Dor secreta
Celso Martins
Essa mesma mulher que, à
luz da branca lua,
ao festivo bordel tantos
homens convida,
exibindo, lasciva, a
própria carne nua –
terrível dor possui que
lhe corrói a vida.
Quem a vê a sorrir,
fumando, assim vestida
neste torpe viver, onde
só se cultua
o gozo sensual, não
calcula a medida
de seu tredo amargor e
da tragédia sua.
Ela já foi feliz e muito
amou também.
Já foi pura e sonhou ter
um lar, ser de alguém,
e agora, amargurada, a
devassos se entrega.
Menosprezada aqui, ali
vista de lado,
arrasta como cruz por
doloroso fardo
ter de dar de comer à
linda filha, cega...
Do livro Cantos e
Contos, publicado
pelo Instituto Maria,
Juiz de Fora, MG.