Uma leitora de nossa revista
pergunta-nos se existem na
literatura espírita exemplos
de intercâmbio mediúnico
entre nós e Espíritos que
ostentem na vida espiritual
a forma infantil.
Já nos reportamos neste
mesmo espaço a esse tema.
Pessoalmente, já
participamos de inúmeras
sessões em que Espíritos de
crianças se manifestaram.
É óbvio que em casos assim,
excluída a possibilidade de
mistificação, podem ocorrer
duas situações.
A primeira é a comunicação
de Espíritos que se fazem
crianças para poderem, com a
linguagem própria da
criança, atingir com maior
facilidade as pessoas a quem
se dirigem. É tal qual se dá
nas comunicações dos
chamados pretos-velhos
que, mesmo tendo tido outras
experiências antes e depois,
preferem manifestar-se numa
forma em que seu modo de
falar, simples e
aparentemente ingênuo, toca
mais profundamente as
pessoas.
A segunda situação é a
comunicação de Espíritos que
ainda conservam no plano
espiritual a forma infantil,
fato mencionado por diversos
autores, como Cairbar
Schutel (A Vida no Outro
Mundo), Irmão Jacob
(Voltei), André Luiz
(Entre a Terra e o Céu),
Emmanuel (Crianças no
Além), Cláudia Pinheiro
Galasse (Escola no Além)
e o próprio Codificador do
Espiritismo (Revista
Espírita de janeiro de 1859).
Como exemplo da segunda
situação podemos mencionar a
mensagem assinada pelo jovem
Marcos Hideo Hayashi,
psicografada pelo médium
Francisco Cândido Xavier no
dia 12 de dezembro de 1975,
10 meses após o seu
falecimento, ocasião em que
Marcos contava apenas 12
anos. No acidente que o
vitimou, também faleceram
seus irmãos João Batista e
Sheila, com 11 e 7 anos,
respectivamente.
A mensagem de Marcos,
adiante transcrita, faz
parte do livro Crianças
no Além:
Minha querida Mamãe, meu
querido Papai.
Estou obedecendo ao meu avô
Joaquim, que me trouxe para
escrever.
Peço para que me abençoem.
Querida Mamãe, a senhora
pede notícias e rogou tanto,
mas tanto, perante as
orações, que me vejo aqui
para trazer a esperança ao
seu coração e fortalecer em
meu pai a confiança na vida.
Não sei como fazer isso
direito: escrever falando o
que se passa. Meu avô está
me auxiliando, mas, por
dentro de mim, estou como
quem traz o pensamento
tropeçando na vontade de
chorar.
É preciso ser forte e ser um
homem para receber um
compromisso desses.
Papai sempre nos ensinou que
devemos ser valorosos com a
luz da coragem na frente de
nossos passos, mas é tanta
dor para vencer, querida
Mamãe, que eu não tenho
forças para remover a
situação.
Meu avô diz que não devo
procurar desculpas e sim
tomar o assunto sem mais
demora. Por isso, quero
dizer a você, Mãezinha, para
confiar em Deus e na vida.
Papai é calado e tantas
vezes sem manifestações
iguais às nossas, mas para
ele também estou garatujando
esta carta.
Rogo a vocês para não se
deixarem dominar pelo
sofrimento, embora este
conselho deva ser ditado
para mim mesmo.
Estamos assim como num
telefone direto, em que o
fio do lápis vai formando as
minhas palavras, sem que eu
possa receber as palavras de
meus pais queridos, ao mesmo
tempo.
Sei tudo o que tem
acontecido. Sei, Mãezinha,
que a senhora, está sendo
considerada uma pessoa em
perturbação mental. Mas nós
entendemos daqui as suas
aflições. Três filhos
esmagados quase ao chegarem
em casa... E a nossa
separação de repente.
Isso transtornaria o cérebro
de um gigante, quanto mais
os nossos corações sempre
ligados pelo carinho.
Desde que acordei aqui, ouço
os seus gritos do coração,
suas palavras que não são
faladas, suas preces de
aflição no silêncio e suas
lágrimas que aí na Terra
ninguém vê... Mas peço à
senhora, em nome da nossa
Sheilinha, do João Batista e
em meu nome, para viver e
viver com fé em nosso
reencontro.
Mamãe, se não fosse a falta
que a gente experimenta de
casa, se não fosse a voz da
senhora e do papai por
dentro de mim, eu diria que
tudo está bem. Mas posso
dizer agora que tudo
melhorará, quando melhorarem
na paciência e na confiança.
Estamos num parque de
crianças que vieram para cá
apressadamente. Temos
tratamentos, exercícios,
lições e muito carinho.
Muitos meninos já crescidos
ajudam os menores e são
auxiliares de enfermeiras
queridas que nos amparam,
como sendo filhos do
coração.
Temos repouso, mas o repouso
é atravessado pelas
recordações que se fazem tão
vivas como se fossem
relâmpagos coloridos e
parados em nossas
lembranças.
