Por semelhanças
óbvias com o
repertório
evolutivo de meu
mentor
desencarnado,
autor de nossos
romances
mediúnicos, que
reencarnou, no
contexto de
várias vidas, na
Itália, e, em
muitas dessas,
como militar,
sempre possuí um
fraco pela
antiguidade
romana e, em
decorrência, por
filmes que
ilustram aquele
período
histórico, como
no caso de
Gladiador.
Uma das cenas
mais
significativas
da trama, que
conta a história
de um general
romano vitorioso
em várias
campanhas,
caindo depois na
infelicidade de
desagradar justo
ao príncipe
herdeiro do
trono do
Imperador Marco
Aurélio, mostra
o fim de uma
batalha contra
os germânicos.
E, nela, o
Imperador
pergunta ao
general o que
ele quer como
recompensa pelo
brilhantismo com
que vencera mais
aquele combate
liderando as
tropas; ao que o
militar – avesso
a todo viés
político
melífluo,
próprio
daqueles, e de
todos os tempos
– responde, com
certo ar de
cansaço:
“– Deixe-me ir
para casa?...”
Ao que Marco
Aurélio, com
certa
puerilidade no
semblante sábio,
devolve,
pensativo:
“– Ah!...
Casa...”
O general em
questão era um
personagem
simples de alma,
não obstante a
bravura e
liderança nata
nos campos de
batalha. Possuía
esposa e filho.
Não ambicionava
nada além de
poder retornar à
tranquilidade de
suas colheitas
de trigo e à
vida rural
pacata, após
todos aqueles
extensos anos
mergulhado em
selvageria e
carnificina.
Assim, ao longo
dos anos em que
vi e revi este
filme recordista
de bilheteria e
de prêmios,
nunca pude
deixar de
estabelecer o
paralelo entre a
mensagem secular
transmitida por
esta única cena
com o que temos
ainda hoje,
vicejando no
espírito humano
dos dias atuais.
A incapacidade
da retomada da
simplicidade da
vida, nos
maiores quanto
menores
detalhes. Porque
o consumismo
desenfreado, a
competitividade
selvagem que
grassa em todos
os setores de
atividade,
dentre outras
turbulências de
nossos tempos,
roubaram da
percepção comum
a noção dos
valores
verdadeiros:
aqueles capazes
de reconduzir,
de fato, os
seres ao
reconhecimento
de um estado de
felicidade real,
que prescinde
dessas coisas.
Como fez o
general Maximus,
que não
ambicionava
nenhuma das
ofertas
tentadoras
decorrentes da
vida militar e
política
bem-sucedida de
então, dando-se
por feliz com a
perspectiva da
volta aos
prazeres simples
da sua vida em
família, era de
se perguntar,
hoje em dia,
aonde vem nos
conduzindo nossa
fome voraz por
mais!
Ter mais ou/e
melhor
disso ou
daquilo. Atingir
esta ou aquela
posição
ascendente na
escalada
profissional, a
fim de se ganhar
mais
para, mais
do que a
garantia do
sustento de
vida, já
oneroso, ainda
se poder
esbanjar para
possuir e
adquirir
mais!
Mais e mais
diversificados
lazeres. Ser
mais ou
melhor do
que fulano e
sicrano. Vencer
na disputa
profissional,
aqui ou ali.
Ganhar mais;
ter mais;
ser mais
do que, ou
do que ele,
ou ela, é!...
Mais
belo; mais
rico;
mais capaz;
mais
inteligente;
melhor
posicionado
social ou
profissionalmente;
morar
melhor; ter mais
daquilo,
ou do que ele ou
ela tem...
E nessa escalada
insana, a cada
dia mais cai na
obscuridade tudo
a que de fato se
deveria dar
relevância para
uma vida social
e humana
saudável: os
valores
intrínsecos e
inimitáveis,
inatos,
existentes em
cada um de nós,
tendo em conta
que nenhum ser
no universo é
clonado; o que
já existe,
como fatores
prévios, e hoje
quase totalmente
ignorados, para
uma autêntica
bem-aventurança
e estado de
alegria.
Ouço muito a
respeito do ser
imperioso se
saber viver em
consonância com
as exigências de
nossos tempos, e
que de nada
adianta se
sublimar sobre
isso. Sobre o
ser
contraproducente
romantizar os
dias de hoje, em
regime de
anacronismo,
invocando
fatores fora do
contexto
contemporâneo,
que em nada
contribuiriam
para a conquista
do tão propalado
mundo melhor. E,
então, em nome
da modernidade,
tome consumo!
Tome pressão
sobre nossos
filhos, acerca
da necessidade,
sempre “para
ontem”, de se
atirarem
desesperadamente
aos estudos e ao
mercado de
trabalho, já que
a
competitividade
está imensa, os
países e
mercados de
trabalho em
crise!
A informática
transmuta-se,
neste ínterim, e
simultaneamente,
em instrumento
imprescindível
de auxílio, mas
também de
tortura, na
medida em que
rouba em grande
parte das
pessoas a
imprescindível
convivência olho
no olho, lado a
lado – e assim
esvaem-se, como
névoas, os bons
hábitos dos
bate-papos entre
amigos, diante
de uma mesa
posta com o
aromático café,
ou em parques e
nas praças.
Famílias, desde
os primeiros
minutos dos dias
úteis,
desaparecem
vertiginosamente,
rumo às
obrigações
cotidianas, para
se reencontrarem
à noite esvaídos
de cansaço, e,
não raro,
magnetizados de
imediato pelas
telinhas
alienantes das
tvs e
computadores,
que anestesiam
as mentes
exauridas, mas
não oferecem o
calor humano tão
necessário à
saúde
espiritual.
