Muitos leitores se
assustaram quando leram,
dias atrás, numa conhecida
rede social, um comentário
feito por um companheiro de
lides espíritas a respeito
de Emmanuel, mentor
espiritual da obra mediúnica
de Chico Xavier. No
comentário, o confrade
declarou que Emmanuel é um
“padre jesuíta, membro de
uma falange inimiga de
Kardec, que se fantasiou de
Entidades em nosso meio para
acabar com ele”.
O susto dos leitores se
justifica plenamente, em
face da importância que teve
Emmanuel na obra do maior
médium brasileiro, que é
querido e respeitado por
espíritas e não espíritas, e
até mesmo pelos adversários
do Espiritismo.
No cap. 23 do livro
Diálogo dos Vivos, obra
publicada em 1974, de
autoria de Francisco Cândido
Xavier, J. Herculano Pires e
Espíritos diversos, Chico
Xavier assim escreveu:
“Lembro-me de que, num dos
primeiros contatos comigo,
Emmanuel me preveniu de que
pretendia trabalhar ao meu
lado por longo tempo, mas
que eu deveria, acima de
tudo, procurar os
ensinamentos de Jesus e as
lições de Allan Kardec.
E disse mais. Que se um dia
ele, Emmanuel, me
aconselhasse algo que não
estivesse de acordo com as
palavras de Jesus e Kardec,
eu devia permanecer com
Jesus e Kardec e procurar
esquecê-lo.”
Emmanuel foi, como todos
sabemos, na época em que
Jesus esteve entre nós, o
senador Publius Lentulus e,
mais recentemente, no início
da colonização do Brasil,
padre Manuel da Nóbrega – o
tal padre jesuíta mencionado
pelo crítico –, ao qual
Cneius Lucius dedicou a
mensagem intitulada
“Emmanuel e Nóbrega”,
publicada no livro
Diálogo dos Vivos, no
mesmo capítulo 23, acima
mencionado.
Eis a mensagem:
“Amparado pelo Apóstolo dos
Gentios, conseguiu Publius
Lentulus transitar nas
avenidas escuras da carne,
em existências várias, até
encontrar uma posição em que
pudesse servir ao Divino
Mestre com o valor e o
heroísmo daquela que lhe
fora companheira no início
da Era Cristã. E assim temos
em Manuel da Nóbrega o homem
de raciocínio elevado,
entregue a si mesmo em plena
selva, onde tudo estava por
fazer.
Noutro tempo, os livros
prontos e as tribunas
construídas, os direitos de
família pré-estabelecidos e
o dinheiro fácil, a
sociedade constituída e o
pedestal do poder para
brilhar. Aqui, porém, eram a
improvisação necessária e o
deserto, as inibições do
corpo deficiente que lhe
apagavam a voz de tribuno, a
insolência do selvagem
recordando as feras do
circo, à frente do qual
devia imolar-se, consumindo
as próprias forças para
dar-lhe uma vida nova.
Surgiram ainda a devassidão
e o crime, a ignorância e a
audácia, os perigos mil que
o hábil político
transformado em missionário
deveria vencer, exibindo não
mais a toga do poder e as
armas de seus guardas
pessoais, e sim o sinal da
cruz, sem mais ninguém que
não fosse a sua pertinácia
nos compromissos assumidos.
Entretanto, superou os
óbices de toda espécie,
lutou, sofreu e venceu,
esculpindo com os poderes da
ideia cristianizada um povo
diferente e um novo mundo
dentro do mundo.
Nóbrega podia ter vivido
isolado no seu tempo.
Contudo, desde cedo
agregaram-se a ele multidões
de amigos, exaustos de
mando, de poder e dominação.
E a teia dos destinos vai
convertendo em trabalho para
a coletividade tudo o que
era cristalização do eu, em
luz quando era sombra, em
liberdade espiritual o que
era cárcere físico.
Da rocha surge o diamante,
no curso dos milênios.
Também a luz divina fluirá
de nós um dia, quando a
escória estiver abandonada
no carvão que servirá de
berço a outros diamantes no
curso longo e paciente das
eras.
O serviço do nosso amigo
está longe de acabar. É
preciso criar espírito para
o gigante – costuma ele
dizer. O gigante é a terra
em que hoje nos situamos e o
espírito é a luz com que
devemos continuar erguendo
os padrões de fraternidade
mais alta e de mais avançado
serviço com Jesus, no Brasil
todo.
Prossigamos marchando à
frente! Anos e dias
correrão. Estejamos certos
da brevidade de tudo o que
se movimenta sobre a terra,
para agirmos com segurança e
paciência. Para construir é
preciso lutar. E para colher
é indispensável haver
semeado.”
José Herculano Pires
comentou a mensagem acima em
um texto publicado na mesma
obra, com o título “A
conversão do gentio”:
“Dura foi a luta pela
conversão do gentio. Tão
dura que nunca chegou à
conclusão desejada. Nóbrega,
Anchieta e seus companheiros
de catequese tiveram de
enfrentar uma guerra sem
tréguas. Nossos índios eram
os mais selvagens da
América. Sua civilização
primitiva não oferecia
pontos de contato com a
civilização elevada que os
jesuítas traziam da Europa.
Nóbrega relata, em seu livro
Diálogo da Conversão do
Gentio, as dificuldades
insuperáveis com que se
defrontavam os padres
catequistas. Esse livro
marca o início da nossa
literatura, no século XVI, e
anuncia de maneira simbólica
o prosseguimento da
catequese de Nóbrega no
futuro, através do livro
psicografado.
Paulo exerceu o apostolado
dos gentios para o
Cristianismo. Nóbrega foi o
Apóstolo dos Gentios no
Brasil nascente, preparando
o terreno para o seu
apostolado espírita do
futuro.