Nessas telas da alma, vemos
o que se passa à distância
e, além disso, suas vozes,
Mãezinha, nos alcançam por
todos os meios.
Peço a você - a você que é
nosso querido anjo da guarda
- entregar a Deus os
acontecimentos de fevereiro.
Não chore mais com desânimo
e aflição.
A senhora, sempre carinhosa
e sempre imensamente boa
para nós, não choraria mais
com tanta angústia se visse
a nossa querida Sheila cair
de aflição, querendo ir ao
seu encontro sem poder...
Ajude-nos, querida Mamãe.
Aqui temos muita gente
dedicada ao bem.
A Irmã Luiza nos abençoa -
benfeitora que não conheci -
e um santo a quem devemos
chamar por Irmão Ukuru nos
cerca de muito amor, quase
todos os dias. O tio Diogo e
o avô Joaquim são
companheiros que tudo fazem
por nosso auxílio. De tia
Maria nada sei. Pergunto por
ela, mas recebo apenas a
notícia de que ela vai bem.
De certo modo ainda não
estou muito em mim.
Se tivesse de retomar os
estudos aí em casa, creio
que não seria possível.
Tenho a cabeça assim aflita,
como quem não saiu de um
susto muito grande e não
posso lembrar com muita
insistência aquela Veraneio
e nem a nossa casa em Perus,
porque me sobe uma emoção ao
cérebro que dá para tontear;
mas o avô Joaquim me diz que
tudo vai melhorar quando a
senhora e papai estiverem
mais fortes.
Nós estamos todos unidos sem
que eu saiba como é isso. O
pensamento é uma força, mas
não sei ainda explicar o que
sinto.
Mamãe, não fique parando o
olhar em nossas lembranças.
Tudo o que foi nosso – de
nós três – dê a outras
crianças em nosso nome.
Ficará para nós o coração
inteirinho, porque a
senhora, papai, João
Batista, Sheila e eu não nos
separamos.
Peça energias para nós nas
preces do seu carinho de
sempre.
Mamãe, as lágrimas são
forças de Deus em nossa
vida, e por isso, nenhum de
nós está livre de chorar,
mas as nossas lágrimas devem
ser orações de gratidão e
amor, paz e fé.
Um dia estaremos todos
juntos, mas não deseje vir
para cá como quem força a
entrada de uma casa
desconhecida.
Pouco a pouco, entenderemos
as razões de tudo o que
sucedeu. Rogamos para que a
ninguém seja atribuída
qualquer culpa pelo
acidente. O veículo poderia
estar sendo guiado por nós.
Ninguém cria problemas de
trânsito por vontade
própria, como no caso em que
nos vimos.
Mamãe, queremos a paz de
todos.
Ajudem, a senhora e meu pai,
a termos paz.
Não se queixem. Vamos
cultivar a saudade na igreja
do amor ao próximo.
Temos tantos irmãos nas
calçadas e nas ruas, pedindo
auxílio! Sejam eles, filhos
também de seu coração.
Aqui, muitos pais de meninos
desamparados oram conosco
pelos filhos que sofrem no
mundo, mas eu sei que a
senhora e meu pai serão
auxílio e bênção para esses
meninos, filhos de tantos
amigos bons que nos amparam
aqui.
Não posso continuar.
Mamãe, abençoe os filhos que
somos nós aqui, sem você,
mas contando sempre com a
senhora para ficar mais
fortes. Deus nos auxiliará.
Hoje, tenho mais fé.
Em nome dos irmãos e em meu
nome, deixo a vocês, em
casa, o nosso beijo de
respeito e de amor. E
recebam, com o abraço do avô
Joaquim, todo o coração do
filho, sempre filho
reconhecido. (Marcos)
Finalizando, lembramos ao
leitor o interessante caso
que Allan Kardec intitulou
“O Fantasma de Bayonne”,
constante da Revista
Espírita de janeiro de 1859,
em que são relatadas as
manifestações de uma criança
desencarnada, registradas na
residência de uma família de
Bayonne, cidade localizada
no Sul da França, perto da
fronteira com a Espanha.
Para aclarar os fatos,
Kardec evocou o autor
espiritual das
manifestações, o qual, ao
aparecer na Sociedade
Espírita de Paris, foi visto
com os traços de uma criança
entre 10 e 12 anos de idade,
cabelos negros e ondulados,
tez pálida, olhos negros e
vivos, traços esses que
coincidiam com os que foram
descritos pela irmã do jovem
desencarnado quando de suas
aparições.
No diálogo com Kardec, o
Espírito confirmou ser o
irmão daquela jovem, que
havia desencarnado na idade
de 4 anos.
O interessado em se inteirar
de todos os pormenores desse
caso pode fazê-lo acessando
na internet o texto da
Revista Espírita de 1859.
Eis o link:
http://goo.gl/764b8v
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