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Crônicas e Artigos

Ano 9 - N° 453 - 21 de Fevereiro de 2016

MARCUS VINICIUS DE AZEVEDO BRAGA
acervobraga@gmail.com
Rio de Janeiro, RJ (Brasil)

 


O bem, lento e gradual


Robert Stephenson Smyth Baden
-Powell, o criador do escotismo, uma forma de educação de jovens com a adoção de um código moral e que valoriza o contato com a natureza, indicava aos seus praticantes a realização de uma boa ação diária, pelo menos.

Um singelo mecanismo de incentivo a prática cotidiana do altruísmo, do desenvolvimento de um senso de perceber a necessidade do nosso próximo e se colocar ali, ao feitio do bom samaritano da parábola, se disciplinando a cada dia.

O filme “A corrente do bem”, de 2000, dirigido por Mimi Leder e tendo como protagonistas Kevin Spacey, Haley Joel Osment e Helen Hunt, narra a história de um professor que desafia seus alunos a criar algo que possa mudar o mundo, e um deles, de forma simples e surpreendente, cria um novo jogo, chamado “Passe para frente”, no qual a cada benesse recebida, você retribua a três outras pessoas.

Outro singelo mecanismo que sistematiza a prática do bem, garantindo que ela se expanda no cotidiano e, como proposto pelo professor, realmente mude o mundo. Mais um exemplo de que o bem surge na mente e no coração, mas se realiza no mundo concreto e que precisamos realmente sistematizar para adquirir uma cultura do bem, na ideia exposta pelo Espírito André Luiz no início da obra Nosso Lar, que a “disciplina antecede a espontaneidade”.

Esses exemplos trazem uma reflexão sobre a prática do bem, tema central do presente artigo. O bem não se mede por bolsas distribuídas ou, ainda, pelo valor investido, e sim pelo avanço espiritual que a interação no bem nos traz. Entretanto, isso não inibe a necessidade de artifícios didáticos que nos ajudem a ajustar-nos à senda do bem, de forma cotidiana.

Esforços por uma boa ação por dia, passar para a frente o bem recebido, fazer ao outro o que desejamos a nós mesmos, pequenos exercícios que fazem o nosso coração se movimentar, cedendo o homem velho e dando espaço à angelitude desejada.

Somente assim o amor sai do discurso para a prática, reino das dores e necessidades. Não adianta postar nas redes sociais flores e rosas e, ao passar na rua, diante de uma iniquidade, nos calarmos. A encarnação se faz nos desafios reais de cada dia e precisamos, em doses homeopáticas, nos exercitarmos para, a cada “aula” reencarnatória, avançarmos como Espíritos.

O amor é uma arte que se aprende e que se aprimora. Razão maior de nossa existência na Terra, o aprendizado do amor se constrói de pequenas lições. Na sua obra seminal, “A arte de amar”, o escritor Erich Fromm aponta que o amor exige prática, concentração e maturidade e que ele não ocorre por acidente, e sim pelo esforço que fazemos ao longo da existência.

A cada dia da presente encarnação cursamos uma aula da vida, entre provas e exercícios, que nos levam a crescer, fazendo e refazendo, aprofundando-se no amor. Pequenas atitudes no cotidiano, lenta e gradualmente, constroem edifícios de amor e espiritualidade, modificando nossas heranças, empedernidas de outras vidas com pouco amor.

Mudar sempre é preciso, mas a natureza não dá saltos, com milagres e arroubos. No sacrifício, às vezes silencioso, crescemos e nos tornamos diferentes, pois é essa fé que Deus coloca em nós, quando nos permite mais uma encarnação.

 

 


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 Revista Semanal de Divulgação Espírita