina filosófica e moral. Dez anos depois deste livro, contudo, a "Revista Espírita" consignou um discurso feito por Kardec em 1o de novembro de 1868, em que o Codificador responde à pergunta: "O Espiritismo é uma religião?" Sua resposta confirmou o que já se sabia pela própria análise do conteúdo doutrinário da Codificação: "Perfeitamente! Sem dúvida; no sentido filosófico é uma religião, e nós nos ufanamos disso, porque ele é a doutrina que fundamenta os laços da fraternidade e da comunhão, mas sobre as mais sólidas bases: as leis da própria Natureza". E ele explica então por que dissera até ali o contrário: "Se o Espiritismo se dissesse uma religião, o público só veria nele uma nova edição, uma variante, por assim dizer, dos princípios absolutos em matéria de fé, uma casta sacerdotal com seu cortejo de hierarquias, de cerimônias e de privilégios". (Leia sobre o assunto a "Revista Espírita" de dezembro de 1868.). (Vocab. Espírita, Nota da editora, págs. 58 e 59.)
62. Satã, Satanás: o chefe dos demônios. Esta palavra é sinônimo de diabo, com a diferença de que este último vocábulo pertence mais do que o primeiro à linguagem familiar. Além disso, de acordo com essa crença, Satã é único: o gênio do mal, o rival de Deus. Diabo é um termo mais genérico, que se aplica a todos os demônios. Existe, pois, um único Satã (ou Satanás), porém há vários diabos. Segundo a Doutrina Espírita, Satanás não é um ser distinto, pois Deus não tem rival com quem possa medir-se. Satã é a personificação alegórica do mal e de todos os maus Espíritos. (Vocab. Espírita, págs. 59 e 60.)
Respostas às questões propostas
A. Existe alguma relação entre o sono e os sonhos?
Sim. O sonho é um efeito da emancipação da alma durante o sono. Quando os sentidos ficam entorpecidos, os laços que unem o corpo e a alma se afrouxam. Esta, tornando-se mais livre, recupera, em parte, suas faculdades de Espírito e entra mais facilmente em comunicação com os seres do mundo incorpóreo. A recordação que ela conserva, ao despertar, do que viu em outros lugares e em outros mundos, ou em suas existências passadas, constitui o sonho propriamente dito. Sendo esta recordação apenas parcial, quase sempre incompleta e entremeada com recordações da vigília, resultam daí, na sequência dos fatos, soluções de continuidade que lhes rompem a concatenação e produzem esses conjuntos estranhos que parecem sem sentido, pouco mais ou menos como seria a narração à qual se houvessem truncado, aqui e ali, fragmentos de linhas ou de frases. (Vocabulário Espírita, págs. 65 e 66.)
B. Quantas e quais são as ordens e as classes que compõem a escala espírita, de acordo com o Espiritismo?
A escala espírita, que é um quadro das diferentes ordens de Espíritos, indicando os graus que eles têm de percorrer para chegar à perfeição, compreende três ordens principais: 1ª ordem: Espíritos puros; 2ª ordem: bons Espíritos; 3ª ordem: Espíritos imperfeitos. Essas ordens subdividem-se em nove classes caracterizadas pela progressão dos sentimentos morais e das ideias intelectuais. As nove classes são: 1ª classe - Espíritos puros; 2ª classe - Espíritos superiores; 3ª classe - Espíritos sensatos; 4ª classe - Espíritos sábios; 5ª classe - Espíritos benfazejos; 6ª classe - Espíritos neutros; 7ª classe - Espíritos pseudossábios; 8ª classe - Espíritos levianos; 9ª classe - Espíritos impuros. (Na versão definitiva d´O Livro dos Espíritos, publicada em março de 1860, ocorreu uma pequena alteração no tocante às classes que compõem a escala espírita.) (Cap. I, Escala Espírita, págs. 74 a 83.)
C. Quais as características principais de cada uma das ordens que compõem a escala espírita?
Os Espíritos puros, que formam a 1ª ordem, não sofrem nenhuma influência da matéria. Revelam superioridade intelectual e moral absoluta em relação aos Espíritos das outras ordens. Os bons Espíritos, que compõem a 2ª ordem, apresentam predominância do Espírito sobre a matéria. Têm o desejo de praticar o bem. Sua qualificação e poder para realizar o bem estão em proporção ao grau a que chegaram: uns têm a sabedoria e a bondade; os mais adiantados reúnem o saber às qualidades morais. Não sendo ainda completamente desmaterializados, conservam mais ou menos, segundo sua classe, os vestígios da existência corporal, quer na linguagem, quer em seus hábitos. Os Espíritos imperfeitos, que constituem a 3ª ordem, têm como característica a predominância da matéria sobre o espírito e propensão para o mal, a ignorância, o orgulho, o egoísmo e todas as más paixões que são as consequências disso. Nem todos são essencialmente maus; em alguns há mais leviandade, irreflexão e malícia do que verdadeira maldade. Uns não fazem o bem nem o mal; mas só pelo fato de não fazerem o bem, denotam sua inferioridade. Outros, ao contrário, se comprazem no mal e ficam satisfeitos quando encontram ocasião de praticá-lo. (Cap. I, Escala Espírita, págs. 76, 80 e 82.)