Em mensagem enviada a esta
revista no dia 12 de
fevereiro e publicada na
seção de Cartas desta mesma
edição, a leitora Jurema
Munhoz, de São Paulo (SP),
pede-nos que comentemos o
conceito de sacrifício, à
luz da doutrina espírita. Na
carta ela faz referência
também a alguns sacrifícios
que, embora seja espírita,
vem fazendo durante o
período da chamada Quaresma.
Para os não afeitos à
liturgia católica, lembramos
que a Quaresma faz parte do
ano litúrgico e compreende
os 40 dias que vão da
quarta-feira de cinzas até o
domingo de Páscoa, período
esse que deve ser destinado,
por católicos e ortodoxos, à
penitência. É aí, então, que
dentro da penitência surge a
ideia da realização de
sacrifícios.
O vocábulo sacrifício tem,
conforme a etimologia, o
sentido de se “fazer alguma
coisa sagrada”. Em seu
sentido primitivo e
unicamente religioso,
representa uma oferenda que
se faz à Divindade por meio
de rituais. A oferenda pode
ser representada por uma
pessoa, por um animal ou
ainda por produtos de origem
vegetal ou outros objetos.
O propósito declarado do
sacrifício varia muito entre
as diferentes culturas. Por
extensão, pode ele ser
considerado como uma
renúncia ou privação
voluntária de alguma coisa,
como a privação dos gozos
inúteis, que a doutrina
espírita considera ato
meritório, porque desprende
da matéria o homem e eleva
sua alma.
Resistir à tentação que
arrasta ao excesso ou ao
gozo das coisas inúteis,
tirar do que temos para dar
aos que carecem do bastante,
fazer o bem aos nossos
semelhantes – eis algumas
práticas que apresentam
grande mérito dentro do rol
das chamadas privações
voluntárias.
A realização de sacrifícios
religiosos está geralmente
relacionada com as
mortificações e as
penitências. O verbo
mortificar é sinônimo de
afligir, atormentar,
castigar, macerar o próprio
corpo com penitências. A
mortificação ocorreria
devido ao arrependimento ou
à dor resultante do pecado
cometido.
Em função do arrependimento,
certas autoridades
religiosas impõem uma pena
ao arrependido para remissão
de seus pecados, pena essa
representada por jejuns,
orações, macerações do corpo
e outras tantas
mortificações inerentes às
manifestações de culto
externo.
Em seu livro “Elucidações
Evangélicas”, Sayão examina
o assunto “penitência” e diz
que essa prática é, segundo
algumas religiões,
necessária ao pecador que
não deseja agravar sua culpa
e tornar-se, por
conseguinte, passível de
maiores castigos.
A penitência, tal como a
entendia Jesus, não
consiste, porém, na reclusão
em claustros, nos cilícios e
em outras tribulações
materiais. Ela consiste no
arrependimento sincero e
profundo e no propósito
firme em que a criatura se
coloca de não tornar a
cometer as faltas que a
arrastaram à mísera condição
humana e esforçar-se por
repará-las.
O Espírito penitente –
afirma Sayão – “absorve-se
todo na oração e na
vigilância que Jesus
recomendava e que formam uma
espécie de antemural às
ondas de paixões que nos
lançam no abismo do
infortúnio”.
No intuito de obter favores
ou mesmo agradar a Deus ou
aos Bons Espíritos, algumas
pessoas executam
determinadas ações ou se
impõem certas privações a
que chamam de promessa. Ora,
as promessas já tiveram sua
época e já vai distante o
tempo das supersticiosas
imposições da teocracia. Ao
seu reinado sucedeu o
império da inteligência e da
razão, únicos fundamentos
inabaláveis da fé
esclarecida e ativa.
Sacrifícios, mortificações e
promessas são, portanto,
manifestações materiais do
culto externo, praticadas
por pessoas ainda distantes
das verdades espirituais.
Falando sobre a mortificação
e seu mérito, aconselham os
Espíritos superiores:
“Procurai saber a que ela
aproveita”. “Se somente
serve para quem a pratica e
a impede de fazer o bem, é
egoísmo, seja qual for o
pretexto com que entendam de
colori-la. Privar-se a si
mesmo e trabalhar para os
outros, tal a verdadeira
mortificação, segundo a
caridade cristã.” (O
Livro dos Espíritos, 721.)
Debilitar o corpo com
privações inúteis e
macerações sem objetivo,
torturar e martirizar
voluntariamente o corpo
material são atos que,
evidentemente, contrariam a
lei de Deus, porquanto
enfraquecer o veículo
corpóreo sem necessidade é
verdadeiro suicídio.
Sobre o tema sugerimos à
leitora que consulte,
também, as questões 669 a
673 d´O Livro dos
Espíritos, de Allan
Kardec.
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