O
labor espírita e
o problema da
especulação
Em seu primeiro
discurso
pronunciado nas
reuniões gerais
dos espíritas de
Lyon e Bordeaux,
Allan Kardec
advertiu os
confrades para
um problema que
então grassava
em algumas
instituições
espíritas: a
especulação. De
início, teceu
considerações
acerca da
especulação
material, uma
vez que alguns
grupos estavam
cobrando entrada
das pessoas que
assistiam às
sessões.
Ademais,
mencionou outro
tipo de
especulação, que
chamou de
especulação
moral. É
dizer: “a
satisfação do
orgulho, do amor
próprio (sic). É
o caso dos que
acreditam,
sem interesse
pecuniário,
fazer do
Espiritismo um
pedestal
honorífico para
se colocarem em
evidência”
(grifos nossos).
E, atualmente,
isto ocorre
porque, não
raras vezes,
alguns de nós,
lidadores
espíritas,
transferimos
nossas ambições
relativas às
coisas materiais
para as coisas
divinas.
Desta forma,
frequentemente
imaginamos que,
na tarefa que
abraçamos, somos
insubstituíveis,
e que somente
nós temos
condições de
executá-la.
Sucede que
raciocinamos
como se fôssemos
um corpo que
possui um
Espírito e não
um Espírito
temporariamente
vestido de
um corpo de
carne.
Outrossim, esta
perspectiva faz
com que nos
apeguemos a nós
mesmos,
inclusive aos
próprios cargos.
Alargando a
conceituação,
temos a questão
895 d’O Livro
dos Espíritos,
que nos auxilia
na compreensão
do tema em
apreço:
895. À parte os
defeitos e os
vícios sobre os
quais ninguém se
enganaria, qual
é o indício da
imperfeição?
O interesse
pessoal.
As qualidades
morais são
geralmente como
a douração de um
objeto de cobre,
que não resiste
à pedra de
toque. Um homem
pode possuir
qualidades reais
que o fazem para
o mundo um homem
de bem; mas
essas
qualidades,
embora
representem um
progresso, não
suportam em
geral a certas
provas e
basta ferir a
tecla do
interesse
pessoal para se
descobrir o
fundo. O
verdadeiro
desinteresse é
de fato tão raro
na Terra que se
pode admirá-lo
como a um
fenômeno, quando
ele se
apresenta. O
apego às coisas
materiais é um
indício notório
de
inferioridade,
pois quanto mais
o homem se apega
aos bens deste
mundo, menos
compreende o seu
destino. Pelo
desinteresse, ao
contrário, ele
prova que vê o
futuro de um
ponto de vista
mais elevado.
(grifos nossos)
Passemos, agora,
à conceituação
de desinteresse
material e
desinteresse
moral. Kardec
entendeu por
desinteresse
moral a
abnegação, a
humildade, a
ausência de toda
a pretensão
orgulhosa, de
todo o
pensamento
personalista
colocados a
serviço da
doutrina. No que
tange ao
desinteresse
material, a
expressão é
autoconceitual,
consistente,
pela obviedade,
na ausência de
todo desejo de
retribuição
pecuniária.
Asseverou o
Codificador,
noutra
oportunidade,
que o
desinteresse
material é
improfícuo se
não for
acompanhado pelo
mais completo
desinteresse
moral.
Em nossas
atividades
doutrinárias
será oportuno,
portanto,
indagarmos a nós
mesmos sobre o
móvel de nossas
ações. Até que
ponto não
estamos sendo
movidos pela
especulação
moral,
sobretudo, pois
a material, nos
dias de hoje, é
mais rara, ou
pela presunção?
Perguntemos à
nossa
consciência e
ela nos
responderá.
Viagem
Espírita
em 1862,
p. 48.