Paulo encarna a transição
histórica do Judaísmo para o
Cristianismo. E com a sua
teoria do corpo espiritual,
a que chama de corpo da
ressurreição, na I Epístola
aos Coríntios, profetiza o
advento do Espiritismo.
Nóbrega marca a transição do
Cristianismo medieval para o
Cristianismo Redivivo da III
Revelação, sob a égide do
Espírito da Verdade.
‘Tudo se encadeia no
Universo’, ensina O Livro
dos Espíritos. E a
relação espiritual e
histórica entre Paulo e
Nóbrega, revelada pela
mensagem de Cneius Lucius,
dá-nos o exemplo vivo desse
encadeamento no campo
religioso. Por isso a cidade
de São Paulo, fundada por
Nóbrega, tem o nome do
apóstolo cristão. As malhas
da evolução espiritual,
tecidas no tempo, mostram o
desenvolvimento do
Cristianismo em suas três
fases culturais e
históricas, sem solução de
continuidade.
A mensagem de Cneius Lucius
foi recebida por Chico
Xavier, em Pedro Leopoldo, a
3 de agosto de 1949.
Transcrevemo-la hoje por sua
oportunidade, nas
comemorações de mais um
aniversário da Fundação de
São Paulo. (O autor
refere-se aqui ao 420.º
aniversário da Capital
Paulista, a 25 de janeiro.)
Mensagem circunstancial,
dada a um pequeno grupo de
estudiosos, reduzimo-la aos
pontos essenciais que
revelam as ligações
históricas. As dificuldades
insuperáveis da conversão do
gentio confirmam-se em
nossos dias com a eclosão
das formas de sincretismo
religioso afro-brasileiro,
em que as crenças indígenas
e africanas sobrevivem ao
nosso redor.
A conversão do gentio
prossegue em pleno século
XX. As crenças indígenas e
africanas misturaram-se às
práticas do Cristianismo. A
ignorância popular,
geralmente secundada pela
ignorância-ilustrada,
confunde Espiritismo com
Umbanda e Candomblé.
Publicam-se livros e
realizam-se cursos sobre
religiões mediúnicas,
misturando a Revelação do
Espírito da Verdade com
danças selvagens, despachos
e defumações. Mas Nóbrega
prossegue infatigável na
catequese evangélica, agora
através da psicografia,
preparando o triunfo da
verdade cristã em benefício
de todos.”
Quem puder ler o livro
Testemunhos de Chico Xavier,
escrito por Suely Caldas
Schubert, verá, escritos
pelo próprio Chico,
depoimentos importantes
sobre o papel que Emmanuel
exerceu em sua vida e em sua
obra.
No capítulo intitulado “Aula
de Emmanuel sobre os
Evangelhos”, a autora
transcreve parte de
entrevista que o médium
concedeu a Elias Barbosa
quando se comemoravam 40
anos de suas atividades
mediúnicas:
“P — Você se reconhece
pessoa inteligente, talvez
genial como entendem muitos
adversários da Doutrina
Espírita, sempre
interessados em desacreditar
o fenômeno mediúnico?
R — Não. Nunca me senti
assim. Basta lembrar que fui
aluno repetente de quarto
ano primário no Grupo
Escolar São José, em Pedro
Leopoldo, nos anos de 1922 e
1923.
P — Mas, você se reconhece
atualmente dispondo de mais
facilidade para falar ou
escrever?
R — Sim, não posso esquecer
que debaixo da disciplina de
Emmanuel, que, por
misericórdia de Jesus, me
dispensa atenções constantes
de um professor (não por
mim, mas pela obra do Mundo
Espiritual), estou numa
escola constante, desde
1931, portanto, há trinta e
seis anos consecutivos.
Algum proveito de tantas
bênçãos recebidas devo
demonstrar.”
Mais adiante, no capítulo
intitulado “Desdobramento”,
a autora transcreve outra
carta de Chico Xavier,
escrita em 14/3/1958, na
qual o médium dá o seguinte
depoimento:
“Ultimamente, estou
frequentando, fora do corpo
físico, uma noite por
semana, uma Escola do Espaço
em que o nosso abnegado
Emmanuel é professor de
Doutrina Espírita. Confesso
que é uma experiência
maravilhosa. Estou
aprendendo o que nunca
pensei em aprender e tenho
conservado a lembrança do
que vejo, com o auxílio dos
Amigos do Alto.”
Vimos até aqui algo sobre
Emmanuel-professor,
Emmanuel-orientador.
No tocante ao
Emmanuel-escritor, é bom que
todos saibam que em 2000 a
Organizações Candeia
organizaram uma interessante
pesquisa com vistas a eleger
os dez melhores livros
espíritas publicados no
século 20.
Participaram da pesquisa
editores, escritores,
presidentes de federativas
espíritas e dirigentes
espíritas em geral. Dos dez
livros considerados os
melhores do século, sete
foram psicografados por
Chico Xavier: Parnaso de
Além-Túmulo, três livros
de André Luiz e três de
Emmanuel – Paulo e
Estêvão, A Caminho da
Luz e Há dois mil
anos, como o leitor pode
conferir acessando na
internet o texto intitulado
“Os melhores livros
espíritas do século 20”. Eis
o link:
http://www.oconsolador.com.br/ano4/171/especial2.html
Sobre Emmanuel,
lembramos, por fim, a
apreciação que dele fazia
José Herculano Pires, o
autor espírita mais aclamado
e respeitado de nosso país,
considerado, aliás, segundo
entendimento de Chico
Xavier, “o metro que melhor
mediu Kardec”. Eis o link:
https://www.youtube.com/watch?v=6you07jnkpo
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