Tempos atrás,
meu filho mais
velho renteava
os dezoito anos,
e requisitava-se
a obrigação
cívica do seu
comparecimento
ao alistamento
militar. Não
serei hipócrita
para mentir que
não me senti
aliviada quando
cumpriu-se minha
expectativa de
vê-lo isentado
do fardo, já
que, rapazinho
intelectualizado,
tímido, e, na
época, consumido
pela ansiedade
crônica do
vestibular e do
fim do nível
médio, nunca
havia feito, nem
fará o perfil
ogro ou
assertivo, que
dota o homem do
dom das
lideranças ou
dos patamares
hierárquicos das
casernas. Mesmo
sob os
argumentos
ocasionais de
conhecidos ou
parentes, que
alegaram ser
necessário este
estágio na
formação da vida
de um homem,
para auxiliá-lo
a criar couraça
diante das
adversidades.
Mas não é do
desconhecimento
de ninguém o que
vige na
intimidade
diária das
práticas da vida
militar.
Recordo-me
daqueles outros
pais e mães,
que, junto
comigo,
aguardavam
ansiosos o
desfecho do
alistamento dos
rapazes, a quem
acompanhavam. Um
deles
apontara-me, ao
acaso, um jovem
a distância,
fardado, com
espécie de
estranha “mossa”
na parte lateral
da cabeça, como
se houvesse
tomado uma
violenta bolada,
que lhe afundara
o crânio naquela
região afetada
pelo aspecto
lúgubre de um
hematoma. Mas
não fora
“bolada” –
contara-me a
pessoa em
questão,
revoltada. O
rapaz cometera
um tipo qualquer
de
insubordinação
banal no
quartel, e
tomara um tiro
de bala de
borracha na
cabeça. Fora
aquela, a
punição recebida
pelo
comportamento
irregular! E foi
deste modo,
portanto, que
confirmei como
mais válida a
minha convicção,
amigos leitores,
de que a
humanidade não é
formada de
clones! De que
cada ser
existente na
Criação é joia
valiosa em sua
manifestação
exclusiva de
valores – em
razão do que,
afunda o mundo
atual nos
horrores das
guerras, da
intolerância,
dos preconceitos
e banalização do
valor intrínseco
da vida, por
força da
teimosia secular
em se querer
confinar o
indivíduo nos
“moldes”
pré-estabelecidos,
que atendam não
às vocações
inatas ou à
ânsia genuína de
felicidade e
bem-estar de
todos – mas aos
objetivos
superficiais e
transitórios da
hora que passa,
que requerem uma
massa de manobra
bem treinada
para atender aos
propósitos por
vezes
inclementes das
engrenagens
frias dos
investimentos de
interesses de
categorias,
classes, lóbis e
instituições
políticas e
sociais.
A solução, no
entanto, caros,
pode estar
fora do quadrado!
Assim como meu
filho mais velho
jamais seria
vocacionado para
aspirante a uma
carreira militar
que pauta seu
treinamento de
disciplina por
tiros de balas
de borracha em
jovens
insubordinados
por este ou por
aquele motivo, o
general Maximus,
em Gladiador,
queria ser
recompensado,
simplesmente,
com a
autorização de
ir para casa –
de volta para os
seus campos
cultivados e sua
família, após o
exercício do
dever
profissional bem
cumprido.
Naquele outro
contexto, deste
modo, tenho
certeza de que
meu filho possui
seu talento
próprio, e pode
criar couraça
por outras vias,
que não as
regras
opressoras
muitas vezes
recorrentes nas
casernas
militares. Pois
outras tantas
contingências
semelhantes já
surgem
naturalmente, na
passagem rápida
das horas, e são
por si
suficientes para
conduzir
qualquer ser
humano a cobrar
valor, por
intermédio das
lições oportunas
do decorrer do
tempo.
A humanidade
anda
necessitada, e
isso sim, de
mais campos
verdejantes; de
mais conversas
jogadas fora nas
casas, parques,
varandas e
apartamentos,
sobre abobrinhas
e piadas. De
menos tensão e
preocupação
obsessiva com
datas comerciais
implacáveis que
nos impõe quase
semanalmente o
consumo; com
contas a pagar,
obrigações
múltiplas,
competitividade,
com poder
temporal e
ter...
Porque não há
nada que
proporcione
maior bem-estar
espiritual do
que se parar,
com a mente
vazia, para
contemplar um
pôr do sol de
primavera, uma
árvore florida,
ou o ir e vir do
mar. Nada mais
saudável do que
se ouvir uma
música alegre,
ou serena, ao
sabor do
momento; do que
o abraço sincero
de um amigo, ou
o silêncio
cúmplice de
alguém que lhe
diz um “eu te
compreendo”, num
momento de
dor...
Afinal, pensem:
nada é mais
reconfortante do
que aqueles,
hoje em dia,
raros momentos
em noites de
tempestade. Com
o ruído da chuva
lá fora em meio
à ventania –
quando a energia
elétrica,
eventualmente,
vai embora, para
só voltar no dia
seguinte, ou
várias horas
depois –
obrigando a que
nos descubramos
de novo; nos
olhemos nos
olhos uns dos
outros, nos
interiores das
florestas
infindáveis de
prédios urbanos,
para que nesses
instantes – quem
sabe? –
retomemos, nem
que apenas
temporariamente,
o antigo hábito
de se contar as
estórias de
mistério que
costumavam
enfeitar as
mentes das
crianças com
encanto e magia.